Defensivos agrícolas: a verdade científica que desmonta os maiores mitos do agro

Tema central de debates entre ambientalistas e produtores, o uso de defensivos agrícolas ainda é cercado de desinformação; especialistas explicam como a tecnologia e o manejo responsável podem garantir produtividade e segurança alimentar.

O uso de defensivos agrícolas, popularmente chamados de agrotóxicos, é um dos temas mais debatidos quando se fala em agronegócio e sustentabilidade. De um lado, há quem os considere indispensáveis para a produção de alimentos em larga escala e para a segurança alimentar mundial; de outro, os que os veem como uma ameaça à saúde humana e ao meio ambiente. O fato é que, entre mitos e verdades, o Brasil tem avançado em tecnologia, controle e rastreabilidade no uso desses produtos — e muito do que circula na opinião pública carece de contexto.

Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), o agronegócio é responsável por um superávit de US$ 1,77 trilhão entre 2000 e 2024. Esse resultado só foi possível porque o país consegue produzir duas safras por ano — algo viável graças ao manejo químico e biotecnológico das lavouras, que permite controlar pragas e aproveitar melhor o solo e o clima tropical.

Mas o debate vai além da economia. O uso de defensivos agrícolas é frequentemente cercado de informações distorcidas ou incompletas, muitas vezes reproduzidas sem base científica. Confira abaixo o que os dados e as pesquisas mais recentes apontam sobre os principais mitos que envolvem o tema.

“Agrotóxicos aumentam mortes por intoxicação”

Dados do DataSUS mostram que, entre 2015 e 2024, menos de 1% dos casos de intoxicação registrados no país tiveram relação com defensivos agrícolas utilizados corretamente. As principais causas de intoxicação no Brasil são medicamentos e produtos de uso doméstico. Quando usados conforme recomendações técnicas e com equipamentos adequados, os defensivos não representam risco direto à saúde humana.

“O agronegócio brasileiro desrespeita o meio ambiente”

O Brasil é referência mundial em logística reversa e destinação correta de embalagens de defensivos. O Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (InpEV) registra que 95% das embalagens são devolvidas e recicladas, o que coloca o país à frente de nações como Estados Unidos (33%) e França (79%). Desde 2002, mais de 834 mil toneladas de resíduos foram recolhidas e reaproveitadas, evitando a emissão de 1 milhão de toneladas de CO₂.

“Agrotóxicos reduzem o valor nutricional dos alimentos”

Revisões científicas publicadas em periódicos como o American Journal of Clinical Nutrition e o Annals of Internal Medicine mostram que não há diferença significativa de nutrientes entre alimentos produzidos com ou sem defensivos agrícolas. As variações detectadas estão mais relacionadas ao tipo de solo, ponto de colheita e fertilização do que ao uso de agroquímicos.

“O Brasil é o país que mais usa agrotóxicos no mundo”

Em volume absoluto, o Brasil é um dos maiores consumidores de defensivos, mas quando se considera o uso por hectare cultivado, o país ocupa apenas a 27ª posição mundial, segundo a FAO. Isso ocorre porque a agricultura brasileira é tropical e altamente intensiva, com duas safras por ano, o que naturalmente aumenta o volume total aplicado, sem significar maior risco ambiental.

“Cada brasileiro consome 7,6 litros de agrotóxicos por ano”

Esse número, frequentemente repetido, não tem base científica. Ele resulta da divisão do volume total de defensivos vendidos pelo número de habitantes, sem considerar que grande parte é usada em culturas não alimentares, como algodão, eucalipto e cana-de-açúcar para etanol. Além disso, boa parte da produção agrícola é exportada, o que invalida a ideia de consumo direto interno.

“Agrotóxicos causam câncer na população”

O câncer é uma doença multifatorial, e embora alguns compostos químicos possam ter potencial carcinogênico, isso não significa que o uso regulamentado cause câncer. Muitos ingredientes ativos antigos já foram banidos pela Anvisa devido à alta toxicidade. Hoje, a maioria dos produtos aprovados possui baixo impacto e rápida degradação no ambiente, especialmente em regiões tropicais.

“Os alimentos estão contaminados com resíduos perigosos”

Relatórios do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA), da Anvisa, mostram que mais de 99% das amostras analisadas estão dentro dos limites seguros de ingestão. Nenhum caso de risco crônico foi identificado. A higienização com água corrente e hipoclorito de sódio é suficiente para eliminar resíduos superficiais.

“Produção orgânica é mais segura e sustentável”

A produção orgânica reduz o uso de químicos sintéticos, mas não elimina riscos sanitários ou ambientais. Pesquisas publicadas no Brazilian Journal of Microbiology mostraram níveis semelhantes de contaminação por salmonela e enterobactérias em alimentos orgânicos e convencionais. Além disso, o uso intensivo de compostos orgânicos pode alterar o equilíbrio microbiológico do solo, exigindo manejo técnico adequado.

“Agrotóxicos contaminam a água por tempo indefinido”

Estudos realizados em diferentes regiões agrícolas brasileiras apontam que as concentrações de defensivos em rios e bacias estão muito abaixo dos limites de risco, chegando a ser milhares de vezes inferiores ao limite seguro de ingestão. A maioria dos compostos tem degradação rápida e não se acumula de forma permanente nos recursos hídricos.

Os defensivos agrícolas estão entre as tecnologias mais estudadas e regulamentadas do mundo. No entanto, a falta de comunicação entre o campo e a sociedade ainda gera distorções na percepção pública. Dados de fontes oficiais, como FAO, Anvisa, InpEV e Ministério da Agricultura, mostram que o Brasil avança em sustentabilidade e segurança no uso dessas substâncias, mas enfrenta o desafio de traduzir isso em linguagem acessível.

No fim, a verdade está no equilíbrio: não existe produção moderna sem ciência, nem sustentabilidade sem responsabilidade. O debate sobre os agrotóxicos não deve ser pautado por ideologias, e sim por informação de qualidade e base científica, o verdadeiro antídoto contra os mitos que ainda cercam o agro brasileiro.

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