Gigante do agro sofre golpe milionário e funcionário e empresário são presos por desvio de R$ 15 milhões

Esquema operado por mais de dois anos utilizava notas frias e documentos de transporte falsos para simular fretes inexistentes dentro do Grupo Bom Futuro; funcionário confessa participação e Justiça mantém prisões preventivas.

O agronegócio mato-grossense, frequentemente associado à alta tecnologia, grandes operações logísticas e rígidos protocolos de governança, foi abalado nesta semana por um dos maiores golpes internos já registrados no setor. Um funcionário e um empresário foram presos suspeitos de arquitetar um esquema de fraude que, segundo diferentes levantamentos policiais e jornalísticos, desviou entre R$ 10 milhões e R$ 15 milhões do Grupo Bom Futuro, uma das maiores e mais estruturadas empresas agrícolas do país.

O caso envolve Welliton Gomes Dantas, funcionário com mais de dez anos de atuação no grupo, e Vinícius de Moraes Sousa, empresário do setor de transportes. Ambos tiveram as prisões convertidas para preventivas, após serem flagrados manipulando sistemas internos e emitindo documentos falsos para justificar pagamentos que nunca deveriam ter ocorrido.

Como funcionava o esquema milionário que deu golpe na Bom Futuro

As investigações apontam que o golpe ocorria por meio da simulação de fretes e serviços de transporte de gado que jamais foram realizados. Para isso, Vinícius, dono de uma transportadora, emitia CT-es (Conhecimento de Transporte Eletrônico) fraudulentos, que eram aprovados internamente por Welliton, responsável pela liberação de pagamentos no setor de transportes da Bom Futuro.

Os documentos indicavam supostas viagens feitas por caminhões da transportadora. Na prática, o serviço havia sido executado por veículos próprios do grupo — ou sequer chegou a existir. No caso dos transportes internos dentro do estado, nem mesmo havia exigência do CT-e, o que, segundo o depoimento, abriu brechas para que o golpe começasse.

A fraude teria se estendido por cerca de dois anos, período no qual os pagamentos liberados somam milhões em prejuízos ao grupo.

Investimentos com dinheiro do golpe

Durante o depoimento, Welliton confessou ter utilizado os valores desviados para comprar um apartamento na planta, um terreno em condomínio, dois carros de luxo — um Creta e um Volvo —, além de aplicar mais de R$ 500 mil em ações. As compras chamaram atenção devido ao descompasso com sua renda mensal, estimada em cerca de R$ 7 mil.

A Polícia Civil apreendeu veículos, documentos e equipamentos eletrônicos usados na operação do esquema.

Arrependimento e desabafo: “Meu erro não é perdoável”

Em depoimento, Welliton demonstrou arrependimento e fez declarações emocionadas sobre sua trajetória na empresa — o primeiro emprego registrado de sua vida. Ele afirmou saber da gravidade do que cometeu e disse que deve “cumprir sua sentença”, destacando a mágoa que pode ter deixado em seus gestores, por quem afirmou ter respeito e gratidão.

“Imagino que o meu erro não é perdoável”, declarou e, ainda, acrescentou: “Agradeço pela oportunidade que nunca mais terei”.

A descoberta do rombo do golpe na Bom Futuro

O esquema veio à tona após uma auditoria interna identificar inconsistências em notas e pagamentos. O caso ganhou contornos mais graves quando Welliton foi surpreendido tentando emitir uma nova nota de R$ 200 mil, que também seria parcialmente desviada. A partir disso, a empresa acionou a Delegacia Especializada de Estelionato, que iniciou a investigação e realizou as prisões.

A própria Bom Futuro comunicou as irregularidades às autoridades e tem colaborado integralmente com a investigação.

Posição oficial da Bom Futuro

Em nota, o Grupo Bom Futuro afirmou que atua com base em valores de integridade, transparência e respeito, e que acompanha de perto o trabalho das autoridades. Considerada uma potência do agronegócio brasileiro, a empresa conta com mais de 8 mil colaboradores, 35 unidades administrativas e operações que integram agricultura, pecuária, energia renovável e logística.

Justiça mantém prisões preventivas

Após audiências de custódia, a Justiça converteu o flagrante em prisão preventiva tanto para o funcionário quanto para o empresário. Os magistrados consideraram a necessidade de garantir a continuidade das investigações, preservar documentos e evitar interferências no processo.

Os dois seguem presos enquanto a Polícia Civil aprofunda a apuração para determinar se há outras pessoas envolvidas e para calcular com precisão o tamanho do rombo, já que as apurações apontam para desvios entre R$ 10 milhões e R$ 15 milhões.

Um alerta para o agro

O caso do golpe na Bom Futuro expõe como fraudes internas podem ocorrer mesmo em empresas altamente estruturadas, reforçando a importância de auditorias frequentes, sistemas de rastreabilidade, checagens de pagamento e políticas rígidas de compliance. Para um setor que movimenta bilhões e depende de logística eficiente, o episódio serve como alerta e aprendizado para todo o agronegócio.

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