Exportações de café especial do Brasil aos EUA despencam 79% após tarifaço

Setor alerta para risco de perda de liderança histórica e pede reação do governo brasileiro; O impacto imediato derrubou o volume de café embarcado em quase 80% frente ao mesmo mês do ano anterior

As exportações brasileiras de cafés especiais e solúveis para os Estados Unidos sofreram uma queda histórica em agosto de 2025, em consequência direta da sobretaxa de 50% imposta pelo governo de Donald Trump. O impacto imediato derrubou o volume embarcado em quase 80% frente ao mesmo mês do ano anterior, levando o Brasil a perder posição no ranking de destinos do café premium e gerando apreensão em todo o setor. As informações foram divulgadas por entidades como Cecafé, Abics, BSCA e pela Embrapa Café.

O tombo foi tão acentuado que os EUA, tradicionalmente o maior comprador desses cafés, caíram para o sexto lugar entre os principais importadores do grão brasileiro. O episódio expõe a vulnerabilidade do mercado diante de decisões unilaterais de política comercial e acendeu alertas tanto entre exportadores quanto no varejo americano, onde o aumento de preços já começa a ser repassado ao consumidor.

A queda em números

De acordo com o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), o Brasil embarcou 21.679 sacas de cafés especiais aos EUA em agosto de 2025, uma retração de 79,5% frente a agosto de 2024 e de 69,6% em relação a julho deste ano.

Já o café solúvel, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics), registrou embarque de 26.460 sacas, representando queda de 50,1% em relação a julho e de 59,9% no comparativo anual.

Tabela comparativa das exportações de cafés aos EUA (agosto 2025)

Tipo de caféAgosto 2024Julho 2025Agosto 2025Variação anualVariação mensal
Cafés especiais105.800 sacas (aprox.)71.300 sacas21.679 sacas-79,5%-69,6%
Café solúvel66.000 sacas (aprox.)53.000 sacas26.460 sacas-59,9%-50,1%
Fonte: Cecafé e Abics

Perda de posição no ranking internacional

O tarifaço fez os EUA despencarem no ranking de importadores. Em agosto, o país foi superado por Holanda (62.004 sacas), Alemanha (50.463), Bélgica (46.931), Itália (39.905) e Suécia (29.313), ocupando agora apenas a sexta posição.

Apesar disso, no acumulado de 2025, os EUA ainda lideram o ranking de destino dos cafés especiais brasileiros. Mas especialistas alertam que essa liderança pode não se sustentar caso a sobretaxa permaneça ativa nos próximos meses.

Reações do setor do café e riscos futuros

Para Carmem Lucia Chaves de Brito, presidente da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), o tarifaço trouxe impacto imediato, com suspensão e cancelamento de contratos já firmados. Segundo ela, “com a taxação atual, o café brasileiro chega ao mercado norte-americano com preços inviáveis. Isso explica a queda expressiva dos embarques”.

Parte das exportações registradas em agosto ainda corresponde a contratos assinados antes da tarifa de 50%, que pagam a alíquota inicial de 10% estabelecida em abril. Esse regime, no entanto, expira em 5 de outubro, o que pode agravar ainda mais a retração.

A BSCA também alerta para o reflexo direto nos preços ao consumidor americano, com pressão inflacionária em um dos maiores mercados do mundo. Por isso, defende que o governo brasileiro atue para incluir o café na lista de exceções do tarifaço, prevista na ordem executiva de setembro. “É fundamental que setor privado e governo atuem juntos para restabelecer o fluxo comercial em condições justas”, reforçou Brito.

Panorama geral das exportações brasileiras

Apesar do baque nos EUA, o desempenho global do café brasileiro em 2025 tem números expressivos. Segundo a Embrapa Café, nos oito primeiros meses do ano, o Brasil exportou 25,32 milhões de sacas, gerando US$ 9,66 bilhões em receita cambial — crescimento de 33% em valor mesmo diante de uma queda de 20,9% em volume físico.

Esse cenário é explicado pela alta do preço médio da saca exportada, que subiu de US$ 227,12 em 2024 para US$ 381,77 em 2025, um salto de 68,1%. Ou seja, mesmo com menos volume embarcado, o país tem conseguido elevar a receita, apoiado pela valorização do grão no mercado internacional.

O tarifaço imposto pelos EUA expôs a fragilidade das exportações de cafés especiais e solúveis brasileiros frente a barreiras comerciais, causando perdas imediatas e gerando incertezas para o setor. Embora o Brasil mantenha resultados positivos no mercado global, a dependência histórica do mercado norte-americano preocupa exportadores e produtores, que cobram medidas diplomáticas urgentes para evitar uma ruptura ainda maior no comércio.

Se não houver reação rápida, os cafés especiais brasileiros correm o risco de perder espaço definitivo em um dos mercados mais estratégicos do mundo, enquanto outros países produtores podem ocupar a lacuna deixada pelo Brasil.

Quer ficar por dentro do agronegócio brasileiro e receber as principais notícias do setor em primeira mão? Para isso é só entrar em nosso grupo do WhatsApp (clique aqui) ou Telegram (clique aqui). Você também pode assinar nosso feed pelo Google Notícias.

Siga o Compre Rural no Google News e acompanhe nossos destaques.
LEIA TAMBÉM