
Fundada em 1982 por uma família de banqueiros cearenses e vendida em 2020 à Malibu Holding, a Ducoco enfrentou dificuldades crescentes com modelos de crédito onerosos e alto custo financeiro das operações, o que a levou à situação de inadimplência e prejuízos operacionais.
Com uma dívida acumulada de R$ 670 milhões e enfrentando um processo de recuperação judicial desde março de 2025, o Grupo Ducoco — uma das marcas mais tradicionais no mercado brasileiro de água de coco — apresentou um plano drástico aos credores: pagar apenas 10% do valor total devido, com deságio de 90%, em parcelas trimestrais e carência de 24 meses para o início dos pagamentos.
As informações foram divulgadas pela Bloomberg Línea, que teve acesso ao Plano de Recuperação Judicial (PRJ) protocolado pela empresa. O documento detalha as estratégias da Ducoco para evitar a falência e reestruturar suas operações.
Origem da crise no Império do coco
Fundada em 1982 por uma família de banqueiros cearenses e vendida em 2020 à Malibu Holding, a Ducoco enfrentou dificuldades crescentes com modelos de crédito onerosos e alto custo financeiro das operações, o que a levou à situação de inadimplência e prejuízos operacionais. A empresa cita ainda a concorrência da Colômbia, que tem expandido projetos voltados ao mercado norte-americano, e o preço estável da água de coco concentrada, hoje em torno de US$ 1,6/kg, como fatores que agravaram o cenário.
Propostas do plano de recuperação da Ducoco
O plano de recuperação judicial (PRJ), protocolado com 68 páginas, traz alternativas como:
- Pagamento de 10% da dívida total com carência de dois anos e parcelas trimestrais, corrigidas pela TR e com juros de 0,2% ao ano.
- Leilão reverso, no qual credores oferecem maiores deságios para receberem antes.
- Venda ou arrendamento das operações — caso isso ocorra, os credores receberiam à vista, mas com deságio de 80%.
- Prazo mínimo de 36 meses no caso de arrendamento.
- Projeção de retomada do crescimento só em 2027, justificando o longo período de carência.
Quem são os credores
A lista de credores da Ducoco é extensa, com 1.547 créditos, dos quais 696 são trabalhistas. Entre os principais nomes:
- Banco do Brasil (R$ 3,13 milhões)
- Itaú Unibanco (R$ 6,55 milhões)
- Tetra Pak (R$ 6,03 milhões) — fornecedora de embalagens
- Grupo Cartha (R$ 5,7 milhões) — também do setor de alimentos no Ceará
- Okno Capital (R$ 7,03 milhões) e Bio Stars/Solis Investimentos (R$ 5,16 milhões)
- Banco do Nordeste (R$ 2,48 milhões)
- Outros bancos como Bradesco e Daycoval com créditos menores
Caminho ainda indefinido para a Ducoco
A Assembleia Geral de Credores (AGC), que pode aprovar, rejeitar ou modificar o plano, ainda não tem data marcada. A Ducoco também pretende obter um empréstimo DIP, voltado a empresas em recuperação judicial, mas reconhece que há resistência do mercado em conceder crédito nessas condições.
Além do pagamento da dívida principal, o grupo propõe quitar os débitos trabalhistas em 12 meses, com parcelas trimestrais após homologação judicial.
Venda de ativos e impacto regional
A Ducoco também poderá se desfazer de coqueirais localizados no Ceará, especialmente em Itapipoca, para manter receitas e empregos. A medida depende da aprovação do plano.
Com raízes profundas no Nordeste, a empresa tenta evitar o colapso definitivo de um império que, por décadas, liderou o mercado brasileiro de derivados de coco.
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