Estudo de universidades como MIT, Princeton e Notre Dame revela que o investimento público em pesquisa da Embrapa aumentou em até 110% a produtividade agrícola brasileira, tornando o país um exemplo global de inovação e desenvolvimento sustentável no campo
A atuação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) está sendo celebrada por cientistas de prestígio internacional como um dos maiores casos de sucesso em políticas públicas de inovação agrícola. Um estudo publicado pelo National Bureau of Economic Research (NBER), dos Estados Unidos, mostra que o modelo de pesquisa descentralizada e investimento público em ciência promovido pela estatal brasileira foi responsável por aumentar a produtividade agrícola nacional em 110% nas últimas cinco décadas — uma verdadeira revolução agropecuária, segundo os pesquisadores.
Reconhecimento internacional
O trabalho foi conduzido por Ariel Akerman (Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID), Jacob Moscona (Instituto de Tecnologia de Massachusetts – MIT), Heitor S. Pellegrina (Universidade de Notre Dame) e Karthik Sastry (Universidade de Princeton).
O estudo, intitulado “P&D pública encontra desenvolvimento econômico: Embrapa e a revolução agropecuária brasileira”, analisa a evolução da agricultura no Brasil entre 1950 e 2017, cruzando dados dos censos agropecuários, informações sobre cientistas da Embrapa, localização das unidades e a produção de culturas como milho, soja, arroz, cana, café e cacau.
Os resultados impressionaram a comunidade científica internacional. “Constatamos que o investimento público em P&D aumentou a produtividade agrícola nacional em 110%, com uma relação custo-benefício de 17 para 1”, afirmam os autores. O estudo destaca ainda que, se a Embrapa tivesse mantido um modelo centralizado de pesquisa, os ganhos seriam de apenas 47%.
Estrutura descentralizada: a chave da revolução
Um dos pontos mais elogiados pelos pesquisadores é a estrutura descentralizada da Embrapa, que possui 43 centros de pesquisa espalhados pelo país, permitindo que cada região desenvolva soluções adaptadas às suas condições ecológicas específicas. Essa abordagem colaborativa e territorial é apontada como o principal motor da expansão agrícola brasileira, sobretudo nas últimas décadas.
De acordo com o relatório, “a estrutura descentralizada explica mais da metade dos ganhos de produtividade”, destacando que a Embrapa foi capaz de “redirecionar a pesquisa para culturas básicas de importância local”, o que garantiu a adaptação tecnológica mesmo em regiões remotas e com escassez de recursos.
Impacto global e elogios acadêmicos
O reconhecimento foi além dos autores. Arpit Gupta, professor associado da NYU Stern School of Business, destacou nas redes sociais que o estudo é um “excelente exemplo do sucesso da política industrial da Embrapa”, ressaltando que a empresa brasileira é “comparável ao USDA” (Departamento de Agricultura dos EUA), com 2.300 cientistas agrícolas ativos.
O caso brasileiro ganhou destaque também por ocorrer em um momento de atenção mundial às questões de sustentabilidade e segurança alimentar, especialmente com a COP30 em Belém (PA) se aproximando. O estudo reforça que a Embrapa é “talvez o exemplo mais proeminente de um programa de P&D financiado publicamente em um país em desenvolvimento”, e que seu modelo pode inspirar outras nações de renda média.
Desafios de financiamento enfrentados pela Embrapa
Apesar do reconhecimento, a Embrapa enfrenta desafios para equilibrar seu orçamento de pesquisa. Os repasses públicos caíram 80% nos últimos dez anos, e embora o valor tenha subido em 2025 para R$ 317,3 milhões, parte foi cancelada, restando R$ 272,3 milhões efetivamente aplicados. O Projeto de Lei Orçamentária de 2026 prevê R$ 270 milhões para pesquisa, dentro de um orçamento total de R$ 4 bilhões, majoritariamente destinado a salários.
Segundo a estatal, há negociações contínuas com o Ministério da Agricultura e com o Ministério do Planejamento e Orçamento para recompor os valores suspensos, a fim de evitar impactos na continuidade das pesquisas.
Um modelo que inspira o mundo
O estudo conclui que a experiência da Embrapa demonstra o poder da pesquisa pública como ferramenta estratégica de desenvolvimento econômico e social. Ao descentralizar seus laboratórios e adaptar suas inovações às diferentes realidades do território brasileiro, a empresa transformou o país em uma potência agrícola, sem perder de vista a sustentabilidade e a ciência aplicada.
“O investimento em P&D pública pode ser um catalisador fundamental para o crescimento da produtividade”, afirmam os pesquisadores. Mais do que um reconhecimento técnico, o estudo americano consolida o nome da Embrapa como símbolo global de inovação agrícola e soberania tecnológica, reforçando que o caminho da ciência pública continua sendo uma das maiores forças do agronegócio brasileiro.
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