Cupinzeiros no pasto: É possível eliminar a praga definitivamente?

Estudos agronômicos indicam que altas infestações podem reduzir a taxa de lotação animal em até 30%. Entenda a relação entre acidez do solo e a proliferação de cupins, e veja o protocolo técnico de eliminação.

Para o pecuarista profissional, a visão de cupinzeiros no pasto deve ser interpretada como um sinal vermelho de alerta financeiro e produtivo. Embora muitos produtores ainda encarem o problema apenas como uma questão estética ou de limpeza de área, dados do setor agropecuário revelam que a presença dessas estruturas é um bioindicador clássico de degradação do solo e perda de eficiência produtiva por hectare.

A infestação de cupinzeiros no pasto não compete apenas por espaço físico; ela é um sintoma de um ecossistema desequilibrado que exige intervenção imediata, sob pena de comprometer as metas de arrobas por hectare da safra.

O impacto econômico e agronômico segundo pesquisas

Pesquisas realizadas por instituições como a Embrapa Gado de Corte apontam que a tolerância aos cupins deve ser baixa. Em infestações severas, estima-se que os montículos de terra possam ocupar de 10% a 20% da área útil da pastagem. Na prática, isso significa que em uma fazenda de 100 hectares, até 20 hectares podem estar improdutivos apenas devido à barreira física imposta pelos cupins.

Além da perda de área, os cupinzeiros no pasto trazem prejuízos operacionais documentados:

  • Risco sanitário: Servem de abrigo para animais peçonhentos (cobras, escorpiões) que colocam em risco a tropa e os colaboradores.
  • Danos ao maquinário: Quebras frequentes em lâminas de roçadeiras e tratores.
  • Desvalorização da terra: Propriedades infestadas sofrem depreciação de mercado imobiliário rural.

A ciência por trás da praga: Bioindicadores de acidez

É fundamental entender que o cupim não surge do nada. A espécie mais comum, o Cornitermes cumulans (cupim de montículo), tem preferência biológica por solos ácidos e pobres em nutrientes.

Segundo especialistas em solos e recuperação de pastagens, a alta incidência de cupinzeiros no pasto ocorre majoritariamente em solos com pH entre 4.0 e 5.5, onde a fertilidade foi esgotada e não houve reposição de nutrientes (adubação e calagem). Portanto, o cupim é a “febre” que indica a “infecção” do solo pela acidez e falta de cálcio/magnésio.

Como eliminar cupinzeiros no pasto definitivamente

pastagem com cupim e vaca de leite pastando
Foto: Simone Marinho

Para um controle efetivo, é necessário abandonar o empirismo e adotar métodos técnicos. A simples destruição mecânica (chutar ou passar a lâmina) é contraindicada, pois não mata a rainha e pode dispersar a colônia, criando novos focos.

O método mais eficaz recomendado por engenheiros agrônomos é o químico localizado, focado em atingir a câmara celulósica (onde vive a rainha).

Passo a passo da aplicação:

  1. Sondagem da Câmara: Utilize uma barra de ferro (vergalhão) para perfurar o topo do cupinzeiro verticalmente. Aprofunde cerca de 15cm a 20cm até sentir um “vazio” ou menor resistência. Isso indica que a câmara central foi atingida.
  2. Aplicação via Inseticida Líquido: Com auxílio de funil e mangueira, injete a calda inseticida diretamente no canal aberto. A vantagem é a rápida percolação do veneno.
  3. Aplicação via Pastilha (Fosfeto de Alumínio): Introduza a pastilha no canal e, obrigatoriamente, vede a entrada com barro úmido. Isso é crucial: o gás liberado é letal, mas precisa ficar confinado para matar a colônia por asfixia química.
  4. Período de Carência: Aguarde entre 10 a 15 dias. Somente após a morte total da colônia (o cupinzeiro seca e para de ser reparado), realize a remoção mecânica e o nivelamento do solo.

O Manejo integrado (MIP)

Eliminar os cupinzeiros no pasto atuais é apenas metade da batalha. Para evitar a reinfestação, o produtor deve tratar a causa raiz: o solo.

A estratégia definitiva envolve a Reforma de Pastagem. Ao realizar a análise de solo e proceder com a Calagem (aplicação de calcário), o produtor eleva o pH do solo. Com o solo corrigido e a pastagem vigorosa (fechando bem o solo e reduzindo áreas expostas), o ambiente se torna hostil para a instalação de novas colônias de cupins.

Monitoramento de pragas secundárias

Onde há pasto degradado e cupins, frequentemente encontram-se outras pragas que exigem monitoramento constante:

  • Cigarrinha-da-pastagem: Ataca a base da planta, secando o capim. Controle ideal com fungos entomopatogênicos (Metarhizium) ou químico na fase de ninfas.
  • Formigas Cortadeiras (Saúvas e Quem-quem): Competem diretamente pela forragem. O controle deve ser feito com iscas granuladas específicas, aplicadas ao lado dos carreiros (nunca dentro do olheiro), preferencialmente em dias secos.

O pasto limpo é sinônimo de lucro

Em última análise, o combate aos cupinzeiros no pasto transcende a simples “limpeza” da propriedade. Trata-se de uma decisão estratégica de recuperação do patrimônio produtivo. Encarar o cupim apenas como um inseto é um erro; ele deve ser visto como um sintoma de ineficiência no manejo da fertilidade do solo.

Ao adotar o protocolo de eliminação correta e investir na correção da acidez do solo, o pecuarista não apenas se livra da praga, mas “reformata” sua fábrica de carne ou leite. Pasto livre de competidores significa maior produção de matéria seca, maior taxa de lotação e, consequentemente, uma arroba produzida com menor custo.

Escrito por Compre Rural

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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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