Vice-presidente da Sociedade Mineira de Engenheiros, José Cláudio Nogueira Vieira aponta gargalos de logística, energia e formação de profissionais como entraves que exigem integração entre campo e engenharia.
O agronegócio brasileiro, responsável por quase um quarto do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, enfrenta desafios que vão muito além da porteira. Logística precária, custos elevados de energia, necessidade de inovação tecnológica e carência de profissionais qualificados estão entre os principais entraves do setor. Para superá-los, a engenharia surge como parceira estratégica, capaz de oferecer soluções que ampliam a eficiência, reduzem perdas e garantem sustentabilidade.
“Não existe agronegócio de ponta sem engenharia forte. Da armazenagem de grãos à irrigação de precisão, da logística até a energia, o engenheiro está presente em toda a cadeia produtiva”, afirma José Cláudio Nogueira Vieira, engenheiro civil e vice-presidente da Sociedade Mineira de Engenheiros (SME). Ele chama a atenção para a situação das estradas vicinais, fundamentais para o escoamento da produção agrícola, especialmente em estados como Minas Gerais, líder na produção de café. “Boa parte da riqueza que o agro gera é desperdiçada nos gargalos logísticos. Estradas em más condições aumentam o custo do frete, elevam o preço final e reduzem a competitividade do produtor.”
Outro ponto central é a matriz energética. Segundo Vieira, a expansão de fontes renováveis em propriedades rurais já se mostra uma saída para reduzir despesas e aumentar a autonomia do produtor. “Já temos experiências bem-sucedidas de fazendas que utilizam biogás e energia solar para reduzir custos. Isso mostra que engenharia e agro caminham juntos na transição energética.”
Apesar dos avanços, há um obstáculo que preocupa: a falta de engenheiros especializados para atender às demandas do campo. Nos últimos anos, cursos de engenharia registraram queda na procura e altos índices de evasão. “O Brasil precisa formar engenheiros que entendam o campo. Hoje, há lacunas sérias na formação, especialmente em áreas básicas como matemática e física, o que compromete a prática profissional. Se não corrigirmos essa rota, o agronegócio sentirá o impacto diretamente”, alerta.
Vieira também destaca que a agricultura de precisão, que utiliza sensores, drones e softwares para aumentar produtividade, só se sustenta com a presença ativa de engenheiros. “Toda a base de automação agrícola exige profissionais capazes de integrar tecnologia, solo, clima e planta. É um ecossistema multidisciplinar, e o engenheiro é a ponte que conecta esses elementos.”
Esse impacto não se restringe às propriedades rurais. Cidades do interior, impulsionadas pela força do agronegócio, crescem em ritmo acelerado e demandam planejamento urbano adequado. “Essas cidades precisam de saneamento, habitação, mobilidade. Se não houver planejamento de engenharia, o desenvolvimento gerado pelo agro pode se tornar um problema social”, pondera o vice-presidente da SME.
Para ele, a equação é clara e o futuro do agronegócio brasileiro depende de um diálogo cada vez mais estreito com a engenharia. “Se quisermos manter o Brasil como potência agro, precisamos aproximar ainda mais engenheiros e produtores. Essa integração garante eficiência, sustentabilidade e maior competitividade no mercado global”, conclui.
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ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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