 
        Nova recomendação abandona volumes fixos e adota percentual do peso vivo como chave para antecipar a primeira lactação e destravar o potencial genético da vaca.
Se você ainda mede o aleitamento das suas bezerras em 4, 6 ou 8 litros fixos, saiba que essa prática pode estar custando caro. Mais precisamente, mais de R$ 6.000 por animal criado. A afirmação é do engenheiro agrônomo e especialista em nutrição de ruminantes, Leandro Ebert, que defende que a resposta certa não é um número fixo. “A gente ficou preso a números fixos e não a uma lógica nutricional baseada no peso e nas exigências do animal”, explica.
Essa “lógica antiga” resulta em novilhas parindo tarde demais, às vezes com 2,5 ou 3 anos, gerando um custo de manutenção sem receita. Além disso, compromete o potencial produtivo da futura vaca antes mesmo que ela chegue ao rúmen. A nova recomendação científica, baseada em consensos recentes, troca a régua do volume pela balança: o aleitamento ideal é um percentual do peso ao nascer.
O Prejuízo de R$ 6.000
O cálculo do prejuízo é direto e impacta diretamente o fluxo de caixa da propriedade.
Atraso na Produtividade (R$ 5.000): O especialista explica que bezerras criadas com restrição alimentar crescem devagar. O resultado são novilhas parindo com 2,5 ou até 3 anos de idade, quando o ideal seria mais próximo dos 24 meses. “Cada seis meses de atraso são literalmente seis meses alimentando um animal que podia já estar dando retorno em leite”, aponta Ebert. Em uma conta simples, considerando uma média de lactação de 4.000 litros (cerca de 13L/dia), esses seis meses representam 2.000 litros que deixaram de ser produzidos. A um preço de R$ 2,50 por litro, o prejuízo é de R$ 5.000 por novilha. Em rebanhos de alta produtividade (26L/dia), essa perda pode dobrar, ultrapassando os R$ 10.000.
Perda de Potencial (R$ 1.000+): O segundo prejuízo é genético e permanente. Ebert cita uma meta-análise clássica (Soberon & Van Amburgh, 2013) que provou que o ganho de peso nos primeiros 60 dias de vida define o potencial produtivo da futura vaca. Segundo o estudo, bezerras que receberam mais leite no início produziram, em média, 430 litros de leite a mais já na primeira lactação. Ao mesmo valor de R$ 2,50/L, isso representa mais de R$ 1.000 de retorno.
Somando a perda pelo atraso (R$ 5.000) com a perda de potencial (R$ 1.000), chega-se ao prejuízo mínimo de R$ 6.000 por animal que não foi alimentado corretamente em sua fase inicial.
A Ciência: Mais Leite Atrapalha o Rúmen?
Por décadas, a recomendação de restringir o leite (como os antigos 10% do peso vivo ou os 4L fixos) era baseada na crença de que isso forçaria a bezerra a comer concentrado mais cedo, desenvolvendo o rúmen.
Segundo Ebert, a ciência moderna, consolidada no último consenso norte-americano (NASEM, 2021), mostra um cenário diferente.
“Muita gente acredita que dar mais leite atrapalha o desenvolvimento do rúmen. Mas o que os dados mostram é que o problema nunca foi o leite, e sim a falta de estímulo para o rúmen trabalhar junto“, esclarece.
Estudos recentes (como o de Cunha et al., 2022) mostram que terneiras que recebem volumes maiores de leite, mas que têm acesso precoce a concentrado de qualidade e água limpa à vontade (desde o terceiro dia), desenvolvem o rúmen normalmente.
O segredo está no desmame gradual: ao reduzir o leite lentamente nas duas últimas semanas de aleitamento, a bezerra naturalmente aumenta o consumo de concentrado, mantendo o crescimento constante e sem o “baque” da retirada abrupta do leite.

A Nova Recomendação: De 15% a 20% do Peso
A antiga regra dos 10% do peso vivo ficou para trás. As recomendações atualizadas para otimizar o desempenho futuro da vaca são:
Mínimo: 12% do peso ao nascer (para exigências básicas e crescimento moderado).
Ideal (Otimizado): 15% a 20% do peso ao nascer.
Na prática, isso muda tudo. “Os 4 litros no campo ainda servem para uma Jersey pequena, mas é muito pouco para uma terneira Holandesa de 40 kg”, exemplifica Ebert.
Exemplo prático: Uma bezerra Holandesa nascida com 40 kg, seguindo a nova recomendação de 18% (média otimizada):
40 kg * 0,18 (18%) = 7,2 Litros de leite por dia
Esse volume (dividido em 3,6L pela manhã e 3,6L à tarde) é quase o dobro dos 4L tradicionais e representa o investimento necessário para buscar o retorno de R$ 6.000.
“A principal questão é: pare de usar um número fixo e comece, pelo menos, a usar uma proporção pelo peso dos seus animais“, recomenda o agrônomo.
Os 5 Pilares para o Sucesso
Leandro Ebert alerta, contudo, que simplesmente “dar mais leite” não funciona se o manejo não estiver correto. O investimento só se traduz em crescimento se cinco pilares estiverem alinhados:
Colostragem: É a base de tudo. Garantir 10% do peso da bezerra em colostro de boa qualidade nas primeiras 6 a 12 horas de vida (com metade disso o mais rápido possível).
Frequência: Dividir o volume total em, pelo menos, duas mamadas diárias, melhorando a digestão e o conforto do animal.
Água e Concentrado: Oferecer água limpa e fresca à vontade desde o terceiro dia de vida, e concentrado (ração inicial) de alta qualidade também desde o início para estimular o desenvolvimento ruminal.
Desmame Gradual: Nas duas últimas semanas de aleitamento, reduzir o volume de leite aos poucos, forçando a transição para o alimento sólido sem traumas ou perda de peso.
Monitoramento Individual: Observar o peso, a saúde e o crescimento de cada animal. Cada terneira é única.
A conclusão é que o investimento inicial em um maior volume de leite, quando gerenciado corretamente, não é um custo, mas sim a garantia de que a novilha expressará seu potencial genético e entrará na linha de produção mais cedo, pagando o investimento e gerando lucro muito antes do esperado.
Escrito por Compre Rural
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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