
CMPC escolhe o Rio Grande do Sul para implantar nova fábrica de R$ 24 bilhões e desafia hegemonia de Três Lagoas (MS) na celulose mundial; Projeto Natureza e deverá produzir 2,5 milhões de toneladas de celulose de eucalipto por ano.
A chilena CMPC, uma das maiores produtoras globais de celulose, está investindo pesado no Brasil com um novo e ambicioso projeto: a construção de uma fábrica avaliada em R$ 24 bilhões no município de Barra do Ribeiro, na Região Metropolitana de Porto Alegre (RS). A planta, prevista para entrar em operação em 2029, é parte do chamado Projeto Natureza e deverá produzir 2,5 milhões de toneladas de celulose de eucalipto por ano.
O empreendimento reforça a aposta da empresa no país — que já representa 60% dos negócios globais da CMPC — e posiciona o Rio Grande do Sul como um novo polo estratégico da indústria global de base florestal, desafiando diretamente o domínio exercido pelo Mato Grosso do Sul na produção da matéria-prima.
Estratégia distinta das concorrentes no mercado da celulose
Enquanto gigantes como Suzano, Arauco e Bracell concentram seus investimentos bilionários em Três Lagoas (MS) e região, a CMPC opta por uma rota alternativa: o Sul do Brasil. A companhia já possui forte presença no estado gaúcho, com mais de 1.041 fazendas distribuídas por 73 municípios, totalizando 500 mil hectares — metade próprios e metade arrendados. Destes, cerca de 56% são utilizados para plantio de eucalipto e o restante é destinado à preservação ambiental.
“A gente tem frio por aqui? Tem, mas também temos variedades de eucalipto que são mais adaptadas, que são desenvolvidas pela própria CMPC”, explica Antonio Lacerda, diretor-geral de celulose da companhia no Brasil. Segundo ele, as condições climáticas e hídricas do Rio Grande do Sul são mais favoráveis do que em outras regiões como o Centro-Oeste, onde há longos períodos de estiagem.
A nova planta será instalada em área já pertencente à CMPC, a Fazenda Barba Negra, que abriga um viveiro de mudas e um centro de pesquisa genética de eucaliptos. Para viabilizar a fábrica, será necessário o acréscimo de 80 mil hectares de floresta plantada.
Detalhes do Projeto Natureza
- Local: Barra do Ribeiro (RS), a 26 km da fábrica atual em Guaíba
- Investimento total: R$ 24 bilhões
- Capacidade de produção: 2,5 milhões de toneladas/ano
- Previsão de operação: Segundo semestre de 2029
- Geração de empregos: Cerca de 12 mil durante as obras e 1,5 mil diretos e indiretos após o início da operação
Infraestrutura integrada e logística planejada
O investimento da CMPC no RS não se limita à indústria. A empresa projeta um novo terminal portuário no Porto de Rio Grande, com custo estimado em R$ 1 bilhão, para exportar cerca de 5 milhões de toneladas de celulose, gerando 1,4 mil empregos. Também estão previstos:
- Construção de uma estrada entre Guaíba e Barra do Ribeiro
- Terminal hidroviário e dragagem no sistema fluvial do estado
- Ampliação do terminal de Pelotas, já concedido à empresa
Segundo Lacerda, a CMPC responde por 45% de todo o tráfego fluvial do Rio Grande do Sul. A celulose da nova unidade seguirá pelas águas do Guaíba e da Laguna dos Patos até os portos, onde será exportada principalmente para Ásia e Europa, além dos EUA.
Modernização e sustentabilidade em Guaíba
Em paralelo à nova planta, a CMPC também concluiu o projeto BioCMPC, que modernizou a fábrica em Guaíba com 31 iniciativas ambientais e operacionais, totalizando R$ 2,75 bilhões em investimentos. O resultado foi:
- Redução de 60% nas emissões de gases de efeito estufa
- Aumento de 18% na capacidade de produção da linha 2
- Acréscimo de 23% na produção global da companhia no 4º tri de 2023
A empresa também aplicou R$ 216 milhões em um projeto chamado Revamp, que atualizou a linha 1 da planta — em operação desde 1972 — para melhorar a eficiência energética e ambiental.
Superando o estigma ambiental
O atual compromisso ambiental da CMPC contrasta com o passado da antiga fábrica, inaugurada pela norueguesa Borregaard nos anos 1970, que ficou conhecida pelo forte cheiro de enxofre e poluição do Rio Guaíba. As pressões sociais, lideradas pelo ambientalista José Lutzenberger, resultaram na paralisação da fábrica pelo governo gaúcho e, anos depois, em sua venda para o grupo chileno.
“Hoje, a fábrica tem muito pouco da antiga Borregaard. Renovamos tudo: prédios, processos, equipamentos”, garante Lacerda.
Crescimento com raízes brasileiras
A CMPC pertence à bilionária família Matte, do Chile, e está presente em diversos países da América Latina com 46 plantas industriais. No Brasil, além da celulose, opera com sua subsidiária Softys, que fabrica papel higiênico, guardanapos e lenços com marcas como Cotton, Elite e Kitchen.
Com cinco unidades no país (Guaíba, Caieiras, Mogi das Cruzes, Recife e Mallet), a Softys já é a segunda maior produtora de papéis tissue da América Latina.
“A estratégia é clara: crescer no Brasil”, resume Lacerda. “Quando essa nova fábrica estiver pronta, seremos uma empresa que nasceu no Chile, mas com operações predominantemente brasileiras.”
Resumo do impacto da megaindústria de celulose da CMPC no Brasil:
- 46 plantas industriais na América Latina
- 500 mil hectares no RS, com 1.041 propriedades rurais
- 97% da produção de celulose no Brasil é exportada
- Maior usuária do sistema fluvial gaúcho
- Nova fábrica será uma das maiores do mundo em produção por proximidade
Com o Projeto Natureza, a CMPC não apenas desafia a liderança do Mato Grosso do Sul na produção de celulose, mas também redefine os parâmetros de sustentabilidade, logística e inovação industrial no Brasil. O Rio Grande do Sul, outrora símbolo de um problema ambiental, agora se transforma em referência de futuro para o setor florestal global.
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