Genética ou nutrição? Especialista questiona evolução do Nelore e atribui 60% dos resultados ao manejo

Comparativo com índices zootécnicos do lendário touro Golias (1962) é usado para provar que o desempenho atual deve mais à ‘comida no cocho’ do que à seleção genética moderna

Uma comparação inédita entre bois campeões da década de 1960 e o rebanho comercial de 2023 levantou dúvidas sobre a real eficiência dos programas de melhoramento genético no Brasil. Durante o podcast MF Cast, a evolução do Nelore foi confrontada com a hipótese de que a “genética de ponta” leva os créditos por um trabalho que, na verdade, está sendo feito pela nutrição e pelo manejo. A discussão aponta que, ao olhar para o passado, percebemos que animais pesados já existiam sem a tecnologia de hoje, o que muda a perspectiva sobre onde o pecuarista deve investir seu dinheiro.

A discussão ganhou corpo quando especialistas analisaram os índices zootécnicos atuais frente às promessas da seleção genética moderna. Segundo um dos convidados, se o progresso genético fosse tão agressivo quanto o marketing do setor sugere, os resultados biológicos seriam, hoje, quase surreais.

“Se nós tivéssemos tanta evolução assim, nós estávamos desmamando bezerro com 500 quilos. Nós estávamos inseminando bezerra dentro do útero da vaca”, disparou o especialista.

Para ele, a conta real da produtividade fecha de outra maneira: “Pra mim, 60% [da melhora] foi manejo”. Essa afirmação desafia a visão de que a evolução do Nelore depende apenas de DEPs (Diferença Esperada na Progênie) e genômica, colocando o “cocho” e o ambiente como protagonistas.

O paradoxo histórico na evolução do Nelore

Para sustentar a tese de que o manejo (nutrição e ambiente) tem um peso superior à alteração do DNA na composição final da carcaça, o debate trouxe à tona um exemplo histórico irrefutável: o lendário touro Golias, importado da Índia em 1962.

O argumento central é que, há mais de 60 anos, já existiam animais com desempenho fenomenal, muito antes da era tecnológica no campo.

“O Golias pesou, se não me engano, 1.100 kg naquela época, 1960, 1962. Agora nós vamos comparar com 2023, gente?”, questionou. A comparação sugere que o teto fisiológico de ganho de peso já existia no passado.

O caso citado do criatório Nelore do Golias (gerido por Fabinho), que trabalha com linhagens fechadas e consanguinidade desse raçador antigo, foi lembrado por ter produzido o animal primeiro colocado na recente “Confraria da Carcaça”. Isso reforça que a evolução do Nelore não depende necessariamente de “sangue novo”, mas de como se trabalha a genética que já está disponível.

Touro Nelore Golias IMP - genearca
Genearca Touro Nelore Golias IMP.

Genótipo x Fenótipo: O veredito do mercado

A discussão técnica por trás da polêmica toca no conceito básico de Fenótipo (o que vemos no animal), que é a soma de Genótipo (genética) + Ambiente (manejo).

Embora a seleção tenha refinado características raciais e de carcaça, o debate sugere que o salto de produtividade visto na balança se deve majoritariamente a três pilares do manejo:

  1. Nutrição: Suplementação estratégica.
  2. Sanidade: Controle de doenças.
  3. Bem-estar: Redução de estresse.

Mais do que uma disputa entre áreas, o debate encerra com um alerta crucial para a cadeia produtiva: a genética define o potencial máximo, mas é o ambiente que dita o resultado real. A provocação final deixada na mesa — “Evoluiu o manejo, comida… ou não evoluiu?” — sugere que o grande mérito da pecuária moderna talvez não tenha sido apenas criar novos animais, mas sim aprender, finalmente, a desbloquear o potencial de gigantes que a raça já produzia há décadas.

Para o produtor rural, a lição é financeira: investir em genética de ponta sem garantir o “combustível” nutricional adequado é um desperdício de capital. A evolução do Nelore, portanto, não é um voo solo da ciência, mas o resultado de um rebanho que, antes de ser melhorado, passou a ser melhor alimentado.

Escrito por Compre Rural

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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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