Do tamanho de gatos? Esses são os primeiros cavalos e que existiram há 56 milhões de anos

Estudo revela que o Sifrhippus, o primeiro cavalo conhecido, adaptou-se ao aquecimento global pré-histórico encolhendo de tamanho; pesquisa lança luz sobre possíveis efeitos das mudanças climáticas atuais na fauna.

Há cerca de 56 milhões de anos, durante um dos períodos mais quentes da história do planeta, pequenos cavalos do tamanho de um gato doméstico vagavam pelas densas florestas da América do Norte. Conhecidos como Sifrhippus, esses equídeos ancestrais se adaptaram às intensas mudanças climáticas da época reduzindo drasticamente seu tamanho corporal, um fenômeno que os cientistas agora acreditam ser um indicativo de como espécies modernas podem reagir às alterações climáticas do presente e do futuro.

O estudo, publicado na revista Science, revela que os Sifrhippus viveram durante o chamado Máximo Térmico do Paleoceno-Eoceno (PETM), um evento climático extremo que durou cerca de 175 mil anos e elevou a temperatura global média em aproximadamente 10 °F (5,5 °C). Nesse período, a temperatura da superfície do mar no Ártico chegou a 23 °C, semelhante ao que se encontra hoje em águas tropicais.

Esse aumento de temperatura foi impulsionado por altas concentrações de carbono e metano na atmosfera, provavelmente liberadas por erupções vulcânicas de grande escala. Em resposta, várias espécies de mamíferos se adaptaram: alguns encolheram, outros desapareceram.

Segundo os pesquisadores, liderados por Jonathan Bloch, do Museu de História Natural da Flórida, e Ross Secord, da Universidade de Nebraska-Lincoln, fósseis de dentes encontrados em Wyoming revelaram que o Sifrhippus sofreu uma redução corporal de quase 30% nos primeiros 130 mil anos do PETM, alcançando um peso médio de quatro quilos, o equivalente ao de um gato doméstico.

O modelo de um cavalo original está exposto no Museu do Cavalo (Foto de Sina Schuldt/picture alliance via Getty Images)

Posteriormente, nos 45 mil anos seguintes, os animais voltaram a crescer, chegando a cerca de sete quilos, conforme o clima se estabilizou.

A conclusão dos cientistas é que essa variação não foi aleatória: “O que estamos observando é seleção natural e evolução, diretamente impulsionadas pelas mudanças de temperatura”, explicou Bloch.

A descoberta fornece insights relevantes sobre a resposta adaptativa dos animais ao aquecimento global. Para Secord, já existem sinais modernos dessa tendência: “Algumas aves já estão apresentando diminuição de tamanho corporal em comparação a períodos mais frios”, apontou.

Contudo, os pesquisadores alertam que há uma diferença crítica na escala temporal. Enquanto no PETM o aquecimento ocorreu gradualmente ao longo de milhares de anos, hoje as mudanças são muito mais rápidas. “Aquecimentos de 4 °C estão sendo previstos para os próximos cem anos. Será que os animais conseguirão adaptar o corpo a esse ritmo?”, questiona Secord.

Sifrhippus foi um dos primeiros cavalos a caminhar pelas florestas da América do Norte. Foto: Divulgação

A importância do Sifrhippus vai além da curiosidade paleontológica. Ele se torna agora um modelo biológico para entender como os organismos reagem fisicamente a mudanças ambientais extremas. A redução de tamanho corporal pode representar uma estratégia evolutiva de sobrevivência diante de recursos escassos e ambientes hostis.

Assim, a história desse pequeno cavalo ancestral ajuda a compor o quebra-cabeça da vida na Terra e fornece pistas sobre como a biodiversidade pode responder – ou não – à crise climática atual. Como conclui Bloch: “A evolução tem suas estratégias, mas ela precisa de tempo. E esse é justamente o recurso que estamos encurtando com a velocidade das nossas emissões de carbono.

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