
Medida em discussão busca conter inflação no país americano e abre espaço para maior participação brasileira no mercado americano, para isso EUA estudam tarifa diferenciada para produtos agro
Os Estados Unidos avaliam adotar tarifas diferenciadas para determinados produtos agropecuários, o que pode abrir uma grande oportunidade para o Brasil ampliar sua presença no mercado americano. A medida, segundo analistas do agronegócio, está sendo estudada pelo USTR (Escritório do Representante de Comércio dos EUA) como parte de uma estratégia para evitar a escalada da inflação interna e garantir o abastecimento de itens que o país não consegue produzir em escala suficiente. As informações de que EUA estudam tarifa diferenciada para produtos agro, foram publicadas na coluna de Mauro Zafalon, da Folha de S.Paulo.
Produtos estratégicos na mira americana
De acordo com especialistas, a lista elaborada inclui café, frutas tropicais, frutos do mar, suco e óleo de palma — itens que fazem parte do dia a dia dos consumidores americanos, mas cuja produção doméstica é limitada ou inexistente.
Se confirmada, a política tarifária diferenciada para produtos agro beneficiaria países exportadores desses produtos, em especial o Brasil, que já ocupa papel de destaque no fornecimento de café e suco de laranja aos EUA.
No entanto, a decisão final não depende apenas de critérios econômicos. O fator político pesa, e muito. A Casa Branca, sob comando de Donald Trump, ainda mantém distância dos pedidos brasileiros, influenciada por questões diplomáticas recentes — como a declaração do presidente Lula, durante as eleições de 2024 nos EUA, de que preferia Kamala Harris a Trump.
Carne bovina fica de fora, mas Brasil mantém peso no mercado
O setor de carne bovina não aparece entre os produtos contemplados pela possível medida, mas a presença da proteína brasileira nos EUA é cada vez mais relevante para controlar a inflação americana.
Mesmo com a recente reabertura do mercado australiano para a carne bovina dos EUA — suspenso desde o episódio de vaca louca —, a oferta americana é limitada.
Em 2025, o rebanho dos Estados Unidos caiu para 94,2 milhões de cabeças, o menor em anos, com apenas 13 milhões de bovinos em confinamento. A produção deve cair 1% neste ano, atingindo 11,9 milhões de toneladas, enquanto o consumo per capita permanece em 27 kg, com previsão de recuo para 26 kg em 2026.
Essa queda na oferta interna impulsiona a demanda por importações. De janeiro a maio, o Brasil respondeu por 27% da carne bovina importada pelos EUA, contra 17% no mesmo período de 2024. Em maio, as compras americanas subiram 60% sobre o ano anterior, chegando a 250 mil toneladas.
Inflação dos alimentos preocupa e acelera decisões sobre produtos agro
A pressão inflacionária é evidente: em junho, o custo da carne moída nos EUA estava 10,3% mais alto que no mesmo mês de 2024, e o bife 12,4% mais caro. No geral, a inflação dos alimentos foi 3% superior na comparação anual, com projeção de alta de 9% nos preços da carne bovina em 2025, segundo o USDA.
Agricultura americana em alerta
Enquanto isso, agricultores americanos acompanham com cautela a política tarifária do próprio governo, temendo impactos nas negociações da safra 2025/26. A produção de milho deve crescer 6%, chegando a 399 milhões de toneladas, com 70 milhões destinadas à exportação. Já a safra de soja deve recuar 0,7%, somando 118 milhões de toneladas, com previsão de exportar 48 milhões.
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