Negociação entre a líder brasileira e a norte-americana promete consolidar o setor de silos agrícolas no país, com potencial para criar uma gigante com presença dominante e impacto direto na infraestrutura do agronegócio na armazenagem de grãos
Um novo capítulo na história da armazenagem agrícola pode estar prestes a ser escrito. A brasileira Kepler Weber, líder nacional do setor com cerca de 35% de participação de mercado, está em processo de negociação exclusiva para uma fusão com a GSI, empresa norte-americana controlada pelo fundo American Industrial Partners (AIP), terceira maior do mercado no Brasil, com 7% de participação. A junção das duas pode dar origem a uma multinacional inédita no setor de armazenagem de grãos, com potencial de dominar grande parte das negociações de silos agrícolas no país.
Uma fusão estratégica para o agro brasileiro
De acordo com avaliação do banco Citi, a combinação das operações é vista como “um atalho para a liderança”absoluta. A força consolidada da Kepler no Brasil, aliada à agressiva estratégia de crescimento da GSI, especialmente desde sua compra pela AIP por US$ 700 milhões em 2024, pode resultar em sinergias altamente vantajosas para ambas as companhias. A GSI tem focado em preços competitivos e financiamento facilitado, mirando dobrar sua fatia de mercado nos próximos cinco anos.
Com a fusão, a nova empresa seria capaz de disputar praticamente todas as negociações de armazenagem do país, conforme apontam os analistas André Mazini, Kiepher Kennedy e Piero Trotta, do Citi.
Déficit estrutural amplia oportunidade de crescimento
O Brasil possui um conhecido déficit estrutural de armazenagem de grãos. Hoje, a capacidade estática é suficiente para apenas 70% da produção anual, contra mais de 100% nos Estados Unidos. Entre 2016 e 2024, a produção brasileira de grãos cresceu 6% ao ano, enquanto a capacidade de armazenamento avançou apenas 2,5%. Segundo a consultoria Cogo Inteligência em Agronegócio, essa relação pode cair para 55% até 2033, aumentando ainda mais o gargalo logístico.
A nova companhia, portanto, estaria bem posicionada para suprir essa carência de infraestrutura, consolidando-se como uma fornecedora-chave para a expansão do agronegócio brasileiro — especialmente considerando a vizinhança com mercados relevantes como a Argentina.
Impacto global e possíveis desdobramentos
A operação da GSI é fortemente concentrada na América do Norte, que respondeu por 60% de suas vendas em 2023, com a América do Sul representando outros 15% de seu faturamento de US$ 1 bilhão. No cenário internacional, a empresa disputa espaço com players como a canadense AGI (Ag Growth International), a americana Brock Grain Systems(ligada à Berkshire Hathaway), a Sukup Manufacturing e a espanhola Symaga — todos grandes nomes da armazenagem global.
Caso a transação avance, um dos desdobramentos mais prováveis é uma OPA (Oferta Pública de Aquisição), retirando a Kepler do mercado de ações. Isso porque a GSI pertence a um fundo de private equity, estrutura que geralmente não mantém empresas listadas. Segundo o Citi, embora nenhuma proposta oficial tenha sido feita, um fechamento de capital seria um movimento natural após a fusão.
Estrutura acionária favorece negócio de fusão entre Kepler Weber e GSI
Atualmente, a Kepler Weber vale R$ 1,64 bilhão (aproximadamente US$ 303 milhões) e negocia a um múltiplo de 6 vezes o Ebitda estimado para 2026 — abaixo dos níveis históricos do setor. Em comparação, quando a AGCO tentou adquirir a empresa em 2017, a proposta representava 12 vezes o Ebitda da época. Com esse múltiplo, a empresa poderia ultrapassar os R$ 3 bilhões em valor de mercado.
A empresa é uma corporation, sem um controlador definido. Os maiores acionistas são a Trígono Capital (15,3%) e a família Heller (11,6%), com os outros 70% das ações dispersos no mercado. Essa pulverização favorece a estruturação de uma oferta concentrada caso o negócio avance com a GSI.
Uma fonte próxima às negociações revelou que ainda não há proposta concreta: “Estão avaliando a empresa e estudando como estruturar essa combinação de negócios. Esses 90 dias serão determinantes para isso.”
A possível fusão entre Kepler Weber e GSI pode não apenas redefinir o cenário da armazenagem agrícola no Brasil, mas também impactar a cadeia de valor do agronegócio como um todo, oferecendo maior capacidade de escoamento da produção e incentivando o investimento em infraestrutura. Em um setor vital para a economia brasileira, a criação desse novo gigante global pode ser um divisor de águas para o futuro do agro no país e na América do Sul.
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