
Com uso de cercas elétricas e práticas de manejo sustentável, produtores do Pantanal têm conseguido proteger rebanhos do ataque de onça-pintada e preservar a presença de felinos selvagens na natureza
No coração do Pantanal mato-grossense, uma iniciativa aparentemente simples tem feito a diferença em um dos conflitos mais emblemáticos entre produção agropecuária e conservação ambiental: o embate entre onças-pintadas e rebanhos bovinos. Utilizando cercas elétricas estrategicamente instaladas e outras práticas de manejo, a Fazenda Jofre Velho, em Poconé (MT), tem conseguido reduzir em mais de 80% os ataque de onça-pintada ao gado, segundo dados divulgados pela ONG Panthera Brasil.
A propriedade é um exemplo emblemático de como a convivência entre pecuária e fauna silvestre é possível e sustentável quando há tecnologia adequada, conhecimento técnico e vontade de cooperar com o meio ambiente.
Ações integradas reduzem ataques e preservam fauna
Desde 2019, a parceria entre a ONG Panthera Brasil e a Belgo Bekaert Arames, referência em soluções para cercamento rural, implantou cercas elétricas com design anti-depredação em áreas críticas da Fazenda Jofre Velho, que tem aproximadamente 10 mil hectares, com cerca de 2 mil ha dedicados à pecuária extensiva durante os períodos secos.
A tecnologia aplicada é relativamente simples, mas extremamente eficaz: cercas eletrificadas com arame Belgo ZZ-700 Bezinal, que possui alta resistência à corrosão e impactos, formando uma barreira física e psicológica contra predadores como a onça-pintada (Panthera onca) e a onça-parda (Puma concolor).
Os animais são mantidos à noite em currais protegidos — especialmente bezerros — o que impede o acesso dos felinos e evita a morte do gado.
“Com a adoção dessas cercas, os ataques caíram drasticamente. Mantemos os predadores em seu habitat e preservamos o rebanho, gerando benefícios para ambos os lados”, explica Rafael Hoogesteijn, veterinário da Panthera e supervisor da fazenda, que conduz o projeto ao lado de Elizeu Evangelista da Silva, administrador da propriedade.
Onça-pintada: o maior felino das Américas
A onça-pintada é um dos símbolos da fauna brasileira. Com até 100 kg e cerca de 2 metros de comprimento, é um predador habilidoso, excelente nadador e escalador, cujos caninos podem medir até 5 cm. No entanto, está ameaçada de extinção e sua distribuição geográfica foi reduzida pela metade nas últimas décadas.
No Pantanal, onde a densidade de onças pode chegar a 8 a 9 indivíduos por 100 km², os ataques a rebanhos são mais frequentes. Regiões como o Pantanal do Nabileque, Rio Negro, Miranda, Abobral, Poconé e Cáceres são consideradas áreas críticas. Também há registros em outros biomas, como sul de Minas, São Paulo, Santa Catarina e Caatinga (Boqueirão da Onça, na Bahia).

Causas dos ataques e como evitá-los
De acordo com Guilherme Vianna, gerente de negócios agro da Belgo Arames, a maioria dos ataques ocorre por fome, defesa de presas ou sensação de ameaça. O desequilíbrio ecológico — como a escassez de presas naturais — faz com que o gado se torne alvo fácil.
“Se a onça encontra fartura na mata, ela não ataca o rebanho. O problema começa quando a fauna silvestre está escassa ou quando há carcaças expostas e gado vulnerável”, explica. Um caso relatado no estudo “A survey and estimate of jaguar populations in some areas of Mato Grosso” mostrou que a redução de jacarés em uma fazenda causou aumento de 400 bezerros mortos por ano, pois a onça perdeu uma de suas principais fontes de alimento.
Manejo inteligente: 4 estratégias para proteger o rebanho do ataque de onça-pintada
O sucesso da Fazenda Jofre Velho inspira outras regiões. Com base na experiência e nas recomendações dos especialistas, seguem quatro ações práticas e eficazes para evitar ataques de onças:
- Cercas elétricas com arame de alta qualidade
A instalação de cercas eletrificadas, como a Belgo Eletrix®, ajuda a manter os predadores afastados. O sistema é eficaz principalmente à noite, quando os felinos são mais ativos. - Preservação da fauna silvestre
Manter presas naturais disponíveis para as onças — como queixadas, antas e capivaras — reduz a necessidade de buscar alimento entre os bovinos. - Uso de búfalos como defesa natural
Os búfalos têm comportamento defensivo coletivo e reagem de forma mais agressiva aos ataques. Eles podem proteger os bezerros de maneira mais eficaz que o gado tradicional. - Manejo adequado do rebanho
Decisões simples, como:- evitar parições próximas às matas,
- enterrar carcaças rapidamente,
- concentrar os nascimentos em épocas específicas e
- usar animais adultos em regiões críticas
são fundamentais para reduzir vulnerabilidades e evitar perdas.
Legislação ambiental e responsabilidade
A caça de animais silvestres no Brasil é proibida pela Lei nº 9.605/98, e isso se torna ainda mais sério no caso de espécies ameaçadas. Portanto, o uso de soluções não letais, como cercas, é não só estratégico, mas legalmente obrigatório.
“A convivência com a onça é possível. Assim como o pecuarista se adapta às cheias do Pantanal, precisa também se adaptar à presença de predadores. Faz parte do ecossistema e é possível proteger a produção sem agredir a natureza”, afirma Vianna.
Um modelo que pode ser replicado em todo o país
A experiência da Fazenda Jofre Velho não é isolada. Segundo a Panthera, diversas fazendas no Pantanal Norte e Sul, assim como em regiões como Juruena e a Fazenda São Marcelo (Agropecuária Jacarezinho), já utilizam o sistema de cercas com excelentes resultados.
A parceria entre Belgo e Panthera Brasil, além de garantir a proteção do gado, tem sido vital para a conservação de uma das espécies mais emblemáticas das Américas, garantindo que o agronegócio e a biodiversidade possam prosperar juntos.
Assista ao vídeo do sistema em ação e conheça como uma tecnologia acessível pode fazer a diferença entre o prejuízo e a convivência sustentável.
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