
Justiça concede fôlego e suspende execuções do Grupo Randon e determina perícia para avaliar separação da recuperação judicial do Grupo Safras, endividado em R$ 2,2 bilhões
O Grupo Randon, um dos nomes mais tradicionais do agronegócio em Mato Grosso, volta ao noticiário em meio a um cenário de turbulência financeira. Com dívidas que somam cerca de R$ 700 milhões, a empresa conseguiu uma nova decisão judicial que suspende execuções e arrestos por 180 dias, dando ao grupo um período de blindagem – em meio a recuperação judicial – para reorganizar seus negócios e buscar soluções com os credores. Ao mesmo tempo, a família proprietária não perdeu tempo: já iniciou o plantio de mais de 4,2 mil hectares de soja em Sorriso (MT), reforçando a estratégia de manter a produção ativa mesmo em meio à crise.
Decisão judicial e intervenção
A medida foi tomada pela desembargadora Marilsen Andrade Addario, da 2ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT), que determinou também a realização de uma perícia para avaliar se o grupo poderá prosseguir com a recuperação judicial de forma independente, separado do Grupo Safras, conglomerado que acumula dívidas de R$ 2,2 bilhões — considerado o maior processo de recuperação do agronegócio mato-grossense.
Além da suspensão das execuções, a magistrada nomeou Emmanoel Alexandre de Oliveira como interventor para acompanhar a gestão e garantir que a safra seja conduzida com lisura e transparência. O papel do interventor será fundamental para monitorar a produção, a destinação dos recursos e a aplicação dos resultados da colheita.
Produção segue em ritmo acelerado
À frente do negócio, estão Cátia Randon e Carol Randon, respectivamente ex-esposa e filha de um dos sócios do Grupo Safras. Determinadas a provar a solidez de seu núcleo empresarial, elas deram início ao plantio em uma das regiões mais férteis do planeta para a produção de grãos.
“Não há tempo ruim ou notícia sensacionalista de jornal que nos intimide”, disse Cátia, que assumiu pessoalmente a interlocução com mais de 200 credores. Enquanto isso, Carol se dedica à gestão da lavoura e da distribuidora de insumos que atua há 36 anos na região.
Relação com o Grupo Safras e acusações cruzadas
A trajetória do Grupo Randon está entrelaçada ao turbulento histórico do Grupo Safras, fundado pelo ex-prefeito Dilceu Rossato e Pedro de Moraes Filho. A relação entre os núcleos familiares deu origem a embates judiciais e acusações de fraudes e ocultação de patrimônio.
Para credores, parte das manobras de divórcio e reestruturação societária teria sido usada como forma de blindar bens. Já a defesa de Cátia e Carol argumenta que o núcleo Randon é independente e não deve ser responsabilizado pelas dívidas bilionárias do conglomerado, que está em recuperação judicial.
Vozes da defesa
O advogado do Grupo Randon, Euclides Ribeiro, alerta para os desafios que ainda virão: “Primeiro vamos aguardar se o interventor aceita o encargo, depois analisaremos se existe algum motivo de impedimento, já que ele participou de processos em conjunto com contrapartes que hoje litigam contra o grupo”, afirmou.
Ele também destacou que o interventor precisará “viver na lavoura, especialmente neste início de plantio”, e que o foco deve permanecer em produzir e gerar riquezas, sem espaço para interesses paralelos.
Linha do tempo que levou a recuperação judicial: Grupo Safras x Grupo Randon
Data | Evento |
---|---|
2023 | Crise do Grupo Safras com queda da soja, quebra de safra e aumento da dívida |
Abr 2025 | Grupo Safras entra em recuperação judicial com dívida de R$ 2,2 bilhões |
Mai 2025 | Justiça suspende recuperação por suspeita de fraudes |
Jul 2025 | Fundo Agri Brazil assume 60% do Grupo Safras |
Set 2025 | TJMT suspende execuções do Grupo Randon (R$ 700 mi) e nomeia interventor |
Set 2025 | Família Randon inicia plantio de 4,2 mil hectares de soja em Sorriso-MT |
O que está em jogo
O caso expõe não apenas os riscos financeiros que rondam grandes grupos do agronegócio, mas também as estratégias jurídicas utilizadas para tentar preservar a capacidade produtiva em meio à crise. Se, por um lado, os fundos credores exigem maior rigor e acusam práticas fraudulentas, por outro, a família Randon insiste em mostrar que pode se reerguer por meio da produção agrícola e da confiança na Justiça.
Perspectivas para o Grupo Randon
Nos próximos meses, a atenção estará voltada para os resultados do laudo pericial, a atuação do interventor e a condução do plantio em Sorriso. O desfecho poderá definir se o Grupo Randon conseguirá se manter de pé de forma independente, ou se seguirá atrelado ao emaranhado de disputas que envolve o Grupo Safras e seus R$ 2,2 bilhões em dívidas.
Enquanto isso, no campo, a aposta é clara: plantar, produzir e colher para mostrar que, apesar da crise, a força do agronegócio pode ser o caminho para a recuperação.
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