
Crescimento da renda em países emergentes pressiona por abertura de mercados, como o da Índia, e pode favorecer o Brasil, líder em eficiência na produção de carnes, abrindo espaço para país ampliar exportações de proteína animal para atender a demanda por carne
A demanda global por carnes vem crescendo de forma acelerada, acompanhando o aumento da renda e a urbanização em países emergentes. Esse movimento, segundo especialistas, pode se tornar um dos principais fatores para a derrubada de barreiras protecionistas no comércio internacional. Foi o que destacou Antônio Mário Penz Junior, diretor global de Contas Estratégicas da Cargill Nutrição Animal, em entrevista concedida à Reuters.
Para Penz, o caso da Índia é emblemático. O país mantém tarifas proibitivas que restringem a entrada de carne importada, como a taxação de 30% sobre frango inteiro e 100% sobre cortes de aves, de acordo com dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Esses impostos inviabilizam a presença brasileira no mercado, apesar do potencial de consumo.
Embora cerca de 60% da população indiana seja vegetariana e parte tenha restrições religiosas a proteínas como a carne bovina e suína, o consumo de aves já apresenta grandes oportunidades. Atualmente, a Índia consome cerca de 2 kg de carne de frango por habitante ao ano, contra 46 kg no Brasil, o que demonstra um espaço gigantesco para expansão.
“Eu não tenho dúvida de que esse processo vai acontecer, porque já vimos isso na China há 30 anos. Hoje, os chineses são grandes importadores de alimentos, incluindo carnes e grãos do Brasil”, afirmou o executivo.
O exemplo chinês
Penz lembrou que a China passou por transformação semelhante: com a urbanização e o crescimento econômico, o país se tornou dependente de importações para suprir sua demanda interna. Atualmente, mais de 50% da população chinesa vive em áreas urbanas, representando cerca de três vezes a população do Brasil, o que torna impossível o abastecimento apenas com produção doméstica.
Brasil como protagonista
O Brasil se beneficia de baixo custo de produção, resultado da abundância de insumos como soja e milho, fundamentais para a nutrição animal. Essa vantagem competitiva garante ao país posição de destaque entre os maiores exportadores de proteína do mundo, conseguindo suprir o aumento da demanda por carne.
“A população do mundo cresce mais ou menos 2% ao ano. A renda per capita aumenta. Então, naturalmente, quem produz carne barata terá uma participação neste mercado internacional de carnes. E o Brasil é extremamente eficiente”, ressaltou Penz.
Demanda por carne: Projeções para o futuro
De acordo com estimativas da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), a tendência é clara: quando a renda per capita sobe, o primeiro aumento de gasto das famílias é com alimentos, especialmente proteínas de origem animal.
O executivo da Cargill destacou que, até 2050, o cenário para o Brasil na produção de carnes pode ser considerado um verdadeiro “oceano azul”, expressão usada para designar mercados amplos e ainda pouco explorados.
Assim, a crescente demanda global, somada à pressão de consumidores urbanos e ao exemplo chinês, reforça a expectativa de que barreiras protecionistas cairão gradualmente. Para o Brasil, essa conjuntura abre espaço para expandir sua presença em mercados estratégicos da Ásia e da África, consolidando-se como fornecedor global de proteína animal.
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