Cutelaria: transformando aço em canivete

Atividade que surgiu no início da civilização pode ser artesanal ou em larga escala e já virou até curso em universidade no Brasil. Veja como é feito seu canivete!

Quem vive e trabalha no campo sabe da importância de um canivete, de uma faca amolada ou de um facão de qualidade. A arte de fabricar essas ferramentas é a chamada cutelaria, uma tradição milenar, que tem adeptos por todo o Brasil.

Forjadas a altas temperaturas e moldadas pelas pancadas de martelo e por olhares precisos, aos poucos, as facas artesanais, feitas de aço, ganham forma. A arte da cutelaria é uma mistura de força e delicadeza.

“A arte começa em uma ideia que você teve. Você passa para o papel e do papel vai para as lâminas”, conta o cuteleiro Tadeu Aguiar.

Tadeu e os colegas artistas Jorge Rocha e Milton Hoffmann são cuteleiros no Distrito Federal. Brasília tem, desde 2015, o primeiro e único curso de cutelaria em uma universidade brasileira, um dos mais disputados.

“A cutelaria é uma arte da fabricação de ferramentas de corte. O cuteleiro é um ferreiro especializado na produção de ferramentas de corte”, define Milton.

Jorge cria e doma cavalos, e ser ferreiro se tornou uma necessidade ao longo da vida. “Aprendi, fui correr atrás, aprender um pouco de solda. Justamente para fazer um pouquinho de tudo no rancho.”

No sítio, Jorge já fez portões, tranca de porteiras e cercas. As ferraduras usadas, que iriam para o lixo, viram suporte para chapéu e botas. “Gera economia, né? Eu evito gastar com mão de obra. E essas ferraduras, esse material que eu faço que é reciclado, eu vendo, ajuda nas despesas.”

cutelaria
Conheça a cutelaria, a arte milenar de produzir ferramentas de corte. Foto Divulgação.

De ferreiro para cuteleiro foi um pulo. “É uma terapia. Trabalhar com o cavalo já é uma terapia e a cutelaria ajuda mais.”

Arte da reciclagem

A arte da cutelaria está ligada à reciclagem. Disco de arado usado, um pedaço de feixe de molas de caminhão e até trilho de trem, que seriam jogados no lixo, podem se tornar belas facas.

O aço é grande protagonista nessa arte, mistura de ferro com carbono. Na cutelaria, o aço ideal deve ter entre 0,6% e 1,2% de carbono. O metal precisa atingir uma temperatura entre 700°C a 1.000 °C.

Para Tadeu, a cutelaria é uma herança da família, que mora na Zona Sul de Brasília. Hoje, ele vende facas artesanais para o Brasil inteiro, 80% pela internet. “Eu sempre gostei de faca e, a partir de um certo momento da minha vida, vi que era algo lucrativo para mim e decidi investir nisso”.

Canivete
Foto Divulgação.

Além do corte afiado, outro cuidado importante da cutelaria é com a bainha. “Eu costumo dizer que a bainha para a faca é como o vestido para a noiva. Eu nunca vi uma noiva entrar em casamento de calça jeans e blusa regata”, diz Tadeu.

Cutelaria industrial

Em Amparo, no interior de SP, surgiu há 50 anos uma das mais tradicionais cutelarias do país. A especialidade deles sempre foi o canivete, uma importante ferramenta para quem mora no campo.

Da fábrica, que trabalha com chapas de aço, saem todos os anos cerca de 1 milhão de canivetes. De quatro modelos iniciais, hoje a família tem o registro de mais de 400 tipos de lâminas.

A produção começa com um rascunho no papel. Depois, os traços ganham mais precisão, cálculos e engrenagens no programa de computador.

Espada samurai

É difícil mensurar quantos cuteleiros existem hoje no Brasil. Há pouco tempo, a Sociedade Brasileira dos Cuteleiros tinha 115 associados no país todo, mas Milton Hoffmann calcula que já há perto de 200 em Brasília.

Historiadores dizem que essa arte surgiu no início da civilização. Os primeiros objetos cortantes foram fabricados com estanho, cobre e o ferro. Com o passar dos séculos e o desenvolvimento, eles ganharam novas composições e ficaram mais resistentes.

Um dos itens mais tradicionais da cutelaria são as espadas samurais. Silvio Kimura é especialista nessa arma japonesa e conta por que elas são tão cobiçadas.

“Se a gente levar em consideração que elas são de um período entre 1.200 e 1.600, vê que elas sobreviveram à guerra desse período. E levava muito tempo para fabricar uma espada, então não era qualquer samurai que conseguia ter uma dessa qualidade. As que sobreviveram até hoje são cobiçadas não só pelo fato de terem a grande qualidade, como pelo fato de serem raras também.”

Mas é uma paixão para poucos. Kimura tem uma avaliada em R$ 40 mil, por exemplo.

Fonte: G1

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