
As críticas ao agronegócio não se restringem ao campo político e institucional; para Octaciano Neto, esses diagnósticos não condizem com a realidade do campo
O agronegócio brasileiro, frequentemente apontado como motor da economia nacional, tem sido alvo de ataques recorrentes nos últimos anos. De instituições financeiras a setores do governo, não faltam análises negativas que tentam atribuir ao campo responsabilidades que, segundo especialistas, não condizem com a realidade.
Em artigo publicado recentemente, Octaciano Neto, fundador da Zera.ag — empresa de soluções de capital para o setor —, saiu em defesa do agro e contestou uma série de argumentos que vêm sendo levantados contra os produtores rurais. “Os ataques ao agronegócio vêm de todos os lados”, escreveu ele.
Entre os exemplos citados, Neto lembrou que o Banco do Brasil responsabilizou a “inadimplência” do agro por seus resultados inferiores aos concorrentes, mesmo com o setor apresentando índices de atraso menores que os segmentos de pessoas físicas e jurídicas da própria carteira da instituição.
Outro episódio destacado foi a decisão do Ministério da Fazenda, que em junho elevou a tributação das principais fontes de financiamento do setor por meio da Medida Provisória 1303. Para o executivo, a medida ignora o fato de que o agronegócio brasileiro é o menos subsidiado do mundo, com apoio governamental cerca de 75% abaixo da média dos países da OCDE.
As críticas, entretanto, não se restringem ao campo político e institucional. Neto citou reportagem do jornal Valor Econômico sobre uma fala do CEO da Lumina Capital Management, durante o J. Safra Investment Conference. Na ocasião, o gestor afirmou:
“Estamos enfrentando um problema grande no agro por conta da sobrealavancagem com o advento do mercado de capitais, dos Fiagros e dos produtos estruturados, com a chegada da Faria Lima no agro.”
E acrescentou:
“Acho que os bancos estão subapreciando o tamanho do problema do agro que ainda está por vir, basta acompanhar as RJ [recuperações judiciais] que estão vindo.”
Para Octaciano Neto, esses diagnósticos não condizem com a realidade do campo. Ele apresentou dados que colocam em xeque a tese de “sobrealavancagem”:
- O mercado de capitais financia menos de 20% do crédito do agro;
- Os Fiagros representam menos de 3%;
- O Brasil possui cerca de 5 milhões de produtores rurais, mas apenas 1,4 milhão acessa crédito;
- Os que têm acesso direto ao mercado de capitais não passam de 200 produtores.
“Não faz sentido falar em ‘sobrealavancagem’ por culpa do mercado de capitais, cuja participação ainda é incipiente”, afirmou.
O especialista ainda questionou quem, de fato, estaria sobrealavancado. Segundo ele, culturas como o café vivem margens historicamente elevadas. “O produtor de café, por exemplo, nunca teve margens tão altas: hoje seu EBITDA ultrapassa 50%”, destacou. Ele também lembrou que o agronegócio brasileiro é muito mais diverso que a soja, frequentemente utilizada como referência única para análises do setor.
Outro ponto frequentemente citado nas críticas é o aumento no número de recuperações judiciais de produtores rurais. Neto relativizou o fenômeno, lembrando que a possibilidade só foi regulamentada em 2020, com a reforma da Lei 11.101/2005. “Partiu-se de uma base zero”, explicou. Desde então, foram registradas 921 RJs, segundo dados da Serasa Experian — um número que representa apenas 0,00065% do universo de produtores com acesso a crédito, o que o especialista classifica como “estatisticamente irrelevante”.
Diante disso, a conclusão de Neto é categórica:
“O agro não está em crise. Nunca esteve. E não estará.”
Ele ressalta, no entanto, que isso não significa defender crédito sem critérios. “O que afirmo é que não existe uma crise estrutural no agro, ao contrário do que muitos repetem permanentemente”, reforçou.
Para sustentar seu ponto de vista, o diretor da Zera.ag trouxe números da evolução do setor nas últimas quatro décadas: a produção agrícola cresceu 503%, a produtividade aumentou 216% e a área plantada apenas 93%. “O agro só cresce”, concluiu.
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