
Incertezas com tarifa de 50% imposta por Trump congelam negócios no mercado do boi gordo e revelam cenário instável para a pecuária brasileira
O mercado físico do boi gordo entrou em compasso de espera diante da instabilidade provocada pelo anúncio de uma tarifa adicional de 50% sobre produtos brasileiros, incluindo a carne bovina, feito pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com início previsto para 1º de agosto. A medida caiu como uma bomba sobre a cadeia pecuária, levando frigoríficos a se retirarem das negociações de compra em várias regiões do país.
Segundo análises da Safras & Mercado e da Agrifatto, essa decisão ameaça diretamente cerca de 15% das exportações brasileiras de carne bovina, parcela atualmente destinada ao mercado norte-americano.
Frigoríficos fora do jogo
Desde quinta-feira (10/07), diversos frigoríficos interromperam as aquisições de boiadas gordas, optando por trabalhar com escalas de abate já preenchidas e contratos a termo. A paralisação é generalizada nas praças do Sudeste e Centro-Oeste, onde os compradores aguardam uma definição mais clara dos impactos comerciais da medida antes de voltar ao mercado .
De acordo com a Agrifatto, a média das escalas de abate se manteve entre 8 e 9 dias, o que sugere que as indústrias ainda operam com certa tranquilidade, mas com postura defensiva.
Preços do boi gordo mostram estabilidade, mas futuro é incerto
Mesmo com a saída dos compradores, os preços da arroba do boi gordo ficaram estáveis em diversas praças, ao menos no curto prazo. Em São Paulo, o preço médio foi de R$ 310/@, considerando o “boi comum” e o “boi-China” . Já em outras regiões, como Mato Grosso e Minas Gerais, os valores oscilaram levemente:
- Goiás (Goiânia): R$ 290, queda de 1,69%
- Minas Gerais (Uberaba): R$ 295, recuo de 1,67%
- Mato Grosso do Sul (Dourados): R$ 305, baixa de 1,61%
- Mato Grosso (Cuiabá): R$ 315, estável
No mercado futuro, no entanto, o clima é outro. A B3 registrou forte desvalorização em todos os contratos. O vencimento para julho/25, por exemplo, caiu 2,26%, fechando a R$ 302,85/@ .
Carne bovina perde espaço para frango
Com a incerteza no ar e o aumento do custo final da proteína bovina exportada, a carne de frango tem ganhado competitividade, tanto no mercado interno quanto no externo. Segundo Fernando Iglesias, analista da Safras & Mercado, isso pressiona ainda mais os frigoríficos que atuam com foco na exportação .
No atacado, o quarto dianteiro do boi subiu 1,35% (R$ 18,75/kg), enquanto o quarto traseiro caiu 2,17%, sendo cotado a R$ 22,50/kg. O consumo doméstico, que poderia ser uma alternativa para absorver parte da produção, tende a desacelerar na segunda quinzena do mês, reduzindo as expectativas por novos reajustes .
Exportações ameaçadas, mas ainda em alta
Apesar das turbulências, os dados das exportações de carne bovina brasileira em julho (até o dia 4) ainda mostravam crescimento: foram 48,7 mil toneladas, gerando US$ 269,9 milhões, com alta de 48,4% no valor médio diário em relação ao mesmo período de 2024 . O preço médio da tonelada exportada subiu para US$ 5.541,00, refletindo a forte demanda internacional — mas agora sob ameaça com a tarifação dos EUA.
Perspectivas e alerta ao mercado do boi gordo
Analistas e entidades do setor têm alertado que, caso a tarifa se confirme, o Brasil perderá competitividade frente a concorrentes diretos, como Austrália, Argentina e Uruguai. Esses países poderão ocupar o espaço deixado pela carne brasileira no disputado mercado norte-americano, acirrando a concorrência global e reduzindo margens da cadeia produtiva nacional.
Se o impasse persistir, a tendência é de que o preço da arroba pressione para baixo, principalmente se o consumo interno não absorver a oferta represada. O “boi-China”, por ora, ainda sustenta os R$ 310/@, mas a manutenção desse patamar dependerá da resolução da crise diplomática e comercial nos próximos dias.
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