
Mais nutritiva e barata que o bife, a língua de boi segue subestimada por preconceitos e falta de informação
Na rotina do brasileiro, o bife de boi ocupa um lugar quase intocável. É o corte que se tornou sinônimo de carne vermelha, símbolo de tradição e presença obrigatória no prato. Mas, em meio à variedade de cortes bovinos disponíveis, há um tesouro pouco aproveitado: a língua de boi.
Apesar do preço acessível e do seu alto valor nutricional, ela ainda enfrenta barreiras culturais, sendo injustamente vista como carne de segunda. O curioso é que, do ponto de vista técnico, essa percepção não encontra respaldo: a língua pode superar bifes tradicionais em densidade nutricional, entregando mais proteínas de qualidade, ferro e vitaminas essenciais.
Por que a língua de boi é deixada de lado?
O consumo da língua bovina esbarra principalmente em preconceitos e no desconhecimento sobre seu preparo. Enquanto regiões com tradição culinária a utilizam em ensopados, caldos e até pratos gourmet, em boa parte do país ela permanece subestimada.
Esse afastamento tem custo: o brasileiro paga caro por bifes considerados nobres, mas ignora um corte mais barato, suculento e rico em nutrientes.

Valor nutricional: proteínas de alto nível
A língua de boi é composta por cerca de 70% de água, o que explica sua maciez, mas o destaque real está na proteína.
- Proteínas completas: reúne todos os aminoácidos essenciais, fundamentais para manutenção muscular e reparo de tecidos.
- Gorduras equilibradas: combina frações saturadas e monoinsaturadas, perfil semelhante a cortes bovinos de prestígio.
- Energia limpa: não contém carboidratos, sendo fonte de energia praticamente exclusiva de proteínas e gorduras.
Relatos técnicos a classificam como proteína de alto valor biológico, colocando-a no mesmo patamar de cortes premium.
Vitaminas e minerais estratégicos
O diferencial da língua também está nos micronutrientes:
- Minerais: ferro, zinco, fósforo, magnésio, potássio e selênio, aliados ao transporte de oxigênio, imunidade e equilíbrio metabólico.
- Vitaminas: destaque para o complexo B (B12, B1, B2, B3 e B6), essenciais para energia e função neurológica.
- Traços de vitamina A, D e E completam o pacote.
Em resumo: um alimento que pode enriquecer a dieta de forma prática e acessível.
Estudos científicos reforçam o potencial
Uma publicação do Journal of Food Composition and Analysis foi categórica:
“A língua de boi tem potencial para se tornar um produto de alta qualidade e melhorar o consumo de proteínas, gorduras e nutrientes.”
Ainda que faltem pesquisas comparativas mais amplas, a evidência atual já coloca a língua em posição de destaque quando o assunto é densidade nutricional.
O preparo faz diferença

A forma de cozinhar influencia diretamente o resultado nutricional:
- Métodos úmidos (cozida em caldo, com legumes e ervas) preservam proteínas e reduzem adição de gordura.
- Frituras e molhos pesados, por outro lado, aumentam calorias e colesterol.
Ou seja, a língua pode ser um corte leve e saudável, desde que preparada com equilíbrio.
Preço acessível, consumo restrito
Mesmo mais barata que cortes nobres, a língua de boi segue limitada a nichos de consumo. O motivo não está na qualidade, mas no preconceito histórico e na falta de conhecimento sobre preparo da carne mais barata que o bife.
Em regiões onde foi incorporada à tradição culinária, ela é vista como um corte versátil, usado tanto em pratos populares quanto sofisticados. Falta, porém, que essa valorização se espalhe pelo país.
Se a língua bovina reúne preço competitivo, densidade nutricional e potencial gastronômico, não faz sentido que continue relegada ao segundo plano. A barreira que resta não está no campo nem no açougue: está no imaginário do consumidor.
Produtores podem enxergar nela uma oportunidade de diversificação, agregando valor a um corte ainda pouco explorado. Já os consumidores ganham uma carne saudável, saborosa e mais barata que o bife.
Escrito por Compre Rural
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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