
Segundo o pesquisador Marcos Vinícius Silva, da Embrapa Gado de Leite, estima-se que uma vaca pode perder até 15 kg de leite por lactação devido ao estresse térmico; As temperaturas extremas fazem Brasil perder anualmente cerca de 30% da produção de leite.
Programa de melhoramento genético da raça Girolando em parceria com a Embrapa Gado de Leite, identificaram que o calor extremo causa grandes perdas na produção leiteira no país. Dessa forma, eles tem avaliado a resistência dos animais ao calor para selecionar indivíduos que aguentam melhor as altas temperaturas. Os pesquisadores associaram dados climáticos de cada região, perfil genético de touros e o desempenho produtivo das vacas de suas proles para criar uma medida para avaliar a tolerância dos animais ao estresse térmico evitando perdas na produção de leite.
Impulsionados pelas mudanças climáticas e o El Niño, dias de calor intenso têm sido comuns em todas as regiões do Brasil, principalmente na região Centro-Sul, onde se concentra a maior produção de leite no País. Segundo o pesquisador da Embrapa Gado de Leite (MG) Marcos Vinícius G. B. Silva, o País perde todos os anos cerca de 30% da produção devido às altas temperaturas.
Um ITU entre 80 e 89, por exemplo, pode provocar estresse térmico severo no animal. Para que isso ocorra basta que a temperatura fique acima de 32°C e a umidade relativa do ar esteja em 95%. Ainda segundo ele, estima-se que uma vaca pode perder até 15 kg de leite por lactação devido ao estresse térmico, o que representa uma redução de 25% na produção.
Isso torna a cadeia produtiva do leite vulnerável aos eventos provocados pelas mudanças climáticas. “A solução para o produtor é desenvolver rebanhos mais resistentes ao estresse térmico e é isso que o programa de melhoramento do Girolando tem buscado oferecer por meio das avaliações genéticas e genômicas no teste de progênie da raça”, diz o pesquisador.
Silva explica que há raças mais tolerantes aos efeitos do clima. “O Gir Leiteiro, que compõe a raça sintética Girolando, é bastante resistente ao calor se comparada à raça Holandesa, que também forma o Girolando. O resultado do cruzamento das duas raças é um animal resistente e produtivo”, explica.
Dentro de uma mesma raça há indivíduos mais resistentes que outros. Ao longo dos anos, a Embrapa reuniu uma boa base fenotípica de animais resistentes, identificando essa característica dentro do genótipo do indivíduo. A partir daí, criou-se o PTA (medida de mérito genético do touro) para o estresse térmico, que irá resultar em vacas mais resistentes.
“Utilizamos uma metodologia estatística que relaciona esses dados com os genótipos de cada uma das vacas, obtendo o potencial genético do animal”, comenta Silva ao contar que esse tipo de abordagem revela as diferenças genéticas na resposta dos animais diante das diferentes combinações de temperatura e umidade do ar ao longo do período avaliado.
A classificação dos animais em relação ao calor
Os touros foram classificados conforme categorias de sensibilidade ambiental, que representam o desempenho médio esperado para as filhas de cada touro nas diferentes combinações de temperatura e umidade do ar:
- Sensível +: touros cujas filhas reduzem a produção de leite em ambientes mais quentes e, ou, mais úmidos.
- Sensível – (menos): touros cujas filhas aumentam a produção em ambientes mais quentes e, ou, mais úmidos.
- Robusto: touros cujas filhas mantêm produções estáveis, independente da combinação de temperatura e umidade.
Silva afirma que quando o animal está dentro de uma faixa de ITU considerada adequada, ele terá condições de expressar seu potencial genético, porém, outras condições limitantes, como nutrição, manejo e sanidade, por exemplo, devem estar em níveis adequados.
O também pesquisador da Embrapa, João Claudio do Carmo Panetto, conta que a classificação dos touros conforme sua tolerância ao estresse térmico servirá como uma ferramenta auxiliar na seleção dos animais na produção de leite, possibilitando o uso de um genótipo mais adequado ao clima das diferentes regiões do Brasil. “Dessa forma, cada criador vai poder direcionar os acasalamentos, visando obter uma progênie mais tolerante ao estresse térmico, reduzindo as perdas produtivas devidas aos fatores climáticos”, diz Panetto.

Sumário relaciona progênie tolerante ao estresse térmico
Desde 2022, o Programa de Melhoramento Genético da Raça Girolando apresenta o PTA de touros com característica para tolerância ao estresse térmico. Naquele ano, o sumário do teste de progênie da raça já anunciava 405 touros com essa característica. Em 2023, o número subiu para 491 e neste ano serão 549. Esses animais compõem o Índice de Eficiência Tropical que, além da tolerância ao estresse térmico, apresenta características relativas à produção e reprodução. Silva anuncia que, em breve, será incluída neste índice a característica de resistência a ectoparasitas (carrapatos).
O sumário traz ainda PTA’s para outras 32 características individuais como volume de leite, gordura, proteína, casco, temperamento etc. As características são reunidas em nove índices, apresentando um conjunto de parâmetros.

Quer ficar por dentro do agronegócio brasileiro e receber as principais notícias do setor em primeira mão? Para isso é só entrar em nosso grupo do WhatsApp (clique aqui) ou Telegram (clique aqui). Você também pode assinar nosso feed pelo Google Notícias
Não é permitida a cópia integral do conteúdo acima. A reprodução parcial é autorizada apenas na forma de citação e com link para o conteúdo na íntegra. Plágio é crime de acordo com a Lei 9610/98.
Lula quer encerrar 20 anos de negociações e abrir mercado da carne bovina para Japão
Após 20 anos de negociações, o Brasil pode finalmente abrir o mercado de carne bovina para o Japão.
Investimento em genética não será mais uma opção, afirma executiva
Lílian Matimoto fala sobre o crescimento do mercado de genética bovina no Brasil; com um investimento de cerca R$ 80, para cobrir gastos da inseminação, o retorno líquido é de R$ 340
Continue Reading Investimento em genética não será mais uma opção, afirma executiva
USDA amplia estimativa da safra de soja do Brasil para 169,5 mi de toneladas
O volume de soja é 4,5 milhões de toneladas maior do que a projeção anterior feita pelo USDA no fim de dezembro do ano passado
Continue Reading USDA amplia estimativa da safra de soja do Brasil para 169,5 mi de toneladas
Carta Leite – A isenção tarifária afetaria o mercado brasileiro de leite?
Entre 1975 e 2023, a produção nacional saltou de 7 bilhões para 35 bilhões de litros, impulsionada por ganhos de produtividade que triplicaram a eficiência.
Continue Reading Carta Leite – A isenção tarifária afetaria o mercado brasileiro de leite?
Evento discutirá estratégias e perspectivas do agronegócio nacional
hsm+Agro 2025, em Brasília, discutirá estratégias e perspectivas e fortalecerá conexões para líderes do agronegócio nacional; Evento ocorrerá no dia 12 de agosto de 2025
Continue Reading Evento discutirá estratégias e perspectivas do agronegócio nacional
Com risco de crédito e juros elevados, produtor precisa ter cautela na safra 2025/26
Após anúncio do Banco Central que aumentou a Selic para 14,25%, os empréstimos bancários e financiamentos tendem a ficar mais onerosos e criteriosos.