Fundador Embrapa, Eliseu Alves, se despede aos 92 anos

“Nada me deu mais prazer na vida e justificou eu ter vindo à Terra do que a criação da Embrapa”. Com essas palavras, um dos mais longevos colaboradores da Empresa despediu-se de “sua mais nobre obra”.

Com discurso emocionante, o economista agrícola se desliga da empresa que ajudou a criar. “Nada me deu mais prazer na vida e justificou eu ter vindo à Terra do que a criação da Embrapa”. Com essas palavras, um dos mais longevos colaboradores da Empresa despediu-se de “sua mais nobre obra” durante a última reunião de gestores da estatal. Eliseu Roberto de Andrade Alves, 92, anunciou  o seu desligamento da empresa que ajudou a fundar.

Participante do grupo que concebeu a instituição, Eliseu Alves integrou a sua primeira Diretoria-Executiva, entre os anos de 1973 e 1979, e foi seu presidente de 1979 a 1985. Depois, comandou a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), entre 1985 e 1990, e, desde então, atuava como assessor da Presidência da Embrapa.

Um novo modelo de articulação institucional

Ele elaborou os conceitos básicos que serviriam de alicerce à Empresa e criariam a sua identidade. A partir do modelo institucional imaginado por Alves, foram criados centros de pesquisa por produtos, temas e características regionais. É igualmente dele a concepção de um sistema nacional de pesquisa agropecuária reunindo institutos estaduais e universidades, em articulação direta com os produtores, e liderado pela Embrapa.

Um de seus projetos mais audaciosos foi a qualificação de talentos no exterior. Cientistas brasileiros foram enviados, aos milhares, a programas de pós-graduação de referência em diversos países. De volta ao Brasil, esses profissionais ajudaram resolver problemas concretos dos produtores e, assim, ajudaram a desenvolver um sistema de pesquisa de excelência que levou o País ao posto de maior autoridade mundial em agricultura tropical.

“O nosso trabalho conquistou reconhecimento internacional, especialmente nos Estados Unidos, onde aprendemos os princípios para fazer uma Embrapa bem brasileira, completamente brasileira, capaz de responder aos problemas do Brasil,” ressaltou.

“A ciência é uma arma poderosa”

Alves contou que a intenção, na época, foi desenvolver uma ciência genuinamente brasileira para garantir a segurança alimentar da população. “Como sabemos que deu certo? É só olhar para a produção de alimentos. Enviamos produtos alimentícios a 150 países, alimentamos o povo brasileiro, produzimos uma renda que tem sustentado o crescimento da economia nacional. A Embrapa é um sucesso que mostra que a ciência é uma arma extremamente poderosa,” declarou orgulhoso.

Eliseu Alves

Atento às questões sociais no campo, Eliseu Alves dedicou parte de sua carreira ao estudo da pobreza rural. Chamou a atenção para o fato de o pequeno produtor comprar insumos por valores mais altos que os grandes produtores e vender a sua produção por preços mais baixos.

Segundo ele, esse desequilíbrio contribui, em grande medida, para a existência de 3,9 milhões de estabelecimentos rurais pobres no País. Alves apontou essas desigualdades como um exemplo das imperfeições de mercado, e defendeu maior organização dos produtores para solucionar o problema.

Para encerrar, Eliseu Alves sinalizou: “Como cientistas, nós temos a capacidade de pegar o que é mais produtivo na ciência e transformar em riqueza. Isso transformou a Embrapa no coração do Brasil”, declarou. Sua fala de improviso fez com que o auditório, lotado por gestores da Empresa, o aplaudisse de pé.

“Com nosso esforço, sigamos mantendo a Embrapa no que ela faz de melhor. Não pelo orgulho de manter a empresa, mas pelo orgulho de ajudar a matar a fome do Brasil e do mundo inteiro. Vocês são o orgulho da nossa agricultura. Continuem produzindo ciência, gerando conhecimento e ajudando esses resultados a se transformarem em coisas úteis para o brasileiro. Parabéns a todos os companheiros envolvidos na fantástica aventura que enfrentar a fome do mundo inteiro.”

“A Embrapa é de todos os que a construíram”

Em sua despedida, Alves fez questão de citar um empregado em especial, o técnico Walter Eugênio de Castro. Lotado no Gabinete da Presidência, Castro ingressou na Embrapa no ano de sua fundação, em 1973. Por sua contribuição longeva, foi homenageado por Eliseu Alves como representante de todos os empregados que atuaram na Empresa.

“A Embrapa não é produto meu, é de todos os que estão aqui. Ela pertence aos empregados como o Walter, que a carregaram e a ajudaram a chegar ao estágio atual”, declarou o ex-presidente.

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