
Grupo do agro com dívidas que ultrapassam R$ 594 milhões e mesmo com todos os benefícios garantidos pela recuperação judicial, o grupo deixou de efetuar o pagamento dos honorários
O Grupo Marquezam, formado por João Paulo Marquezam da Silva, Hélio Alves da Silva, Maria Madalena Marquezam da Silva e Maria Carolina Marquezan da Silva, protagoniza atualmente um dos maiores processos de recuperação judicial do agronegócio mato-grossense.
Com dívidas que ultrapassam R$ 594 milhões, o grupo conseguiu na 1ª Vara Cível Especializada em Falências e Recuperação Judicial de Cuiabá a suspensão de execuções e bloqueios, medida que visa garantir a preservação das operações agropecuárias enquanto se busca uma reestruturação financeira.
Os integrantes do grupo, ao longo das últimas décadas, expandiram suas propriedades rurais para cerca de 20 mil hectares, com atividades diversificadas em soja, milho e pecuária de corte.
O pedido de recuperação judicial foi fundamentado em uma sequência de eventos adversos, incluindo a queda brusca no valor das commodities, prejuízos climáticos agravados pelo fenômeno El Niño, além dos impactos da pandemia, fatores que juntos comprometeram o fluxo de caixa e resultaram em um prejuízo líquido superior a R$ 80 milhões.
Com o deferimento da recuperação judicial, o grupo passou a gozar dos principais benefícios previstos na legislação: a suspensão de todas as cobranças e execuções, a chamada “blindagem” patrimonial, e a possibilidade de renegociação coletiva das dívidas com credores sob supervisão do Judiciário.
Essa proteção judicial, conhecida como “stay period”, proporcionou um alívio, assegurando a continuidade dos negócios e evitando a falência iminente.
No entanto, após 8 meses, mesmo com todos os benefícios garantidos pela recuperação judicial, o grupo deixou de efetuar o pagamento dos honorários advocatícios devidos ao escritório responsável por iniciar o processo. Em razão desse inadimplemento, o escritório comunicou formalmente sua renúncia à representação nos autos.
Recuperação judicial no agronegócio
O aumento excessivo de recuperações judiciais no agronegócio brasileiro tem chamado a atenção nos últimos anos, refletindo os desafios financeiros enfrentados pelo setor. Empresas rurais, incluindo grandes grupos, têm recorrido a processos de recuperação para renegociar dívidas e evitar falências, muitas vezes devido a fatores como oscilações de preços, custos elevados de insumos e condições climáticas adversas.
Esse cenário sugere uma fragilidade econômica crescente, mesmo em um setor historicamente visto como pilar da economia nacional. Se a tendência persistir, pode levar a uma redução nos investimentos em tecnologia e expansão, comprometendo a produtividade e a competitividade do agro brasileiro no médio prazo.
Muitos produtores estão comprometendo grande parte de sua receita com o pagamento de empréstimos, limitando sua capacidade de reinvestimento. Se não houver políticas de reestruturação de dívidas e incentivos à liquidez, o agravamento desse cenário pode levar a uma onda de insolvências, especialmente entre pequenos e médios agricultores, afetando não apenas a cadeia produtiva, mas também a segurança alimentar e a estabilidade econômica de regiões dependentes do agronegócio.
Todos os dados contidos na presente matéria jornalística foram obtidos por meio de processo público, devidamente acessível e disponibilizado no sistema judiciário brasileiro, em conformidade com a legislação vigente e os princípios de transparência que regem a administração pública.
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