Governo leva ao Oriente Médio o Fiagro para atrair capital estrangeiro

Estratégia busca financiar a recuperação de áreas degradadas, ampliar o uso do dólar no agronegócio e atender ao interesse de investidores árabes em participação societária através do Fiagro

O governo federal prepara um movimento inédito para ampliar a entrada de capital estrangeiro no agronegócio brasileiro. A partir de janeiro, uma equipe do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) viajará ao Oriente Médio para apresentar uma nova modelagem do Fiagro, desenvolvida especialmente para atender investidores internacionais interessados em se tornar sócios minoritários de produtores rurais — especialmente em projetos de recuperação de terras degradadas.

A iniciativa foi detalhada pelo assessor especial do Mapa, Carlos Augustin, em diferentes eventos e entrevistas, e se consolida como uma das principais estratégias para acelerar o programa Caminho Verde Brasil, que busca ampliar a conversão de pastagens degradadas em áreas produtivas. O projeto responde diretamente ao grande apetite de fundos árabes por participação em ativos agropecuários brasileiros, mas sem controle sobre a operação.

Fiagro abre caminho para sócios estrangeiros no agronegócio

A nova modelagem do Fiagro permite que investidores internacionais adquiram 48% ou 49% de uma área rural destinada à recuperação, sempre sem assumir o comando da produção ou da gestão operacional, que permanecem integralmente com o produtor brasileiro. Isso resolve um entrave histórico: os fundos do Oriente Médio não gostam de atuar como credores, preferindo ser sócios patrimoniais de longo prazo.

A solução foi construída junto ao Banco do Brasil, criando um mecanismo em que o investidor participa da valorização da terra ao longo dos anos, enquanto o produtor mantém o controle da atividade. Com o capital externo, o agricultor consegue recuperar áreas, ampliar a produtividade e até reinvestir em novas propriedades degradadas.

O interesse árabe já é concreto — foi deles o pedido para que o governo brasileiro apresentasse formalmente o modelo no início de 2026.

Sustentabilidade como eixo central da proposta

A recuperação de terras degradadas tornou-se prioridade global, e o Brasil tem enorme potencial para escalar projetos dessa natureza. Durante a COP30, a parceria entre Embrapa e Jica — agência de cooperação do Japão — garantiu US$ 1 bilhão para a recuperação de pastagens no Cerrado, fortalecendo ainda mais a agenda sustentável e a demanda por instrumentos como o Fiagro.

Outro pilar do projeto é a crescente adoção do crédito rural em dólar, que já apresenta juros próximos de 8,5% ao ano em linhas do BNDES. Esse movimento tende a se intensificar, já que, quando o dólar sobe, as commodities também se valorizam, favorecendo o produtor. O risco, como alerta Augustin, aparece quando há queda do dólar, o que pode comprometer contratos atrelados ao real.

Safra 2025/26 aumenta a busca por alternativas

O atraso no plantio, principalmente em Mato Grosso, deve impactar a produtividade da soja e reduzir a oferta de milho safrinha. Com juros totais próximos de 20% e perspectiva de colheita mais fraca, cresce a necessidade de novos instrumentos financeiros — entre eles, o Fiagro com participação estrangeira.

Caminho Verde Brasil e a busca por equity

A proposta está inserida no programa Caminho Verde Brasil, que pretende atrair equity estrangeiro — não apenas financiamentos — para acelerar a conversão de áreas degradadas. O objetivo é eliminar parte do custo financeiro e aumentar a escala dos projetos, tornando o modelo mais competitivo e sustentável.

O que está em jogo

  • Entrada de capital estrangeiro em larga escala
  • Participação societária sem perda de autonomia do produtor
  • Ampliação e valorização da recuperação de áreas degradadas
  • Fortalecimento da imagem ambiental do agro brasileiro
  • Expansão do crédito em dólar
  • Atendimento à demanda de fundos árabes por investimentos estruturados

Se bem-sucedido, o Fiagro pode se transformar no principal instrumento de atração de recursos externos para o campo e em um dos pilares da economia verde brasileira.

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