Execução brutal no Paraná: corpos de quatro homens desaparecidos são achados em vala após emboscada por dívida rural; entenda o caso completo
A Polícia Civil do Paraná confirmou nesta sexta-feira (19) a localização dos corpos dos quatro homens que estavam desaparecidos após uma viagem do interior de São Paulo para Icaraíma, que fica na região noroeste do Paraná para cobrar uma dívida. As vítimas foram identificadas como Robishley Hirnani de Oliveira, Rafael Juliano Marascalchi, Diego Henrique Afonso e Alencar Gonçalves de Souza. 
Os corpos foram encontrados cobertos por plantas, a cerca de 500 metros do local onde a caminhonete das vítimas foi achada em 12 de setembro, as vítimas foram encontradas sob galhos e vegetação, e o reconhecimento foi possível pelas roupas. O veículo estava escondido em um bunker improvisado e com marcas de sangue.
Enterrados em uma vala profunda, um em cima do outro, os corpos foram retirados após quatro horas de trabalho das forças policiais. O resgate começou por volta das 23h de quinta-feira (18), em uma área de solo argiloso que dificultou a operação. Há marcas de tiro no rosto e no abdômen, o que indica sinais de execução. A perícia no IML (Instituto Médico Legal) vai confirmar se os tiros foram à roupa.

O local ficava a cerca de nove quilômetros de uma propriedade que pode ter ligação com o caso. As vítimas e o veículo só foram encontrados por conta de uma carta anônima que o pai de Alencar recebeu, indicando onde o veículo poderia estar. Um informante também colaborou com a localização da picape e dos corpos.
“Com apoio da PCPR de Umuarama e da Força Nacional viemos para este local onde a Toro foi encontrada, e com o maquinário da prefeitura já começamos as escavações, olhando todos os pontos possíveis que haviam vestígios de alguém ter sido enterrado lá. Esse serviço durou o dia inteiro e se estendendo pela noite também”, disse o delegado do caso.
Suspeitos estão foragidos

O pai e o filho Antonio Buscariollo, de 66 anos, e Paulo Ricardo Costa Buscariollo, de 22, são os principais suspeitos do crime e estão foragidos. Eles foram levados à delegacia pela polícia no dia 6 de agosto, mas, após serem liberados, desapareceram. A polícia acredita que eles prepararam uma emboscada para as vítimas. As investigações se mantém em sigilo para identificar todos os envolvidos no crime.
Cobrança de dívida e desaparecimento
Os quatro homens estavam desaparecidos na cidade de Icaraíma, desde o dia 5 de agosto. Alencar Gonçalves de Souza, Robishley Hirnani de Oliveira, Rafael Juliano Marascalchi e Diego Henrique Afonso, não enviaram mais notícias após irem até uma chácara para cobrar uma dívida de R$ 250 mil.
Diego saiu de Olímpia, no interior do estado de São Paulo, junto aos amigos Rafael e Robishley, moradores de São José do Rio Preto (SP), para tentar receber o valor referentes à negociação de uma propriedade rural.
O grupo viajou no dia 4 de agosto e chegou à cidade paranaense no fim da tarde. Lá, eles teriam se encontrado com Alencar. Ainda no mesmo dia, teriam ido ao distrito de Vila Rica do Ivaí para tentar receber o valor combinado e decidiram retornar no dia seguinte.
No dia 5 de agosto, os quatro foram registrados por câmeras de segurança em uma panificadora de Icaraíma por volta das 10h. Por volta das 12h, eles deixaram de responder mensagens de familiares. Na quarta-feira (6), a esposa de Robishley comunicou o desaparecimento à polícia de São Paulo.
Dívida era de um negócio desfeito por Alencar
As informações divulgadas desde o desaparecimentos dos quatro homens davam conta de que eles cobravam um dívida por uma propriedade rural vendida pelo Alencar. Mas a verdade, apurada pelo jornal OBemdito, de Umuarama, é de que o negócio envolvia um sítio de cinco alqueires, pelo valor de R$ 750 mil. Alencar pagou R$ 255 mil à vista e financiaria o restante por meio de empréstimo bancário. Alencar Gonçalves de Souza não vendeu, mas comprou a propriedade rural de Antonio Buscariollo, no distrito de Vila Rica do Ivaí, em Icaraíma.
O negócio foi fechado em setembro ou outubro de 2023. O objetivo do icaraimense, reconhecido como muito trabalhador, era abandonar os arrendamentos de terras. O financiamento, no entanto, foi negado. Tido como honesto, assim como sua família, Alencar precisou devolver a propriedade, e as partes passaram a discutir os termos do distrato. Depois de várias conversas, chegaram a um acordo: Antonio devolveria os R$ 255 mil em dez parcelas de R$ 25 mil.
Como compensação pelo tempo de uso do sítio, Alencar abriria mão das benfeitorias feitas, como reforma de pastagens, instalação de cercas, porteiras e abertura de carreadores, e também pelo uso do lugar para a criação de gado.
As parcelas foram formalizadas em notas promissórias emitidas em nome de Carlos Eduardo Candido Buscariollo, filho de Antonio e, pelo que consta, residente no interior paulista. Foi a partir do descumprimento desse acordo que começou a escalada de conflitos.
Com o atraso nos pagamentos, Alencar passou a cobrar Antonio com frequência. Para tentar recuperar o valor, recebeu a indicação de um cobrador conhecido neste tipo de situação: Diego Henrique Afonso, de Olímpia (SP). Alencar e Diego fecharam o negócio e combinaram um percentual no caso de sucesso da cobrança, que seria de 10% a 15% em cima dos R$ 255 mil, algo pequeno diante do histórico de operações do cobrador.
Diego então chamou os amigos da cidade vizinha de São José do Rio Preto, Rafael Juliano Marascalchi e Robishley Hirnani de Oliveira, ambos experientes em cobranças, para acompanhá-lo até o Paraná.
A investigação aponta que Antonio chegou a mostrar uma casa em Icaraíma como forma de quitar a dívida, mas Alencar não aceitou. O suspeito teria, então, marcado uma nova reunião com Alencar e os cobradores na manhã de terça-feira, 5 de agosto. O encontro seria em outra propriedade, de menor porte, supostamente para encerrar a pendência.
Foi nesse local que a polícia encontrou indícios de um tiroteio intenso: cápsulas de cinco calibres diferentes, inclusive fuzil e pistola .45, espalhadas pelo chão e marcas de disparos em árvores. A principal linha de investigação é que os quatro homens tenham sido assassinados ali, em plena luz do dia, entre 11h30 e 13h15.
O caso, que começou como um negócio rural de médio valor, terminou em um dos episódios mais violentos e misteriosos já registrados na região noroeste do Paraná, com repercussão nacional.
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