França enfrenta eleições ‘consequentes’; derrota da extrema direita leva Macron a apostar

A decisão chocante do Presidente Macron equivale a um lançamento de dados sobre o seu futuro político e o da França.

A eleição antecipada convocada pelo presidente Emmanuel Macron após a derrota contundente de domingo para a extrema direita nas eleições para o Parlamento Europeu será a votação legislativa mais fatídica da França em décadas, disse o ministro das Finanças da França nesta segunda-feira.

A decisão chocante de Macron equivale a um lançamento de dados sobre o seu futuro político e o da França. Imediatamente derrubou o euro , atingindo também as ações francesas e os títulos do governo.

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As eleições de 30 de Junho e 7 de Julho poderão, pela primeira vez, conferir muito poder ao Rally Nacional (RN), de extrema-direita, de Marine Le Pen, se conseguirem transformar a sua crescente popularidade numa vitória também a nível interno – onde a votação também teria a ver com a confiança de que poderia dirigir um grande governo europeu.

Se o RN eurocéptico e anti-imigração obtivesse a maioria, Macron permaneceria presidente por mais três anos e continuaria a ser responsável pela defesa e pela política externa.

Mas perderia o poder de definir a agenda interna, que vai desde a política económica à segurança e imigração.

As eleições antecipadas também ocorrerão pouco antes do início das Olimpíadas de Paris, em 26 de julho, quando todos os olhos estarão voltados para a França.

“Esta será a eleição parlamentar mais importante para a França e para os franceses na história da Quinta República”, disse o ministro das Finanças, Bruno Le Maire, à rádio RTL, referindo-se à constituição de Charles de Gaulle de 1958, considerada o ponto de partida da política francesa moderna.

Uma fonte próxima a Macron disse que o presidente espera mobilizar os eleitores que se abstiveram de votar no domingo.

“Estamos buscando a vitória”, disse a fonte. “Há audácia nesta decisão, assunção de riscos, que sempre fez parte do nosso DNA político”.

Mas outra fonte próxima de Macron disse: “Eu sabia que esta opção estava em cima da mesa, mas quando se torna realidade é outra coisa… não dormi ontem à noite”.

O euro caiu 0,5% nas primeiras negociações europeias, enquanto as ações blue-chip de Paris caíram 2%, lideradas por perdas acentuadas nos bancos BNP Paribas e Société Générale.

Liderado por Jordan Bardella, de 28 anos, o RN obteve cerca de 32% dos votos europeus de domingo, mais do dobro dos 15% da chapa de Macron, mostram as pesquisas de saída, em parte graças à raiva dos eleitores com a aparente arrogância de Macron e às preocupações com a imigração e a custo de vida. Os socialistas ficaram a poucos passos de Macron, com 14%.

A decisão de Macron visa tirar o melhor partido da sua posição fraca, recuperando a iniciativa e forçando o RN a entrar em modo eleitoral mais rapidamente do que gostaria.

Alguns líderes do RN pareciam ter sido apanhados desprevenidos, embora já em Fevereiro uma fonte do RN tenha dito à Reuters que estavam a preparar-se para a possibilidade de tal cenário, analisando quais os candidatos que poderiam apresentar.

“Não pensávamos que seria imediatamente após as eleições europeias, mesmo que quiséssemos que assim fosse”, disse o vice-presidente do RN, Sebastien Chenu, à rádio RTL. “As eleições raramente são uma dádiva e, neste contexto, não o são”.

Bardella será o candidato do partido a primeiro-ministro, acrescentou.

Parlamente pendurado?

O resultado é difícil de prever. É provável que dependa do grau de empenhamento dos eleitores de esquerda e de centro-direita na ideia de bloquear o poder da extrema-direita. A participação eleitoral no domingo foi de cerca de 52%, disse o Ministério do Interior.

Uma pesquisa não oficial do final do ano passado, amplamente vazada, a única recente sobre eleições antecipadas, mostrou que o RN estava no caminho certo para dobrar ou triplicar sua pontuação e possivelmente obter a maioria, mas data de dezembro e seriam necessárias pesquisas mais recentes para tenha uma imagem clara.

O partido Renascença de Macron tem atualmente 169 legisladores na Câmara dos Deputados, de um total de 577. O RN tem 88.

O Eurasia Group disse que o RN não era a escolha certa para obter a maioria, prevendo um parlamento suspenso como o cenário mais provável.

“Confrontado com outro Parlamento suspenso, (Macron) tentará formar uma aliança mais ampla com o centro-direita ou centro-esquerda, possivelmente nomeando um primeiro-ministro de um desses campos”, afirmou o grupo de reflexão numa nota.

“Prevemos uma luta perdida por uma reforma interna séria ou pela redução estrita do défice nos restantes três anos do mandato de Macron”, afirmou, acrescentando: “Emmanuel Macron fez uma aposta enorme, com a sua própria reputação e legado e com o futuro da França. “

O péssimo desempenho da Renaissance também atingiu duramente os liberais a nível da UE, com o grupo Renew ao qual pertence caindo de 102 para 80 eurodeputados.

Tudo isto enfraquecerá a influência de Macron na formulação de políticas mais amplas da União Europeia, disseram vários diplomatas à Reuters. “Ele está enfraquecido na França e ainda mais na Europa”, disse um diplomata.

No que diz respeito aos Jogos Olímpicos, contudo, o Comité Olímpico Internacional foi rápido a dizer que as eleições antecipadas não teriam impacto.

Enquanto isso, o Kremlin disse na segunda-feira que acompanharia de perto as eleições antecipadas na França, dado o que chamou de atitude “abertamente hostil” da liderança francesa em relação à Rússia por causa da guerra na Ucrânia.

Fonte: Reuters

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ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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