No biênio 2024 e 2025, as doenças respiratórias bovinas foram as mais recorrentes nos confinamentos brasileiros.
O confinamento tem crescido no Brasil. Segundo a pesquisa-expedicionária Confina Brasil 2025, promovida pela Scot Consultoria, foram mapeados 3,1 milhões de cabeças, sendo 83,9% destinadas ao abate – 2,6 milhões de cabeças.
A pesquisa projeta 8,3 milhões de bovinos confinados destinados ao abate, rebanho 11,9% maior em relação à 2024, cuja estimativa fora de 7,4 milhões. Desde a primeira edição do Confina Brasil, em 2020, a taxa de crescimento ao ano é de 5,3%.
Apesar do avanço nas boas práticas de manejo e da busca constante por melhorias em bem-estar animal, com adoção de currais antiestresse, cobertura de cochos, sombreamento, controle de poeira, sistemas de drenagem e rotina de limpeza de bebedouros, o aumento da quantidade de confinamentos também traz mais desafios sanitários.
Entre eles, destaca-se o complexo das Doenças Respiratórias Bovinas (DRB), que foi uma das morbidades mais relatadas durante a expedição Confina Brasil em 2024 e 2025. Em 2024, 68,5% das propriedades apontaram-na como maior recorrência. Em 2025, 58,5% citaram a DRB como a principal manifestação sanitária, 24,1% como a segunda e 7,7% como a terceira.
As causas da DRB são multifatoriais, podendo estar relacionadas à exposição a agentes infecciosos, calor, frio, poeira, lama, transporte, superlotação, ao agrupamento de bovinos de diferentes origens, estresse e fatores nutricionais (como deficiências ou mudanças bruscas na dieta), que comprometem a imunidade.
Além disso, trata-se de uma doença multietiológica, associada a diferentes agentes infecciosos, tanto virais quanto bacterianos. Entre os vírus mais encontrados estão o Herpesvírus Bovino tipo 1 (BoHV-1), o Vírus da Diarreia Viral Bovina (BVDV), o Vírus Parainfluenza tipo 3 (PI-3) e o Vírus Respiratório Sincicial Bovino (BRSV). Entre as bactérias, destacam-se Mannheimia haemolytica, Pasteurella multocida, Histophilus somni e Mycoplasma bovis.
E como identificar o bovino acometido pela DBR? A observação do rebanho é o meio para o diagnóstico precoce. Os principais sinais clínicos incluem perda de apetite, apatia, febre acima de 40°C, tosse, secreção nasal, hipersialose e redução no ganho de peso e na produtividade.
Prejuízos do complexo das Doenças Respiratórias Bovinas (DRB)
A DRB gera prejuízos econômicos, como os custos com tratamento, perda da produtividade e mortalidade.
O tratamento geralmente envolve antibióticos associados a anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs), com o objetivo de reduzir a gravidade dos sinais clínicos. Um exemplo é o uso do ceftiofur (cefalosporínico de terceira geração) com o anti-inflamatório flunixin meglumine.
De acordo com a Scot Consultoria, em outubro, o frasco com 100ml de ceftiofur esteve cotado em R$68,82, com posologia de 1ml a cada 50kg de peso vivo. Já o frasco de 50ml de flunixin meglumine foi cotado em R$136,61, com posologia de 2 ml a cada 45kg de peso vivo. Ambos com tratamento de cinco dias (dependendo do caso), a cada 24 horas.
Considerando um bovino com peso médio de 375kg, o custo do tratamento seria de aproximadamente R$253,52 por cabeça. Em um período médio de 105 dias de confinamento, o custo adicional diário seria de R$2,41, elevando o custo operacional + sanitário de R$2,01 para R$4,42/cabeça/dia – e a diária total de R$14,78 para R$17,19 (Confina Brasil 2025).
Há também a perda de desempenho. Segundo Smith (1998), bovinos que apresentaram ao menos um episódio da doença tiveram redução de 0,23kg/dia de peso. Morck et al. (1993) registraram perda de 0,33kg/dia em casos de múltiplas ocorrências. Já Blakebrough-Hall et al. (2020) observaram perdas médias de 0,38kg em bovinos com três ou mais episódios, 0,23kg em casos clínicos, 0,15kg em subclínicos e 0,13kg em casos com lesões pulmonares graves – considerando 105 dias de confinamento.
Além desses fatores, segundo o Confina Brasil 2025, a taxa média de mortalidade em confinamentos foi de 0,5%, sendo as doenças respiratórias responsáveis por 32,1% desse total.
Considerando os dados apresentados, fizemos essa simulação: uma propriedade com 10 mil cabeças, apresentando perda de 50 bovinos (0,5%), dos quais 16 (32,1%) foram em decorrência da DRB, representaria um prejuízo de cerca de R$95,5 mil, considerando o preço médio da arroba em São Paulo, em novembro (até 11/11), de R$314,00 (a prazo, com impostos descontados) e 19@ por bovino.
Como prevenir?
A vacinação é uma das medidas profiláticas – segundo levantamento da Scot Consultoria, considerando apenas o preço médio do insumo, o custo é de R$28,00 por bovino/duas doses.
E, embora essencial, a imunização não garante sozinha a eliminação da doença, especialmente quando há falhas no protocolo vacinal de bovinos adquiridos de outras propriedades. Além disso, a resposta imune leva de 14 a 21 dias para se estabelecer, enquanto o risco de infecção existe desde a entrada no confinamento.
Por isso, a prevenção integrada é fundamental.
É recomendável investir em boas práticas de manejo, bem-estar, infraestrutura e biossegurança – evitando superlotação, controlando o estresse e respeitando os períodos de isolamento sanitário para bovinos recém-adquiridos.
Essas medidas podem reduzir a incidência das doenças respiratórias e garantir melhor desempenho e rentabilidade no confinamento, protegendo tanto os bovinos presentes quanto os que ainda serão recebidos.
Prevenir é mais econômico e estratégico do que remediar.
Fonte: Scot Consultoria
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ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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