
Multinacional enfrenta mais de 67 mil processos judiciais nos EUA e vê seu valor de mercado despencar após aquisição da Monsanto; reestruturação global inclui cortes, provisões bilionárias e estratégia jurídica para tentar conter colapso
Em uma das maiores reestruturações da sua história recente, a Bayer demite funcionários. Segundo a Reuters, empresa anunciou a demissão de 12 mil funcionários em cargos de tempo integral, marcando um novo capítulo da crise que assola a gigante alemã desde a aquisição da Monsanto. O corte de pessoal, que visa agilizar decisões internas e enxugar estruturas gerenciais e administrativas, é apenas uma das respostas da empresa à crescente pressão financeira e jurídica nos Estados Unidos.
A raiz do problema é o herbicida Roundup, um dos produtos mais utilizados no mundo e associado a milhares de processos judiciais por suposto risco de câncer. Adquirido junto com a Monsanto por US$ 63 bilhões em 2018, o Roundup se transformou no que analistas e investidores chamam de “legado tóxico” da fusão.
Bayer demite funcionários e busca reestruturação global
A Bayer demite funcionários e, segundo a Reuters, informa que os cortes fazem parte de um programa de reestruturação iniciado em 2024, quando já haviam sido encerrados cerca de 7 mil postos. Agora, o total chega a 12 mil, afetando principalmente áreas administrativas e cargos de gestão. Segundo relatório da própria companhia, o quadro global de funcionários chegou a 90 mil no fim de junho de 2025.
O objetivo, segundo a empresa, é acelerar o processo decisório e reduzir custos fixos, uma medida considerada crucial diante do cenário de litígios e queda no faturamento, principalmente na divisão agrícola, que enfrenta forte concorrência de genéricos asiáticos e desvalorização do glifosato.
Provisões bilionárias e perdas financeiras
A Bayer já desembolsou mais de US$ 10 bilhões em indenizações nos Estados Unidos relacionadas ao Roundup e ainda enfrenta mais de 67 mil ações judiciais em curso. Como forma de se precaver, a empresa destinou recentemente US$ 1,37 bilhão adicionais (1,2 bilhão de euros) às provisões legais, elevando o total reservado para esses processos a US$ 7,4 bilhões.
Em 2024, a Bayer registrou prejuízo líquido de € 2,55 bilhões e perdeu cerca de 80% do seu valor de mercado desde a aquisição da Monsanto, uma situação que acendeu o alerta entre acionistas e levou a críticas diretas à atual gestão, liderada por Bill Anderson.
Acordo judicial ou falência da Monsanto
Sem conseguir encerrar os litígios, a Bayer agora estuda duas alternativas simultâneas para estancar a crise:
- Fechar um novo acordo coletivo nos EUA, especialmente com foco nos processos ainda pendentes no estado do Missouri, sede da Monsanto;
- Recorrer ao Chapter 11, o equivalente americano à recuperação judicial, mas apenas para a subsidiária Monsanto, como forma de concentrar os litígios em uma única jurisdição e suspender temporariamente as ações em curso.
A manobra já foi tentada por outras gigantes, como Johnson & Johnson e 3M, mas sem sucesso, sendo posteriormente vetada pela Justiça norte-americana. Ainda assim, o recurso é visto pela Bayer como um possível alívio diante da gravidade da situação.

Roundup: o centro da tempestade
Utilizado amplamente em lavouras de soja, milho e algodão, o Roundup tem como princípio ativo o glifosato, cuja segurança é defendida pela empresa com base em estudos e pareceres da Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos EUA. No entanto, tribunais têm decidido em sentido contrário, responsabilizando a Monsanto por omitir potenciais riscos do produto.
Em janeiro de 2024, por exemplo, um júri da Pensilvânia condenou a Bayer ao pagamento de US$ 2,25 bilhões, reforçando o temor de que novas condenações bilionárias venham a seguir.
Próximos capítulos e incertezas
A Bayer aguarda para os próximos meses uma decisão da Suprema Corte dos EUA sobre a admissibilidade de novo recurso nos casos do glifosato. Enquanto isso, a empresa intensifica ações de lobby junto ao Congresso norte-americano para aprovar legislações que limitem sua responsabilidade futura.
Segundo Rodrigo Santos, presidente global da divisão agrícola da Bayer, a meta é encerrar ou estabilizar os processos nos próximos 12 a 18 meses, evitando que a crise jurídica comprometa ainda mais a sustentabilidade do grupo como um todo.
A Bayer demite funcionários e mostra que enfrenta um dos maiores desafios da sua história corporativa: reestruturar globalmente sua operação, controlar um passivo jurídico bilionário e preservar sua imagem frente a investidores e consumidores. A compra da Monsanto, que parecia uma jogada estratégica para dominar o mercado agroquímico, pode acabar sendo o maior erro da empresa — um alerta para todo o setor sobre os riscos de fusões mal avaliadas e a importância da responsabilidade socioambiental.
Quer ficar por dentro do agronegócio brasileiro e receber as principais notícias do setor em primeira mão? Para isso é só entrar em nosso grupo do WhatsApp (clique aqui) ou Telegram (clique aqui). Você também pode assinar nosso feed pelo Google Notícias.