
Expectativa do Bradesco é de que a fraqueza global da moeda norte-americana, o dólar, mantenha o câmbio abaixo de R$ 5,50 no curto prazo
O economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato Barbosa, afirmou nesta sexta-feira (3 de outubro) que a cotação do dólar deve permanecer mais próxima de R$ 5 do que de R$ 5,50 nos próximos meses. Segundo ele, o movimento reflete a continuidade da fraqueza global da moeda norte-americana, tendência que vem se mantendo ao longo do ano.
“Continuo achando mais fácil o dólar estar perto de R$ 5, ou até um pouquinho abaixo de R$ 5, nos próximos seis ou nove meses, do que estar em R$ 5,50”, disse Honorato durante participação em evento da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), em São Paulo.
O economista explicou que cerca de 70% da valorização do real desde o início do ano decorre justamente da fraqueza do dólar no cenário internacional.
“Apesar da piora do déficit externo, o real está super bem comportado. Se o real fosse seguir de perto o que está acontecendo com o dólar no mundo, era para o dólar estar em R$ 4,60. Se o real estivesse acompanhando de perto uma cesta de países emergentes com características semelhantes às do Brasil, era para o dólar estar em R$ 4,90”, detalhou.
Moeda única do Brics é uma “má ideia”, avalia economista
Durante o evento, Honorato também foi questionado sobre a possibilidade de criação de uma moeda única do Brics — bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Para ele, a proposta é “muito ruim” e o Brasil deveria evitar essa iniciativa.
“Eu absolutamente acho muito, muito ruim a ideia da moeda dos Brics. Acho que o Brasil deveria fugir dessa ideia como o diabo foge da cruz”, afirmou.
O economista observou que a volatilidade e as tensões geopolíticas intensificadas pelo governo Donald Trump nos Estados Unidos têm levado países latino-americanos a se aproximarem da China.
“À medida que você é atacado ou desafiado por um país como os Estados Unidos, isso empurra a América Latina no colo da Ásia, ou da China, e isso está empurrando também a Europa no colo da Ásia”, comentou.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao comentar críticas feitas por Trump à ideia da moeda do Brics, já havia esclarecido que a intenção não é criar uma nova moeda, mas estimular o uso das moedas nacionais entre os integrantes do bloco nas transações comerciais.
Tensão global “sem precedentes”
Honorato destacou ainda que a tensão econômica e comercial gerada pelo segundo mandato de Trump é “sem precedentes”. Ele ressaltou que os níveis de tarifas impostas pelos Estados Unidos atualmente são os mais altos desde o período entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, o que tem provocado distorções significativas no comércio global.
Inflação longe da meta e perspectivas para a Selic
No cenário interno, o economista do Bradesco apontou que a desaceleração da atividade econômica e um câmbio estável devem abrir espaço para um ciclo de cortes na taxa básica de juros (Selic).
No entanto, ele considera “praticamente impossível” o Brasil alcançar a meta de inflação de 3% definida pelo Banco Central.
“Eu acho impossível, ou muito improvável, que a inflação chegue aos 3% por uma razão muito simples: temos um governo que gasta bastante, que gosta de dar estímulo para a demanda. Está descoordenada a política fiscal e monetária”, avaliou.
Honorato ressaltou que, mesmo com alguma melhora, a inflação não deve convergir totalmente para a meta e que, para isso, seria necessário manter juros muito altos por um longo período.
“É razoável a gente ter 15% de Selic o ano que vem inteiro, para ter uma inflação que vai ser de 3,5%, 3,6%? Não sei, é coisa que a sociedade também tem que discutir”, questionou.
Brasil ainda não está pronto para meta tão baixa
O economista afirmou que, embora seja desejável uma inflação de 3%, o arranjo macroeconômico do país — com gastos públicos elevados e dívida crescente — não favorece esse cenário no momento.
“Dado que a escolha foi feita de 3%, também não acho que seja prudente agora voltar atrás e ter meta de 4%. Vai dar uma confusão danada nos mercados”, alertou.
Para ele, o caminho mais adequado é manter a meta de 3%, mas com flexibilidade e inteligência, permitindo uma convergência gradual à medida que o ajuste fiscal avance.
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