Crise no Agro: produtores afundam em dívidas e Banco do Brasil corta crédito e aciona a Justiça

Instituição registra queda histórica no lucro, aciona a Justiça contra advogados que induzem a recuperação judicial e expõe crise do agro sem precedentes no campo; O anúncio do Bando do Brasil ocorre em meio à queda de 60% no lucro trimestral

O Banco do Brasil anunciou, nesta sexta-feira (15), medidas duras para enfrentar a crescente crise financeira que atinge o agronegócio brasileiro. A instituição informou que vai restringir a concessão de crédito a produtores rurais e processar escritórios de advocacia que têm orientado clientes a recorrerem à recuperação judicial em vez de buscar negociações diretas. O anúncio ocorre em meio à queda de 60% no lucro trimestral, que despencou para R$ 3,8 bilhões, e à disparada da inadimplência no setor.

O tamanho da crise no agro

Segundo dados da Serasa Experian, somente no primeiro trimestre de 2025 foram registrados 389 pedidos de recuperação judicial no setor agropecuário, alta de 45% em relação ao mesmo período do ano passado. Atualmente, 20 mil clientes do Banco do Brasil ligados ao agro estão inadimplentes há mais de 90 dias, e o dado mais alarmante é que 74% deles nunca haviam atrasado pagamentos antes de 2023.

A inadimplência do agronegócio no banco alcançou 3,49% no segundo trimestre, contra 1,32% há apenas um ano. O impacto concentra-se nas regiões Centro-Oeste e Sul, ligadas principalmente às cadeias de soja, milho e pecuária.

A instituição informou que vai processar escritórios de advocacia que orientam clientes a ingressar com pedidos de recuperação judicial, em vez de tentar renegociação direta com o banco.

Choques climáticos e efeito em cadeia

O colapso financeiro dos produtores é atribuído a uma sequência de choques climáticos recentes: seca severa em 2023 e enchentes históricas em 2024. Muitos agricultores entraram com pedidos de recuperação judicial antes mesmo de tentar renegociar extrajudicialmente suas dívidas com os bancos.

Esse movimento acendeu o alerta na diretoria do Banco do Brasil, que acusa advogados de estimularem o uso abusivo do instrumento jurídico. A instituição já acionou a Advocacia-Geral da União (AGU) e o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para discutir o tema.

Banco do Brasil endurece postura

Durante a coletiva de resultados, a presidente do BB, Tarciana Medeiros, destacou que “nunca houve inadimplência do agro nessa proporção em toda a história da instituição”. Segundo ela, o banco, tradicionalmente conhecido por ser flexível com o setor, “agora está judicializando e executando garantias”.

“É importante que vocês tenham conhecimento da proporção dessa inadimplência e que vocês tenham tranquilidade que essa provisão já está presente no nosso balanço. A gente era conhecido como banco que não protesta, o banco que não cobra a garantia, agora estamos judicializando”, disse.

O balanço mostra que as provisões para créditos de liquidação duvidosa dobraram no segundo trimestre, somando R$ 15,9 bilhões, refletindo principalmente o aumento das perdas no agronegócio.

Apesar do cenário adverso, o BB ainda projeta lucro entre R$ 21 e R$ 25 bilhões em 2025, reforçando a expectativa de que este seja um “ano de ajuste” antes de retomar crescimento.

O que está em jogo

O embate entre produtores endividados, advogados e Banco do Brasil escancara a fragilidade de um dos setores mais estratégicos da economia. A tensão aumenta diante da possibilidade de que novas restrições de crédito comprometam a produção agrícola da safra 2025/26, em um momento em que o Brasil colhe recordes de grãos, mas vê produtores sem condições de arcar com financiamentos passados.

O movimento do Banco do Brasil também pode abrir um precedente para outras instituições financeiras, que enfrentam dificuldades semelhantes com a inadimplência no campo.

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