Dá para engordar boi só com milho reidratado, sem utilizar volumoso? Especialista explica

Apesar de ser energético e prático, o milho reidratado não garante sozinho o bom desempenho no confinamento; saúde ruminal exige mais que grãos; Entenda os riscos e o que dizem os especialistas

Com a busca por maior eficiência e simplicidade no confinamento, tem crescido o interesse de produtores por sistemas alimentares baseados exclusivamente em concentrados, como o milho reidratado, deixando de lado o uso de volumoso na dieta. Mas será que é possível engordar boi apenas com milho reidratado, sem comprometer o desempenho e a saúde do animal?

A resposta, segundo especialistas e experiência de campo, é clara: não dá para abrir mão da fibra sem consequências.

“O milho reidratado é sim uma excelente fonte de energia, mas ele não substitui a necessidade de fibra efetiva para o rúmen funcionar bem”, explica Thiago Pereira, zootecnista e diretor de conteúdo do portal Compre Rural. “Confinar sem volumoso pode parecer vantajoso no papel, mas na prática o risco é alto.”

O que é o milho reidratado?

O milho reidratado é o grão seco moído e umedecido com água, normalmente por um período de 12 a 24 horas antes de ser ensilado ou servido diretamente no cocho. Esse processo melhora a digestibilidade do amido, aumentando o aproveitamento energético da dieta.

É uma técnica consolidada, principalmente em sistemas que buscam maior ganho de peso diário e eficiência alimentar. No entanto, seu uso deve ser feito dentro de um contexto nutricional equilibrado, e jamais como dieta única.

Fibra: o ingrediente invisível, mas indispensável

Mesmo com toda a energia fornecida pelo milho, os bovinos confinados não conseguem manter a saúde ruminal sem fibra física efetiva. Isso porque o rúmen, compartimento do estômago dos ruminantes, depende da mastigação e da produção de saliva estimulada pelo consumo de fibras para manter o pH equilibrado e evitar distúrbios digestivos.

“O que segura o pH do rúmen está diretamente ligado à fibra. Sem ela, o animal pode desenvolver acidose ruminal, laminites, queda na imunidade e até perder desempenho produtivo”, alerta Thiago.

Ele reforça que a fibra pode vir de diversas fontes: silagem, feno, bagaço de cana, palha de milho ou mesmo caroço de algodão. O importante é que ela esteja presente na proporção adequada, geralmente entre 10% e 15% da matéria seca total da dieta.

O perigo do “sem volumoso”

A ideia de eliminar o volumoso do cocho pode parecer tentadora, especialmente diante da alta nos preços da silagem de milho e da mão de obra envolvida no trato. Mas, segundo o especialista, isso pode comprometer todo o resultado do confinamento.

“Já vi muito produtor empolgado com essa ideia de ‘confinar só com milho’, mas no final ele perde mais do que ganha. Os animais reduzem consumo, travam ganho de peso e o custo por arroba sobe. É economia burra”, resume Thiago.

O que deve ter uma dieta completa para confinamento?

Além do milho reidratado e de uma fonte de fibra efetiva, a dieta ideal para confinamento deve conter:

  • Proteína bruta adequada: essencial para o crescimento muscular; pode vir de farelo de soja, caroço de algodão, ureia, entre outros.
  • Núcleo mineral e vitamínico: cálcio, fósforo, zinco, cromo, vitamina A e E, entre outros, são fundamentais para a imunidade e metabolismo.
  • Aditivos zootécnicos: monensina, virginiamicina ou leveduras para melhorar o desempenho e controlar fermentações ruminais.
  • Água limpa e abundante: muitas vezes negligenciada, é essencial para o metabolismo e consumo de matéria seca.

Estratégias viáveis: menos volumoso, mas com segurança

É possível, sim, reduzir o uso de volumoso em sistemas conhecidos como “confinamento de alto grão” ou “semi-volumoso”, onde o concentrado representa até 90% da dieta. Nesses casos, a formulação precisa ser ainda mais técnica, utilizando aditivos tamponantes e fontes de fibra mais digestíveis, como casca de soja ou polpa cítrica.

“A chave é entender que não se trata de cortar o volumoso, mas de ajustar a dieta para que o animal continue performando sem colocar sua saúde em risco”, afirma Thiago.

O milho reidratado é um ingrediente estratégico dentro da nutrição de confinamento, mas não é suficiente por si só. Cortar o volumoso sem substituições adequadas pode comprometer a eficiência alimentar, aumentar os custos e trazer sérios problemas sanitários.

“Nutrição não é milagre nem aposta. É ciência aplicada. Cada animal que entra no cocho é um investimento, e para ele dar retorno, precisa de uma dieta completa”, finaliza Thiago Pereira.

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