
Expansão chinesa no agro brasileiro levanta oportunidades e preocupações sobre soberania – tema de grande discussão atualmente. Estatal chinesa autoriza compra de terras no Brasil para plantio de grãos
A estatal chinesa Hulunbuir State Farm Group, referência em irrigação e manejo agrícola, deu um passo estratégico ao autorizar a compra ou arrendamento de terras agrícolas no Brasil para o cultivo de grãos como soja, milho e algodão. A decisão foi oficializada após uma reunião virtual com a Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), em março de 2025, e ocorre em um momento de demanda crescente da China por grãos brasileiros, especialmente soja, que já responde por mais de 60% das importações totais do país.
A medida surge em um cenário de aumento das importações chinesas de grãos, consequência do crescimento populacional e da necessidade de garantir segurança alimentar. Em 2024, o Brasil exportou para a China US$ 49,7 bilhões em produtos agropecuários, representando mais de 30% de todo o volume exportado pelo agronegócio nacional.
Esse movimento reforça a dependência comercial entre os dois países e abre espaço para novas formas de cooperação, mas também desperta preocupações sobre soberania e controle de recursos estratégicos.
Segundo o vice-presidente da SNA, Hélio Sirimarco, o Brasil possui 30 milhões de hectares de pastagens degradadas com potencial de conversão para agricultura sem necessidade de desmatamento. Esse dado foi decisivo para atrair o interesse da estatal chinesa, que busca expandir sua produção em áreas com capacidade produtiva ainda subutilizada.
Tecnologia chinesa e parcerias locais
A Hulunbuir planeja introduzir no Brasil tecnologias avançadas de irrigação, sementes adaptadas a climas extremos e modelos de manejo já testados na Mongólia Interior, onde enfrenta temperaturas de até -5°C. A SNA indicou a Embrapa como parceira estratégica para transferência de conhecimento, fornecimento de sementes adaptadas e apoio técnico ao longo da cadeia produtiva.
Além da produção agrícola, a estatal chinesa demonstrou interesse no setor pecuário, oferecendo intercâmbio tecnológico nessa área, e também em estreitar laços com startups do agro brasileiras por meio do SNASH, hub de inovação da SNA que reúne mais de 150 empresas.
A compra de terras e o debate sobre soberania e riscos jurídicos
Apesar da perspectiva de investimentos bilionários e modernização do campo, especialistas alertam para uma “ameaça silenciosa” à soberania nacional. A Constituição Federal, em seu artigo 190, e a Lei nº 5.709/1971 limitam a aquisição de terras por estrangeiros, mas empresas internacionais têm buscado estruturas jurídicas alternativas para contornar essas restrições, muitas vezes através do controle acionário de empresas formalmente brasileiras.
Esse cenário levanta preocupações sobre a perda de autonomia produtiva, principalmente em regiões estratégicas como o Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), que já despertam forte interesse de grupos estrangeiros. Juristas e associações defendem que a governança fundiária, a transparência nos contratos e a proteção patrimonial dos produtores devem ser prioridades para evitar desequilíbrios no mercado interno.
O que está em jogo
A entrada direta da China no setor produtivo brasileiro pode gerar ganhos econômicos e tecnológicos, mas também impõe desafios ao país. Por um lado, amplia-se o acesso a investimentos e inovação; por outro, cresce a dependência de um parceiro que já domina grande parte da pauta exportadora nacional. Como destacou o Farmnews, “soberania não se terceiriza” — um alerta para que o Brasil encontre equilíbrio entre atrair capital estrangeiro e preservar o controle sobre seus recursos naturais.
Diante do exposto, a autorização da Hulunbuir State Farm Group para comprar ou arrendar terras no Brasil simboliza um novo capítulo na relação sino-brasileira. O movimento conecta-se diretamente à demanda crescente da China por grãos brasileiros e pode fortalecer o agro nacional em termos de produtividade e inovação. No entanto, também exige atenção redobrada às questões jurídicas, ambientais e de soberania, para que os ganhos não sejam superados por riscos estratégicos de longo prazo.
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