Com avanço regulatório e novas teses de investimento, o Fiagro se consolida como elo entre investidores urbanos e a força produtiva do campo
O Fiagro se tornou, em poucos anos, um dos instrumentos mais relevantes para aproximar investidores da economia real do agronegócio brasileiro. Criado para democratizar o acesso ao setor que movimenta a maior fatia do PIB nacional, o fundo passou de novidade a peça estratégica para financiar a produção, ampliar a liquidez e modernizar operações rurais. Enquanto o produtor ganha novas alternativas de financiamento, o investidor recebe renda mensal, diversificação e exposição a um setor historicamente resiliente.
No centro dessa estrutura está um mecanismo simples e eficiente: o Fiagro capta recursos via mercado financeiro e os direciona para ativos da cadeia agroindustrial. Esses ativos incluem crédito, imóveis rurais, logística, participações empresariais e até instrumentos ambientais. A operação é negociada pela B3, permitindo ao investidor participar de negócios que antes ficavam restritos a grandes instituições.
Como o Fiagro se tornou uma ponte entre a Bolsa e o agronegócio
O funcionamento do Fiagro é semelhante ao de fundos imobiliários e de crédito estruturado. O gestor reúne recursos de milhares de cotistas e investe em ativos ligados ao agro, distribuindo mensalmente rendimentos e oferecendo potencial de valorização patrimonial. É uma via de dupla mão: o agronegócio recebe capital privado estruturado; o cotista ganha acesso a um setor robusto, com risco descorrelacionado da Bolsa tradicional.
Esse mecanismo trouxe uma mudança significativa no mercado: agora, produtores rurais, cooperativas, tradings, frigoríficos e agroindústrias podem acessar capital via instrumentos como CRAs ou operações imobiliárias, sem depender apenas do crédito rural ou de grandes bancos.
O papel da regulamentação no amadurecimento do Fiagro
A consolidação dos Fiagros foi impulsionada por um arcabouço regulatório robusto. A Resolução CVM 175, de 2023, estabeleceu pilares de governança, segregação patrimonial, transparência e gestão de risco, elevando o nível de segurança jurídica dessa classe de fundos.
O setor passa agora por nova expansão com a Resolução CVM 214, que entra em vigor em março de 2025. A norma amplia o universo de ativos permitidos, incluindo créditos de carbono, CBIOs, direitos reais sobre propriedades rurais e a possibilidade de composição mais flexível entre ativos financeiros e reais. A regulamentação também cria exigências de transparência mais rigorosas e critérios de governança para operações sustentáveis.
Essa evolução normativa coloca os Fiagros em linha com padrões internacionais e abre caminho para fundos especializados e temáticos, especialmente aqueles voltados ao ESG.
Os três tipos de Fiagro — e por que um deles domina o mercado
Embora a legislação permita três estruturas — Fiagro-FII, Fiagro-FIDC e Fiagro-FIP —, é o modelo Fiagro-FII que se tornou o mais popular e acessível.
O Fiagro-FII funciona na prática como um “FII do agro”, com cotas negociadas em Bolsa, liquidez diária e isenção de imposto de renda sobre dividendos para pessoas físicas. Essa estrutura democratizou o acesso ao setor, permitindo a entrada de investidores de varejo com valores baixos.
Os Fiagros-FIDC e Fiagros-FIP, por sua vez, são mais complexos: o primeiro é focado em recebíveis e costuma ser restrito a investidores qualificados; o segundo investe em participações acionárias de empresas do agronegócio, aproximando-se de operações de private equity.
O que realmente compõe a carteira de um Fiagro
A composição dos Fiagros varia de acordo com a estratégia da gestora, mas alguns ativos se tornaram pilares da indústria. Os CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio) são o coração dos Fiagros de papel. Eles são lastreados em operações da cadeia produtiva — como venda de insumos, compra de grãos ou financiamento de safras — e oferecem remuneração indexada ao CDI ou ao IPCA, com isenção de IR para pessoa física.
Nos Fiagros de tijolo, entram ativos reais: fazendas arrendadas, áreas produtivas, armazéns, silos, galpões, centros logísticos e infraestrutura de armazenagem. Esses fundos geram receita recorrente por meio de contratos de arrendamento de longo prazo e, ao mesmo tempo, capturam a valorização imobiliária do campo.
Com a modernização regulatória, novas frentes de investimento surgem — incluindo créditos de carbono, CBIOs, derivativos de hedge e cotas de outros fundos agro. O Fiagro passa a abranger não apenas a produção agrícola, mas toda a cadeia de valor, incluindo logística, energia, tecnologia e sustentabilidade.
Por que cresceu tanto?
A rápida expansão dos Fiagros se explica por uma combinação rara de fatores: renda mensal, isenção fiscal, facilidade de acesso e diversificação em um setor com histórico de resiliência, até mesmo em ciclos econômicos desfavoráveis.
O agronegócio brasileiro opera com baixa correlação em relação ao mercado acionário tradicional, o que ajuda a equilibrar carteiras expostas à volatilidade da Bolsa. Além disso, o setor tem demanda crescente por financiamento privado, criando oferta constante de operações de crédito e de ativos imobiliários.
Os riscos — e a importância de uma análise criteriosa
Apesar do potencial, o Fiagro não está isento de riscos. O principal deles é o risco de crédito, ligado à capacidade de pagamento dos produtores, empresas ou cooperativas que emitem os títulos presentes na carteira.
Riscos climáticos — como seca, geada ou enchentes — também afetam diretamente arrendatários e cadeias produtivas, impactando contratos e receitas. Outra preocupação comum é a liquidez: alguns fundos ainda negociam pouco na B3, o que pode dificultar a saída rápida do investidor.
A taxa Selic e as condições macroeconômicas também influenciam a atratividade dos dividendos, especialmente nos fundos de papel indexados ao CDI.
Como analisar um Fiagro de maneira eficiente
O ponto de partida é sempre o Relatório Gerencial, documento mensal que detalha carteiras, inadimplências, estratégia da gestão e movimentações de ativos. É nele que o investidor identifica se o fundo é coerente com seu objetivo e perfil de risco.
Nos Fiagros de papel, a atenção deve se voltar aos devedores dos CRAs, aos prazos e aos indexadores. Já nos fundos de tijolo, localização dos imóveis, qualidade dos arrendatários e termos contratuais são fatores determinantes.
Indicadores de mercado como P/VP, liquidez diária e histórico de dividendos ajudam a identificar oportunidades. Porém, nenhum deles deve ser analisado isoladamente.
Subscrições: o combustível para o crescimento dos fundos
Para expandir o portfólio e adquirir novos ativos, os Fiagros realizam emissões de cotas. Esse processo, conhecido como subscrição, dá ao cotista atual o direito de manter sua participação proporcional.
Quando bem estruturada e bem precificada, uma emissão pode fortalecer o fundo, reduzir custos operacionais e aumentar a diversificação da carteira — elementos fundamentais para sua estabilidade no longo prazo.
Para onde vai o Fiagro?
A nova fase do Fiagro aponta para especialização. Gestoras já desenvolvem fundos dedicados à logística agrícola, infraestrutura de irrigação, energia renovável, tecnologias aplicadas ao campo e ativos ambientais.
A criação do índice IFIAGRO, pela B3, aumenta a visibilidade e tende a elevar a liquidez, enquanto a entrada de investidores institucionais fortalece ainda mais o setor.
Temas como rastreabilidade, carbono e sustentabilidade devem ganhar protagonismo, alinhando os Fiagros às tendências globais de impacto ambiental e social.
O Fiagro consolidou sua posição como ferramenta essencial para conectar o mercado financeiro à força do agronegócio brasileiro. Com arcabouço regulatório moderno, carteira diversificada e grande potencial de expansão, o fundo se apresenta como uma alternativa robusta para quem busca renda mensal, estabilidade e investimento direto na economia real — sem abrir mão da liquidez da Bolsa de Valores.
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