
Trio prometia lucros de até 10% ao mês com cultivo de hortaliças, mas operação foi considerada pirâmide financeira; Diante disso, justiça mantém condenação de réus no “Golpe do Tomate”, esquema que causou prejuízo de R$ 120 milhões
A Justiça da Paraíba decidiu manter a condenação de três réus envolvidos no chamado “Golpe do Tomate”, um esquema de investimento fraudulento que lesou centenas de pessoas com promessas de rendimentos irreais ligados ao cultivo de hortaliças. O golpe, que ganhou notoriedade no Agreste paraibano, deixou um rombo estimado em R$ 120 milhões.
A decisão foi confirmada pela Câmara Criminal do Tribunal de Justiça da Paraíba (TJPB) durante julgamento realizado na terça-feira (23), em João Pessoa. O tribunal analisou o recurso da defesa e rejeitou todos os pedidos, mantendo a sentença proferida em primeira instância.
Condenados por estelionato e organização criminosa
Foram condenados Jucélio Pereira (proprietário da Hort Agreste), Priscila dos Santos (sócia-administradora) e Nuriey de Castro (diretor financeiro). Eles foram responsabilizados pelos crimes de estelionato majorado e organização criminosa.
Segundo o relator do processo do “Golpe do Tomate”, desembargador Joás de Brito, as provas apresentadas demonstram de forma clara a existência de um esquema de pirâmide, no qual os novos aportes eram usados para pagar investidores antigos, até que os pagamentos se tornaram insustentáveis.
Com a decisão, Jucélio e Nuriey continuarão presos, enquanto Priscila responderá em liberdade enquanto o caso segue para instâncias superiores.
Como funcionava o esquema do “Golpe do Tomate”
O golpe era operado por meio da empresa Hort Agreste, sediada em Lagoa Seca (PB), e se apresentava como uma oportunidade de investimento no cultivo hidropônico de hortaliças — especialmente tomates. Os acusados prometiam lucros mensais entre 7% e 10% e participação de até 30% nos lucros, valores muito acima da realidade de mercado.
Para atrair investidores, o grupo usava apresentações com linguagem técnica e discursos sobre uma suposta “inovação mágica” que aumentaria a produtividade das plantações. Muitos investidores chegaram a receber rendimentos nos primeiros meses, o que reforçou a credibilidade do negócio. Porém, em novembro de 2023, os pagamentos foram interrompidos, revelando o caráter fraudulento da operação.
Defesa tentou anular sentença
No recurso, os advogados alegaram incompetência da Justiça estadual, argumentando que o caso deveria tramitar na Justiça Federal, além de apontarem cerceamento de defesa e pedirem a absolvição pelo crime de organização criminosa. O tribunal, no entanto, rejeitou todas as teses, entendendo que a competência é da Justiça estadual e que as provas são suficientes para a condenação.
Prejuízos e vítimas
As investigações do Ministério Público da Paraíba (MPPB) apontam que o esquema movimentou cerca de R$ 120 milhões, com vítimas espalhadas por diferentes estados do país. Entre os lesados estão pequenos investidores, aposentados e produtores rurais, que aplicaram valores acreditando na rentabilidade rápida e segura apresentada pelo grupo.
Com o colapso do sistema, nenhum dos investidores recebeu os valores prometidos, e muitos perderam integralmente o capital aplicado.
Entenda por que é uma pirâmide financeira
A pirâmide financeira é um tipo de fraude em que os lucros dos primeiros participantes são pagos com o dinheiro de novos investidores. O sistema se sustenta enquanto há entrada constante de recursos, mas inevitavelmente entra em colapso quando o número de novos aportes diminui.
No caso da Hort Agreste, a Justiça concluiu que não existia produção suficiente para gerar os lucros prometidos e que a atividade agrícola servia apenas como fachada para o esquema.
Julgamento reforça alerta sobre fraudes no agronegócio
A decisão do TJPB reforça o alerta para investimentos no setor agro que prometem lucros fixos e elevados sem comprovação técnica ou viabilidade econômica. Especialistas recomendam sempre verificar:
- Registro formal da empresa e seus responsáveis;
- Comprovação da atividade produtiva;
- Licenças e autorizações de órgãos reguladores;
- Viabilidade dos rendimentos ofertados;
- Presença de autorização da CVM, quando houver captação de recursos de terceiros.
Situação atual
Com a condenação mantida, o trio segue sob acompanhamento judicial. Jucélio Pereira e Nuriey de Castro continuam cumprindo pena em regime fechado, enquanto Priscila dos Santos aguarda o desfecho de eventuais recursos.
O Ministério Público ainda atua para identificar bens e patrimônios dos envolvidos com o objetivo de ressarcir as vítimas parcialmente.
O caso se tornou um símbolo de alerta para investidores e produtores rurais diante do aumento de golpes financeiros disfarçados de negócios agrícolas.
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