Expansão das exportações de café para a China

Pesquisas acadêmicas confirmam que o ato de consumir café na China evoluiu para englobar fatores como prazer, experiência e estilo de vida.

A nova ordem do mercado global de café está sendo definida na China. Em 2023, o país ultrapassou os Estados Unidos e se tornou o líder mundial em número de cafeterias de marca, com 49.690 lojas segundo informações do World Coffe Portal, em um mercado que supera US$ 22 bilhões.

O motor dessa expansão é uma nova geração de consumidores jovens que, influenciada pela urbanização e pela cultura ocidental, adotou o café como um hábito diário e símbolo de status. Pesquisas acadêmicas confirmam que o ato de consumir café na China evoluiu para englobar fatores como prazer, experiência e estilo de vida. Esse movimento é acelerado pela intensa competição entre redes locais, como a Luckin Coffee, e a Starbucks, que democratizou o acesso ao café de qualidade com preços agressivos e conveniência digital (Euromonitor International, 2025; CCCMG, 2024).

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A consequência dessa mudança é um aumento expressivo na demanda por café em grãos. Segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), o consumo doméstico chinês de café aumentou de 3,7 milhões de sacas de 60kg em 2019 para 5,9 milhões de sacas em 2025, um salto de 59,5% em seis anos (figura 1).

Figura 1.
Importações e consumo doméstico de café em grãos na China, de 2019 a 2024, e projeção para 2025 e 2026.

Fonte: USDA/ Elaboração: Scot Consultoria

Nesse cenário, o Brasil é um dos principais beneficiários, com um aumento expressivo nos embarques de café em grãos para a China. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), o país registrou em 2025 a maior exportação de café para um primeiro semestre da história.

O volume no período atingiu 524,3 mil sacas, um aumento de 789,3% em comparação com o primeiro semestre de 2019 (figura 2).

Figura 2.
Exportação de sacas de café: comparativo anual do 1º semestre (em volume).

Fonte: Secex/ Elaboração: Scot Consultoria

A expansão dos embarques para a China tem se traduzido em compromissos de longo prazo, que trazem perspectivas positivas para a comercialização do café Brasileiro.

Em 19 de novembro de 2024, foi oficializado um acordo comercial entre a chinesa Luckin Coffee e o Brasil, formalizado por meio de um memorando e intermediado pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil). O documento prevê a compra de 240 mil toneladas de café, o equivalente a 4 milhões de sacas, a ser entregue em cinco anos, entre 2025 e 2029.

A operação, com valor estimado em US$ 2,5 bilhões, representa a duplicação de um acordo inicial firmado em junho de 2024, que previa a compra de 120 mil toneladas por US$500 milhões. A novidade do acordo expandido é a inclusão de variedades do tipo Canéfora (Conilon e Robusta), além do café Arábica. Essa diversificação expande o mercado e cria um posicionamento estratégico para diferentes perfis de produtores brasileiros, que agora poderão atender à nova demanda.

Apesar das perspectivas positivas, persistem desafios no comércio de café entre China e Brasil. Conforme afirmou o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) em seu balanço anual de 2024, o principal obstáculo a ser superado são os problemas logísticos internos do país.

A profundidade da crise já havia sido detalhada em relatórios anteriores, como no divulgado em outubro de 2024, no qual o Cecafé, por meio do “Boletim Detention Zero (DTZ)”, divulgou que entre 55% e 60% dos navios enfrentavam atrasos e que o tempo de espera para embarque no Porto de Santos chegara a 55 dias. Recentemente, em boletim de abril de 2025, a entidade divulgou que o Brasil deixou de embarcar 638 mil sacas de café em março devido ao esgotamento da infraestrutura portuária, o que representou uma perda de receita cambial de cerca de US$262,8 milhões.

Considerações finais

A expansão do comércio de café com a China representa uma valiosa oportunidade comercial, com potencial para movimentar toda a cadeia produtiva.

No entanto, para que essa oportunidade se traduza em progresso real, é necessária uma cooperação estratégica entre os setores público e privado. Essa aliança é crucial para superar os desafios logísticos, mitigando os atrasos e as perdas na comercialização do produto. Paralelamente, é fundamental o fomento contínuo da produção no campo, assegurando que o volume e a qualidade do café brasileiro continuem a ser suficientes para atender a uma crescente demanda internacional e a diferentes mercados.

Fonte: Scot Consultoria

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ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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