“Fechar uma indústria lucrativa seria insano”, diz Sindifrigo

A JBS, maior indústria de carne do mundo, deu férias coletivas para os funcionários de sete frigoríficos de bovinos no Brasil, paralisando temporariamente os abates. Veja!

A JBS, maior indústria de carne do mundo, deu férias coletivas para os funcionários de sete frigoríficos de bovinos no Brasil, paralisando temporariamente os abates em unidades que vendem mais para o mercado interno. “Fechar uma indústria lucrativa seria insano. Manter uma planta aberta por muitos meses com prejuízo seria irresponsabilidade. Usar do poder econômico para manobras visando o lucro a qualquer custo, como se pode alegar, é crime que abominamos“, apontou Nota Pública do Sindifrigo de Mato Grosso.

Em comum, os frigoríficos paralisados temporariamente não têm habilitações para a China, o mercado mais rentável. “O mercado interno não suporta os preços chineses”, avaliou uma fonte a par da decisão.

As férias coletivas atingiram os abatedouros de Nova Andradina (MS), Pontes e Lacerda (MT), Colíder (MT), Alta Floresta (MT), Redenção (PA) é Tucumã (PA).

Analistas dizem que, além da concentração de vendas no mercado interno, as regiões onde estão os seis frigoríficos da JBS não têm grande oferta de gado de confinamento. No atual momento de entressafra, isso acaba reduzindo a oferta de boi, na margem.

Estruturalmente, porém, a disponibilidade de gado é positiva para os frigoríficos graças à inversão do ciclo da pecuária. Os bons resultados do Frigol no segundo trimestre, por exemplo, já mostraram isso. Na indústria de carne bovina, as férias coletivas são um instrumento corriqueiro para regular a oferta e demanda regional, o que não significa que os pecuaristas aceitem sem reclamar.

Pecuaristas criticam

Em nota, a Associação de Criadores de Mato Grosso (Acrimat) criticou a decisão de grandes frigorífico de paralisar a produção. A entidade de classe não menciona empresas específicas no comunicado.

“Essa situação tem promovido transtornos e prejuízos incalculáveis aos produtores, principalmente os registrados nos últimos dias quando, coincidentemente, os frigoríficos promoveram quase que simultaneamente a extensão de suas escalas, baixando os valores da arroba do boi”, criticou a associação.

Procurada, a JBS não respondeu até a publicação desta reportagem.

NOTA PÚBLICA DO SINDIFRIGO/MT

O mercado da carne bovina tem vivido de ajustes e acomodações em um novo momento para o setor.

Não há apenas um motivo que responda pela atual situação em que se encontram produtores e indústria.

É necessário uma visão macro e externa do setor para se encontrar respostas razoáveis para as seguintes questões:

  • Houve o ingresso do Brasil em novos mercados;
  • A valorização significativa do produto inibiu o mercado interno;
  • O ciclo anterior da pecuária  diminuiu a oferta de animais;
  • O ciclo atual da pecuária trouxe maior oferta de gado;
  • Há um custo elevado da alimentação e do manejo;
  • Existe uma significativa diferença entre a indústria exportadora e as que detém apenas o mercado interno;
  • Ocorre uma diferença monstruosa de mercados que se reflete em diferentes preços para a mesma arroba;

Se para cada item acima citado pode-se suscitar dúvidas e perguntas imagine-se a junção de todos eles?

A valorização nominal do quilo do boi ou da carne não correspondem necessariamente à obtenção de margem da atividade nem para o pecuarista tão pouco para a indústria.

Neste universo há um desequilíbrio perigoso em toda cadeia, assim como existem produtores ganhando e perdendo, existem também indústrias neste mesmo contexto.

Como conhecedores dos números, percebemos empresas acumulando prejuízos a meses e não nos cabe intervir em suas tomadas de decisões quanto à maneira de estancar estes prejuízos.

Para cada unidade frigorífica existem milhões investidos, altos valores em fluxo de caixa, seres humanos envolvidos e uma responsabilidade social e econômica daqueles que dirigem esta indústria. Fechar uma indústria lucrativa seria insano. Manter uma planta aberta por muitos meses com prejuízo seria irresponsabilidade.

Fechar uma indústria lucrativa seria insano. Manter uma planta aberta por muitos meses com prejuízo seria irresponsabilidade.

Usar do poder econômico para manobras visando o lucro a qualquer custo, como se pode alegar, é crime que abominamos.

Se neste momento a indústria responsável busca alternativas, ainda que a custos altos de adequação de mercado, não podemos de forma alguma pré julgá-la ou acusá-la.

Temos confiança, conhecemos e acreditamos nos propósitos de nossos associados. O Sindicato das Indústrias de Frigorífico de Mato Grosso (Sindifrigo-MT), nunca se esquivou de debates e neste momento de ajustes e dificuldades se coloca aberto ao diálogo.

Cuiabá, MT, 10 de agosto de 2022

Paulo Bellincanta
Presidente do Sindifrigo MT e diretor executivo da Abiec

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