
Segundo estudos da Embrapa, perdas causadas por geadas chegam a comprometer até 70% da produção em determinadas regiões, quando não há proteção adequada
A geada é uma das maiores ameaças à fruticultura brasileira. Esse fenômeno ocorre quando a temperatura do ar, próxima à superfície, cai a ponto de formar cristais de gelo sobre plantas e solos. Para espécies sensíveis, como o pêssego, a florada exposta ao frio intenso pode comprometer completamente a produção. Culturas como uva, maçã e café também figuram entre as mais vulneráveis.
Segundo estudos da Embrapa, perdas causadas por geadas chegam a comprometer até 70% da produção em determinadas regiões, quando não há proteção adequada. É nesse cenário que a técnica de congelamento por aspersão vem ganhando protagonismo como uma solução eficiente e tecnicamente comprovada.
Congelar para salvar: o paradoxo que faz sentido
Aplicada com precisão durante a madrugada, a técnica de congelamento consiste na liberação contínua de uma fina lâmina de água sobre as plantas — cerca de 5 milímetros por hectare, de acordo com recomendações técnicas. A água é liberada por aspersores assim que as temperaturas começam a despencar e, ao congelar, libera calor latente de fusão, protegendo a planta de atingir temperaturas destrutivas.
“Quando há o congelamento da água, ela perde calor. Esse calor é transferido para a planta”, explica Maurício Dall’Acqua, extensionista da Emater-RS, responsável pela aplicação do método. Segundo ele, isso mantém as estruturas reprodutivas das plantas na faixa de 0 °C — temperatura tolerável para espécies como o pêssego. A geada, por sua vez, que se formaria diretamente sobre a flor e danificaria tecidos, é evitada.
Casos reais: a proteção na prática
Na propriedade da família de Carli, em Casca (RS), os pomares de pêssego — que se estendem por seis hectares — foram completamente cobertos pela camada de gelo criada artificialmente. A madrugada de 14 de agosto registrou -4 °C, mas as flores resistiram ilesas. Ali também se cultivam dois hectares de uva, igualmente protegidos.
Segundo a Emater, a técnica se mostra eficiente até mesmo em temperaturas extremas, chegando a proteger as plantas em até -5,5 °C negativos. Não é por acaso que o método é considerado um dos mais seguros e eficazes, com décadas de aplicação em diversos tipos de fruticultura no Brasil.
Exigências técnicas e cuidados essenciais
Apesar da eficácia, a técnica exige planejamento, estrutura e conhecimento técnico. É necessário contar com um sistema de irrigação por aspersão em pleno funcionamento, sensores de temperatura bem calibrados e disponibilidade hídrica. Em locais com restrição de água, o uso deve ser criterioso e acompanhado por técnicos capacitados.
O investimento inicial pode ser significativo, mas estudos apontam que os ganhos em produtividade e a preservação de safras inteiras justificam o custo. Em regiões de risco constante, a aspersão anti-geada se torna uma ferramenta de sobrevivência econômica.

Incertezas climáticas e a importância da antecipação
Com as mudanças climáticas, eventos extremos como geadas fora de época tornam-se mais frequentes. A imprevisibilidade obriga o setor produtivo a estar cada vez mais preparado. Nesse novo contexto, tecnologias que pareciam opcionais há alguns anos se tornam parte integrante da estratégia produtiva.
A técnica de congelamento por aspersão desafia a lógica comum: usar gelo para salvar flores. Mas é exatamente esse conhecimento técnico, desenvolvido ao longo de anos por instituições como a Emater e a Embrapa, que permite ao agricultor transformar ameaças climáticas em oportunidades de resiliência. Em vez de lamentar perdas, produtores preparados colhem resultados — mesmo sob temperaturas negativas.
Seu pomar está pronto para enfrentar a próxima geada? Converse com um engenheiro agrônomo, avalie as opções de proteção disponíveis para sua cultura e invista em soluções testadas e comprovadas. A geada não espera. A prevenção, sim, está ao seu alcance.
Escrito por Compre Rural
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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