Frigoríficos fora das compras? Cruze os braços, pecuarista

A maioria dos frigoríficos ficou fora das compras na quinta e na sexta-feira; enquanto o mercado físico travava, a B3 mostrava um retrato mais dinâmico

Por Lorenzo Junqueira* – Nos últimos dias, o mercado do boi gordo viveu momentos de oscilação e tensão. A maioria dos frigoríficos ficou fora das compras na quinta e na sexta-feira, ou seja, dois dias de escala ficaram descobertos. Esse tipo de movimento não acontece por acaso: costuma ser uma estratégia para esfriar o mercado e pressionar o produtor a aceitar preços mais baixos.

Segundo a Scot Consultoria, indústrias em São Paulo deixaram de operar, mesmo aquelas que não exportam diretamente aos EUA. A consequência imediata foi a redução no preço da arroba, especialmente nas regiões com maior dependência do mercado americano.

A carne brasileira ficou artificialmente cara nos Estados Unidos: de acordo com a Agrifatto, com a nova tarifa, o preço da tonelada exportada ao país salta de US$ 5.540 para US$ 8.590, um aumento de 55%. O valor, considerado exorbitante, tira a competitividade da proteína brasileira frente a fornecedores como Austrália, Argentina e Uruguai, que seguem com acesso facilitado ao mercado americano .

Enquanto o mercado físico travava, a B3 mostrava um retrato mais dinâmico — e até surpreendente.

O tarifaço balançou o mercado, mas a B3 reagiu rápido

Na quinta-feira (10/07), os contratos futuros do boi gordo na B3 despencaram, em reação ao anúncio do tarifaço de 50% sobre a carne bovina importada. A notícia pegou o setor de surpresa e gerou grande incerteza, principalmente quanto aos possíveis impactos nas exportações e na demanda interna.

No entanto, na sexta-feira (11/07), o mercado futuro virou o jogo. Todos os contratos com vencimento ainda em 2025 — inclusive os mais curtos, como os de julho e agosto — fecharam em alta. Esse movimento pode indicar que os agentes do mercado apostam em uma solução de curto prazo ou, ao menos, em um novo equilíbrio diante da entrada em vigor do tarifaço já em agosto.

Tarifa ainda não impactou o mercado real

É importante lembrar que, por enquanto, a nova tarifa ainda não afetou as vendas reais de carne bovina — ela só entra em vigor no próximo mês. Ou seja, o impacto prático sobre as escalas e os preços pagos ao produtor ainda não se concretizou.

O Brasil embarcou 9,39 milhões de toneladas em produtos agropecuários para os EUA em 2024, aumento de 8,1% em um ano. Em valor, as exportações para o mercado norte-americano cresceram 23,0% para um recorde de US$ 12,08 bilhões. A carne bovina representou 11,7% desse total.

No primeiro semestre de 2025, os EUA importaram 181 mil toneladas de carne bovina do Brasil, gerando US$ 1,04 bilhão em receita, o que representa 11,8% do volume total exportado pelo país. São Paulo e Goiás são os estados mais afetados, com quase um quarto de suas exportações de carne destinadas ao mercado americano .

Vale destacar que as exportações começaram aceleradas neste mês de julho. A média diária embarcada está próxima de 12,1 mil toneladas — um avanço de 18,1% em relação à média diária de julho do ano passado, que foi de 10,3 mil toneladas.

Estamos vivendo um momento de ajuste psicológico e especulativo no mercado. Os compradores seguem testando os limites de baixa, enquanto os contratos futuros tentam antecipar os próximos movimentos.

A oportunidade: esfriar o mercado com silêncio e firmeza

Neste cenário, uma ação simples e coordenada pode gerar um impacto positivo para todo o setor: não negociar com a indústria durante a próxima semana.

A recomendação é clara: evite qualquer contato com os compradores — nada de ligações, mensagens ou antecipação de ofertas. Silêncio total. Quanto menos o mercado ouvir do produtor, maior será a pressão do outro lado.

Se os frigoríficos já passaram dois dias fora das compras, e a semana seguir com resistência por parte dos pecuaristas, a balança pode começar a pender para o nosso lado. Quem estiver mais apertado nas escalas vai precisar reagir — e isso tende a se refletir em melhores preços.

É claro que sempre haverá exceções. Quem tiver compromissos inadiáveis ou enfrentar situações emergenciais na fazenda pode, sim, negociar. Mas, fora esses casos pontuais, a estratégia é clara: segurar o gado, manter o silêncio e deixar a indústria sentir a falta de oferta.

Pecuária exige mais do que manejo: exige leitura de mercado

É nesses momentos que o produtor precisa pensar além da porteira. Quem vende com pressa, muitas vezes entrega valor. A decisão de esperar o momento certo pode significar arrobas mais valorizadas no fim do mês.

A pecuária de corte é um jogo de longo prazo, mas cada movimento tático — como este agora — pode fazer diferença no caixa da fazenda.

Lorenzo Junqueira é pecuarista na Agro Bacuri e fundador do Balcão do Boi

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