Genética do RS amacia carne brasileira com crescimento da inseminação artificial

Cruzamento entre vacas zebuínas criadas no centro-oeste e norte do país e touros de raças britânicas do Sul melhoram a qualidade do rebanho para atender exigência do consumidor

Criador de gado zebuíno em Alta Floresta (MT), quase na divisa com o Pará, Francisco Francioli Pedroso diversificou os animais nelore – base do rebanho brasileiro, caracterizado pela cor branca e cupim no dorso.

Há dois anos, o produtor passou a inseminar 30% de suas vacas nelore com sêmen de touro angus – raça britânica criada predominantemente no Rio Grande do Sul, na Argentina e no Uruguai.

O cruzamento gera animais pretos, valorizados pela indústria em razão da qualidade superior da carne – cada vez mais apreciada pelos consumidores.

– Os frigoríficos pagam mais pela arroba de bezerros meio sangue, cruza nelore e angus – relata Pedroso.

Além da bonificação, o produtor encurtou o período médio até o abate – de 26 meses para 20 meses. E, para completar, passou a exportar gado em pé cruzado para o Irã no final de 2017.

– Os importadores só querem saber dos animais pretos – diz o criador.

Na fazenda de Cleverton Corazza, em Dois Irmãos do Buriti (MS), o cruzamento industrial entrou inicialmente para controlar problemas de dermatofilose no rebanho – doença de pele que ataca principalmente os zebuínos.

– Comecei os cruzamentos meio empurrado e gostei tanto que só faço isso agora – conta o produtor, que insemina hoje 100% das vacas em idade reprodutiva, cerca de 1,1 mil animais.

Além de controlar a enfermidade, reduzindo o custo com medicamentos, o criador aumentou em 20% o ganho de peso do rebanho e também passou a receber bonificação na indústria – de 6% a 10%, dependendo do frigorífico.

Os resultados positivos do casamento zebu e britânico, gerando a heterose (choque de sangue que resulta em crias mais produtivas em relação aos pais), são comprovados cientificamente. Somando o abate mais rápido e o peso superior, os ganhos do cruzamento variam de 20% a 30%, destaca Pietro Baruselli, professor e pesquisador da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de São Paulo (USP):

– Isso sem contar os benefícios em qualidade, incorporando à carcaça do zebu maciez e suculência.

Consumidores apreciam carne macia e padronizada

Os ganhos do cruzamento industrial vem ajudando a puxar para cima os números do mercado de inseminação artificial de bovinos de corte no Brasil nos últimos anos.

– A carne nelore é mais rígida, com zero marmoreio (gordura intramuscular). E o cruzamento com gado britânico consegue justamente melhorar a qualidade da carcaça, com maciez, suculência e padronização dos cortes, características buscadas pelos consumidores – destaca Sergio Saud, presidente da Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia).

Grande parte das doses de sêmen inseminadas em vacas zebu é de touros criados no Rio Grande do Sul – que concentra o maior rebanho de raças britânicas e sintéticas do país. E a melhor forma de levar essa genética para o centro e norte do país é “dentro do botijão”, explica Fábio Barreto, diretor da Progen, central de inseminação com sede em Dom Pedrito, na Campanha:

– A adaptação de um touro britânico nessas regiões tropicais, para a reprodução natural, é muito difícil pelas diferenças climáticas – frisa Barreto.

Os touros que vão para centrais de inseminação produzem em média 50 mil doses de sêmen por ano. As coletas do material costumam ser feitas duas vezes por semana. Com 60 touros de raças britânicas em coleta, a Progen destina hoje cerca de 80% das doses de sêmen para o Centro-Oeste e o Norte. Os animais que despertam o interesse de centrais são os que se destacam dentro dos programas de avaliação genética – com índices técnicos diferenciados.

– São o suprassumo da carne, representam menos de 1% dos reprodutores – diz João Paulo Schneider da Silva, diretor comercial da GAP Genética, de Uruguaiana, que tem 31 touros angus e brangus em centrais de inseminação de todo o país.

Os animais criados no Rio Grande do Sul, próximo à fronteira com a Argentina e o Uruguai, são reconhecidos nacionalmente pela qualidade superior.

– A genética melhorada aqui é adaptada para produzir em qualquer região do Brasil – destaca Reynaldo Salvador, gestor da Cia Azul, de Uruguaiana.

A cabanha gaúcha tem 12 reprodutores em coleta em centrais, todos da raça angus, os quais dão retorno financeiro cinco vezes maior do que os touros novilheiros da propriedade.

Genética do RS amacia carne brasileira com crescimento da inseminação artificial
Foto: Divulgação/Assessoria

Fonte: Gaucha ZH, por Joana Colussi

(* A repórter viajou a convite da Alta Genetics)

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