Projeto pioneiro coloca agricultores no centro da transição proteica e promete redefinir o futuro da produção de alimentos na Europa.
A Holanda acaba de dar um passo histórico rumo ao futuro da alimentação global: foi inaugurada em Zuid-Holland a primeira fazenda de carne cultivada do mundo, projeto que marca o início de uma nova fase na agricultura europeia. A iniciativa nasce de uma parceria entre a startup RespectFarms e o produtor de leite Corné van Leeuwen, que passa a integrar, ainda dentro de sua propriedade, um sistema de produção de carne cultivada com suporte técnico, científico e financeiro inédito no setor.
A proposta vai muito além de inovação tecnológica: ela reposiciona o agricultor como protagonista da transição para novas fontes de proteína, abre alternativas reais de renda para o meio rural e inaugura um modelo que promete ser replicado em outros países nos próximos anos.
O projeto recebeu apoio da Parceria Europeia de Inovação para a Produtividade e Sustentabilidade Agrícola (EIP-Agri) e da Província de Zuid-Holland, que financiaram a criação da unidade piloto. Segundo os idealizadores, as primeiras linhas de produção devem entrar em operação nas próximas semanas, abrindo caminho para que o modelo seja testado em escala real.
Corné van Leeuwen torna-se oficialmente o primeiro agricultor do mundo a receber financiamento agrícola específico para atividades relacionadas à carne cultivada, indicador claro de como governos e instituições europeias começam a enxergar essa tecnologia como parte estratégica do futuro alimentar.
Ao contrário das grandes plantas industriais normalmente associadas à carne cultivada, o modelo da RespectFarms aposta em um sistema descentralizado, no qual as próprias fazendas passam a produzir parte da proteína cultivada.
A startup defende que esse formato garante maior resiliência aos sistemas alimentares, cria novos fluxos de renda para agricultores e evita que a transição proteica fique restrita às grandes corporações.
Van Leeuwen, produtor há gerações, afirma que unir a atividade leiteira com a carne cultivada é uma forma de diversificar o negócio sem abandonar práticas que já fazem parte da rotina da propriedade. Para ele, a mudança ajuda a preparar o campo para “os novos cenários de consumo que se aproximam”.
Além da unidade produtiva, a fazenda sediará um Centro de Experiências em Carne Cultivada, previsto para inaugurar na primavera de 2026.
O local será aberto ao público e funcionará como um espaço de aprendizado, recebendo:
- Agricultores
- Pesquisadores
- Indústrias de alimentos
- Formuladores de políticas públicas
- Comunidades locais
O objetivo é ampliar a transparência sobre o processo produtivo, favorecer debates e aproximar consumidores da nova tecnologia, reduzindo dúvidas e fortalecendo a confiança pública.
A inauguração da fazenda vem meses depois do anúncio de um projeto internacional liderado pelo consórcio CRAFT, formado por algumas das instituições mais relevantes do setor:
- RespectFarms
- Wageningen University & Research
- Mosa Meat
- Aleph Farms
- Multus
- Kipster
- Royal Kuijpers
O grupo trabalha no desenvolvimento de infraestrutura, conhecimento técnico e modelos híbridos de produção que combinem pecuária tradicional e proteínas cultivadas — um caminho que, segundo especialistas, deve ganhar força nos próximos anos.
Para Ira van Eelen, cofundadora da RespectFarms e da Cellular Agriculture Netherlands, colocar o agricultor no centro dessa transformação é fundamental para garantir que a transição seja justa, viável e conectada às comunidades rurais. Ela destaca que a carne cultivada pode se tornar uma nova frente de valor para produtores que desejam inovar sem abandonar sua identidade rural.
A Holanda, conhecida por sua agricultura de alta tecnologia, inaugura assim um projeto que pode redefinir o papel do campo na produção de proteínas. Se o modelo prosperar, a primeira fazenda de carne cultivada do mundo pode se transformar em referência para a Europa e para outras regiões que buscam alinhar sustentabilidade, inovação e protagonismo agrícola.
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