Crucial para combater a crise climática, Uso da Terra deve centralizar discussões na COP 30, aponta Coalizão Brasil

Nova publicação do movimento de empresas e ONGs destaca que o setor, responsável por até 21% das emissões globais, também concentra principais soluções de mitigação de baixo custo.

O setor de uso da terra foi responsável por até 21% das emissões globais de gases de efeito estufa na última década. Ao mesmo tempo, concentra algumas das soluções mais acessíveis e eficazes para reduzir essas emissões, como frear o desmatamento, restaurar ecossistemas e adotar práticas agropecuárias sustentáveis. Para levar esse debate à COP 30, a Conferência do Clima da ONU, a Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura lança a publicação “Propostas para uma Transição Climática Global para o Setor do Uso da Terra”.

“O Brasil, como país-sede COP 3O, tem a responsabilidade de apresentar soluções concretas nessa agenda. Estamos falando de experiências brasileiras que podem ser replicadas em escala mundial para combater o desmatamento, valorizar a floresta em pé, restaurar ecossistemas e mobilizar financiamento climático”, avalia Carolle Alarcon, gerente executiva da Coalizão Brasil. “A urgência é clara: no ano passado, o aumento da temperatura média global superou 1,5 grau Celsius, um limite estabelecido no Acordo de Paris. É hora de investir em uma nova economia — e essa transição passa por soluções para o uso da terra.”

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O documento destaca que a COP 30 ocorrerá em um ponto de inflexão: eventos extremos cada vez mais frequentes — como secas, enchentes, ondas de calor e incêndios florestais —, comprometem a produção agrícola, agravam a crise hídrica e expõem populações vulneráveis à insegurança alimentar. Dez anos após a assinatura do Acordo de Paris, a implementação da agenda climática tornou-se urgente.

Para Fernando Sampaio, cofacilitador da Coalizão Brasil, a agropecuária brasileira tem um papel decisivo na segurança alimentar e na transição climática global: “já temos tecnologias e práticas sustentáveis consolidadas, como a integração lavoura-pecuária-floresta, plantio direto e o manejo de pastagens, que reduzem emissões e aumentam a produtividade. O desafio agora é escalar essas soluções, com apoio técnico, financiamento e políticas públicas que valorizem quem produz com responsabilidade”, aponta Sampaio, que também é diretor de Sustentabilidade da Abiec. “O Brasil pode ser referência mundial em uma agropecuária de baixo carbono, que alia competitividade, conservação ambiental e segurança alimentar — e a COP 30 é o momento estratégico para mostrar isso ao mundo.”

Na nova publicação, a Coalizão Brasil apresentou dez propostas concretas para o enfrentamento dos desafios climáticos, que exigem investimentos consistentes em inovação, tecnologia e adaptação. Muitas delas já contam com políticas públicas no Brasil, cujos resultados podem inspirar outras nações a adotar iniciativas semelhantes. Entre os exemplos nacionais que podem ganhar escala estão planos para combate ao desmatamento na Amazônia (PPCDAm), de recuperação da vegetação nativa (Planaveg) e de fomento à agricultura de baixo carbono (ABC+).

“É fundamental mobilizar recursos financeiros na velocidade e na magnitude que a emergência climática exige. O Brasil tem projetos maduros e de alto impacto prontos para receber investimentos, mas precisamos de mecanismos que facilitem o acesso ao financiamento climático, especialmente para pequenos e médios produtores”, destaca Karen Oliveira, cofacilitadora da Coalizão Brasil e diretora para Políticas Públicas e Relações Governamentais na The Nature Conservancy (TNC Brasil).

“Isso significa alinhar fundos e políticas públicas para direcionar capital a iniciativas que conciliam produção, conservação e inclusão social. A COP 30 é uma oportunidade de transformar compromissos em fluxos reais de recursos, capazes de acelerar a transição para uma economia de baixo carbono e com boas práticas a partir das Soluções Baseadas na Natureza”.

O documento, lançado em primeira mão na Climate Week de Nova York em setembro, será entregue à presidência da COP 30 e a representantes de diversos ministérios, como Agricultura e Pecuária, Meio Ambiente, Fazenda e Relações Exteriores. As propostas completas podem ser acessadas no site da Coalizão.

As propostas da Coalizão

As medidas descritas pela rede foram divididas nos três eixos da Agenda de Ação da COP 30, divulgada pela presidência da cúpula em junho:

Gestão Sustentável de Florestas, Oceanos e Biodiversidade

Propostas:

  1. Aumentar investimentos para controlar e reverter o desmatamento e a degradação florestal;
  2. Promover a restauração de paisagens e florestas em larga escala;
  3. Incorporar ações integradas de prevenção e combate a incêndios florestais;
  4. Ampliar mecanismos de pagamentos por serviços ambientais;
  5. Fortalecer a rastreabilidade socioambiental das cadeias produtivas.

Transformação da Agricultura e Sistemas Alimentares

Propostas:

  1. Recuperar áreas degradadas e ampliar sistemas agropecuários de baixo carbono e regenerativos;
  2. Implementar sistemas alimentares mais resilientes, adaptados e sustentáveis.

Catalisadores e Aceleradores (Financiamento, Tecnologia e Capacitação)

Propostas:

  1. Definir padrões globais para finanças agrícolas sustentáveis;
  2. Reconhecer a bioeconomia como estratégia global para o desenvolvimento sustentável;
  3. Destinar pelo menos 50% das metas do financiamento climático para adaptação.

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ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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