Gripe aviária impacta exportações e traz alerta: prejuízo pode passar de US$ 300 milhões/mês

Especialistas apontam risco para empregos, arrecadação e reputação do Brasil no comércio internacional; diplomacia sanitária é considerada essencial para reverter embargo de grandes importadores devido gripe aviária

A confirmação do primeiro caso de gripe aviária (H5N1) em uma granja comercial no Brasil, registrada no município de Montenegro (RS), elevou o nível de alerta sanitário e econômico no país. Até então restrita a aves silvestres, a doença agora afeta diretamente a cadeia produtiva, levando importantes mercados — como China, União Europeia e Argentina — a suspenderem temporariamente as importações de carne de frango e ovos brasileiros.

A medida traz implicações profundas para o agronegócio, como perdas financeiras, gargalos logísticos, riscos fiscais e tensões comerciais, além de colocar à prova a capacidade do Brasil de se posicionar como fornecedor confiável no cenário global.

Embargos das exportações podem gerar perdas superiores a US$ 300 milhões mensais

Segundo Larry Carvalho, especialista em comércio exterior e logística, os impactos são imediatos e significativos. “Apenas a suspensão chinesa, que representa 14% das exportações brasileiras de frango, pode reduzir a receita em até US$ 100 milhões por mês. Somando os embargos de outros mercados estratégicos, o prejuízo mensal pode ultrapassar US$ 300 milhões”, afirma.

O Brasil é o maior exportador mundial de carne de frango, com 5,3 milhões de toneladas embarcadas em 2024, gerando US$ 9,9 bilhões em receita. Com o fechamento de mais de 30 mercados, o setor sofre com estoques represados, custos extras de redirecionamento e queda de preços no mercado interno, que podem recuar até 10% no curto prazo.

“Esses prejuízos também afetam a balança comercial e o emprego no setor, que conta com mais de 213 mil trabalhadores diretos. No Rio Grande do Sul, onde o foco foi detectado, o risco de demissões já preocupa”, alerta Carvalho.

Gripe aviária coloca a confiança internacional em xeque

Para o contador e especialista em governança corporativa Marcello Marin, além dos efeitos econômicos imediatos, o Brasil pode sofrer com danos à sua reputação internacional. “Se esses países perceberem falhas no controle do surto, pode demorar para retomarmos esses mercados. É como se o Brasil perdesse pontos num ranking de confiança global como fornecedor de alimentos”, destaca.

Ele acrescenta que, caso a crise se prolongue, haverá impactos na arrecadação tributária, cortes na produção e até repercussões na inflação interna, caso o preço da carne e dos insumos se desestabilize.

Diplomacia sanitária será decisiva

Ambos os especialistas concordam que o caminho para reverter o cenário passa por uma diplomacia sanitária ativa e coordenada entre o Ministério da Agricultura, Itamaraty e setor privado.

“O Brasil precisa ser transparente e agir com rapidez. Enviar laudos, explicar que o foco é isolado e mostrar tudo que está sendo feito ajuda a reconstruir a confiança dos parceiros internacionais”, defende Marin.

Carvalho complementa: “Negociar a regionalização dos embargos com mercados como China e UE é essencial. Outros países, como Japão e Arábia Saudita, já aceitam restrições apenas ao estado ou município afetado, o que pode preservar até 70% das exportações.”

Ele também destaca a importância de campanhas de comunicação e missões técnicas internacionais. “É hora de mostrar ao mundo que a carne de frango brasileira continua segura, conforme reconhecido pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA). Com essas ações, podemos reduzir o prazo dos embargos de 60 para até 28 dias, segundo estimativas da ABPA.”

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