Genoma do capim-elefante abre caminho para pecuária produtiva e sustentável

Estudo liderado pela Embrapa quebra o código genético da forrageira mais produtiva do mundo (genoma do capim-elefante), prometendo reduzir custos com silagem e blindar a produção contra a seca.

Para o pecuarista, o ano se divide em dois momentos: a tranquilidade da safra, com pasto verde e abundante, e a apreensão da seca, onde cada quilo de silagem ou ração pesa no custo da arroba ou do litro de leite. A busca pela forrageira perfeita — aquela que produz muito, resiste ao tempo e engorda o gado — é o Santo Graal da pecuária tropical. Agora, a ciência brasileira deu o passo mais concreto para alcançá-lo. Uma equipe internacional, chefiada pela Embrapa Gado de Leite, publicou o sequenciamento completo do genoma do capim-elefante (Cenchrus purpureus).

Em termos práticos, os pesquisadores agora têm o “manual de instruções” completo da planta. Essa conquista científica muda o jogo do melhoramento genético, com impactos diretos na sua fazenda.

O Fim da “Roleta Genética”: Aceleração de Resultados

Até hoje, criar um novo tipo de capim era um processo longo e caro. Os pesquisadores faziam cruzamentos e precisavam esperar anos (às vezes mais de uma década) para a planta crescer e mostrar se era, de fato, boa em produção, resistente à seca ou nutritiva.

Com o genoma mapeado, tudo muda.

“Agora, podemos analisar o DNA de uma pequena muda e saber se ela carrega os genes para alta digestibilidade ou tolerância ao estresse hídrico”, explica um dos pesquisadores da Embrapa envolvido no estudo. “Isso é chamado de seleção genômica.”

O impacto em números:

  • Antes: O desenvolvimento de uma nova cultivar de capim-elefante (como a famosa BRS Capiaçu) levava de 10 a 15 anos.
  • Agora: Com o mapa genético, esse tempo pode ser reduzido para 7 ou 8 anos, cortando quase pela metade o tempo que a inovação leva para chegar ao produtor.

O Que Esperar no Campo? A Próxima Geração de Cultivares

O capim-elefante já é um gigante, com variedades que ultrapassam 300 toneladas de matéria verde por hectare/ano para silagem. Mas o genoma permite ir além da “quantidade” e focar na “qualidade” e “resiliência”.

As próximas gerações de capim-elefante, desenvolvidas com base nestes dados, terão foco em:

  1. Maior Valor Nutricional: Os cientistas buscam genes que aumentem o teor de proteína e reduzam a lignina (a parte “dura” da fibra). Isso resulta em um capim mais digestível, que se converte em mais carne e leite, diminuindo a necessidade de suplementação com concentrados caros.
  2. Blindagem Contra a Seca: O estudo já identificou regiões do DNA responsáveis pela eficiência no uso da água. O resultado será um capim que produz mais biomassa com menos chuva, garantindo a silagem mesmo em anos de “veranico”.
  3. Eficiência no Cocho e no Solo: Serão selecionadas plantas que aproveitam melhor os nutrientes do solo, como o nitrogênio. Isso significa que o produtor poderá atingir alta produtividade com um custo menor em adubação.

A Agenda Dupla: Produção e Sustentabilidade

O sequenciamento não visa apenas a produtividade do rebanho, mas também o papel da planta no ecossistema da fazenda. O capim-elefante é reconhecido por seu sistema radicular profundo e agressivo, um dos mais eficientes em sequestrar carbono da atmosfera e fixá-lo no solo.

Com o genoma, será possível selecionar variedades que sejam ainda melhores em capturar carbono, tornando a pecuária parte da solução climática e abrindo portas para o produtor no crescente mercado de créditos de carbono.

Além disso, o estudo abre caminhos para o uso energético. Variedades com mais fibra e poder calorífico podem ser usadas para a bioenergia (queima direta ou etanol de segunda geração), oferecendo uma fonte de diversificação de renda para o proprietário rural.

O Resumo para o Pecuarista

A decodificação do genoma do capim-elefante não é uma notícia científica distante. É o início de uma era onde a forrageira será desenhada sob medida para os desafios da pecuária moderna: ser altamente produtiva, de baixo custo operacional e resiliente às mudanças climáticas. Para o produtor do “Compre Rural”, isso se traduz em menos risco na seca e mais lucro no fechamento do mês.

Escrito por Compre Rural

VEJA MAIS:

ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

Quer ficar por dentro do agronegócio brasileiro e receber as principais notícias do setor em primeira mão? Para isso é só entrar em nosso grupo do WhatsApp (clique aqui) ou Telegram (clique aqui). Você também pode assinar nosso feed pelo Google Notícias

Não é permitida a cópia integral do conteúdo acima. A reprodução parcial é autorizada apenas na forma de citação e com link para o conteúdo na íntegra. Plágio é crime de acordo com a Lei 9610/98.

Siga o Compre Rural no Google News e acompanhe nossos destaques.
LEIA TAMBÉM