
Embora o custo de sequenciamento genético de plantas tenha caído muito nos últimos 15 anos, ele ainda é alto, limitando o trabalho de laboratórios acadêmicos.
Os rumos da biotecnologia da soja nos próximos dez anos foram o assunto de um workshop internacional realizado nesta quinta-feira, último dia do Congresso Brasileiro de Soja e Mercosoja. Cientistas da China, Canadá, Estados Unidos, Argentina e Brasil mostraram o direcionamento de seus trabalhos e dos grupos de pesquisa em que atuam. Embora com objetivos distintos, todos têm em comum o uso de técnicas de edição gênica e uso de inteligência artificial para acelerar os resultados.
Primeiro a apresentar, Zhixi Thian, do Yazhouwan National Laboratory da China, mostrou que a evolução na produtividade da soja nos últimos anos foi menor do que de outras culturas, como milho e trigo. Para ele, é preciso haver uma revolução verde da soja, com salto na produtividade.
O melhor entendimento do genoma da planta, com mais informações sobre os genes que expressam cada característica é uma das alternativas. Um exemplo é identificar genes que contribuam para maior crescimento de raízes. Em regiões com baixa precipitação, como no Canadá, essa condição é fundamental para tornar a soja economicamente atrativa. Naquele país o aumento da produção passa pela substituição de áreas cultivadas com canola ou trigo, explicou François Belzile, da Universidade de Laval (CAN).
Embora o custo de sequenciamento genético de plantas tenha caído muito nos últimos 15 anos, ele ainda é alto, limitando o trabalho de laboratórios acadêmicos, ponderou Scott Allen Jackson, da Universidade da Georgia (EUA). Contudo, o uso de ferramentas de inteligência artificial está ajudando nas pesquisas, permitindo melhor entendimento sobre as informações genéticas e a previsão sobre a aplicação das técnicas de edição gênica.
“Inteligência artificial vai permitir que a gente entenda uma quantidade enorme de informação. Vamos ver muito potencial com essas tecnologias em combinação com a IA”, afirmou Scott Jackson.
Na Argentina, pioneira na adoção de cultivares transgênicas, os programas de melhoramento genético têm como alvo a tolerância à seca, aumento do teor proteico da soja, resistência a herbicidas e redução do teor de oligossacarídeos. Para isso técnicas de edição gênica e de RNA interferente (RNAi) vem sendo usadas com apoio de inteligência artificial.
“Nunca tivemos tanta informação sobre genes e suas funções, nem tanta tecnologia para aplica-las”, afirmou Sergio Feingold, do Programa Nacional de Biotecnologia do Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária (ARG).
Para os cientistas brasileiros, os alvos do melhoramento genético são aumento de produtividade, tolerância à seca, resistência a doenças, insetos e nematoides, encurtamento de ciclo e redução ou eliminação de fatores anti-nutricionais na soja destinada à alimentação animal. As ferramentas de edição gênica e RNAi também vem sendo usadas visando modificar fatores de expressão de genes.
A pesquisadora da Embrapa Soja Liliane Henning explica que fazer modificações únicas é mais simples. Entretanto, quando se busca mais de uma alteração o processo fica mais complexo, uma vez que um gene alterado pode interferir em mais de uma função na planta.
Além de ter um potencial maior de uso, as técnicas de edição gênica geram plantas convencionais, com liberação comercial mais simples e processos de testes mais baratos do que eventos transgênicos.
“Porém o aspecto legal da engenharia genética ainda é um entrave. A patente do CRISPR é complexa e os direitos de uso ainda não estão definidos”, lembrou Henning. Esta questão, aliás, não é exclusividade do Brasil. Em todo o mundo há a indefinição sobre direitos de uso e propriedade intelectual da técnica CRISPR.
Outra linha de atuação no melhoramento genético foi apresentada por Weicai Yang, do Yazhouwan National Laboratory (CHN). Ele mostrou trabalhos relacionados ao aumento da eficiência da fixação biológica de nitrogênio por meio do entendimento de mecanismos da simbiose entre a soja e as bactérias fixadoras de nitrogênio.
Questionados sobre o teto do aumento de produtividade nos próximos dez anos, os cientistas se dividiram entre os mais e menos otimistas. Para alguns, os ganhos não serão tão elevados devido ao surgimento de outras questões que interferem na lavoura como a mudança climática, por exemplo. Para outros, os ganhos possíveis com as novas tecnologias podem trazer impactos significativos que cheguem até 25% de ganho de produtividade até 2035.
Congresso Brasileiro de Soja
O Workshop sobre o futuro da biotecnologia da soja fechou a programação do 10º Congresso Brasileiro de Soja e Mercosoja. O evento foi promovido pela Embrapa Soja e realizado no Expo Dom Pedro, em Campinas (SP), entre os dias 21 e 24 de julho. Cerca de 2 mil pessoas dos diferentes elos da cadeia da soja participaram de discussões e interações. A programação contou com mais de 50 palestras em conferências e painéis, com a apresentação de 321 trabalhos científicos e exposição de 50 empresas em uma Arena de Inovação.
Fonte: Embrapa
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ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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