IATF supera 10 milhões de procedimentos em 2016 e agita mercado

A utilização de biotecnologias nas propriedades rurais está associada ao aumento da produtividade, entre as mais empregadas, a Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF).

Estima-se que o mercado envolva diretamente 3.500 médicos veterinários brasileiros e gere um incremento produtivo, nas cadeias de carne e leite, que supera R$ 2,5 bilhões. A expectativa é que esses números aumentem a cada ano, de modo que os profissionais precisam estar preparados para atuar e contribuir para esse avanço.

A utilização de biotecnologias nas propriedades rurais está associada ao aumento da produtividade. Entre as mais empregadas, a Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) – que elimina a necessidade de observação de cio – merece destaque pela facilidade de manejo e por aumentar a eficiência reprodutiva e genética da pecuária. Com o avanço da IATF, o número de procedimentos atingiu 10,5 milhões em 2015, segundo estimativas do Departamento de Reprodução Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/USP).

Implante de progesterona, usado para sincronizar fêmeas nelore. Foto: Pecuár-I.A

Os dados representam um crescimento de 11,2% em relação ao ano anterior. A base de cálculo considera o número de protocolos para IATF comercializados (informação disponibilizada pelas empresas do setor) e o número de doses de sêmen comercializadas (divulgado pela Associação Brasileira de Inseminação Artificial – Asbia).

Atualmente, a IATF responde por 77% das inseminações realizadas no Brasil (13,7 milhões), ganhando cada vez mais espaço no mercado de reprodução. O forte avanço verificado nos últimos anos indica que a tecnologia se consolidou no mercado, com resultados positivos para a pecuária e pela presença de profissionais qualificados para sua execução.

Gráfico: Revista do Conselho Federal de Medicina Veterinária

Em 2002, no início da coleta de dados, apenas 6% das matrizes do rebanho nacional eram inseminadas e, consequentemente, havia limitado avanço genético. Na atualidade, o percentual de matrizes inseminadas dobrou, passando para 12% do total de matrizes do rebanho nacional. Esse aumento ocorreu principalmente devido ao emprego dos protocolos de tempo fixo, que facilitam a disseminação da técnica.

Gráfico: Revista do Conselho Federal de Medicina Veterinária

Do total de vacas inseminadas por meio da IATF em 2015 (10,5 milhões), calcula-se que o volume divide-se em 8,2 milhões de fêmeas de corte e 2,3 milhões de fêmeas de aptidão leiteira. Esses números revelam que houve o uso de 91% de IATF em matrizes de corte. Tal adesão dá-se pela dificuldade de detecção de cio nessas matrizes e pelo maior percentual de matrizes em anestro. No leite, 50% das matrizes foram inseminadas em tempo fixo. O percentual é menor, pois, como as matrizes de leite são manejadas todos os dias, há maior facilidade para detecção de cio, favorecendo o maior uso da inseminação convencional. Entretanto, mesmo em rebanhos leiteiros, estudos evidenciam aumento da eficiência reprodutiva e produtiva após utilização da IATF.

IMPACTO NO MERCADO DE TRABALHO MÉDICO-VETERINÁRIO

Com o crescimento da técnica, é nítido o interesse das empresas no desenvolvimento de fármacos, na pesquisa para incrementar o uso e reduzir o número de aplicações e no fomento para a disseminação do procedimento.

Além dos benefícios para a produtividade, há o impacto econômico direto. Com base nos dados de 2015, calcula-se que a IATF movimentou, no Brasil, R$ 567 milhões. As empresas de venda de sêmen e fármacos arrecadam 70% desse montante, tomando como base de cálculo 10,5 milhões de IATFs e considerando o preço médio de R$ 17 para os fármacos de sincronização e de R$ 20 para as doses de sêmen. A prestação de serviço médico veterinário responde pelos outros 30% do faturamento, totalizando R$ 178,5 milhões, considerando o custo de R$ 17 por animal sincronizado para IATF.

Gráfico: Revista do Conselho Federal de Medicina Veterinária

Acredita-se que 3.500 médicos veterinários no Brasil estejam diretamente envolvidos com a presta- ção de serviço, o que representa a média de 3.000 animais inseminados em tempo fixo por profissional. Para realização de todos os procedimentos relacionados à IATF e para o controle da eficiência dessa técnica nas propriedades, são necessários inúmeros profissionais qualificados no mercado. Além disso, esse mercado tende a crescer cada vez mais, devido ao impacto positivo na produtividade e ao contínuo interesse por parte dos produtores. Por esse motivo, deve ser mantido o comprometimento dos médicos veterinários envolvidos com a pesquisa, garantindo o desenvolvimento de protocolos eficientes para as diversas categorias de bovinos.

Por outro lado, a aplicação a campo precisa ser realizada com obediência a normas e regras que garantam a eficácia do processo, que depende do cumprimento de horário de aplica- ções e importantes recomendações. A credibilidade da técnica é decorrente da qualidade do serviço prestado; assim, a ausência de bons resultados frustra o técnico e o produtor, podendo desacreditar uma biotecnologia promissora.

IMPACTO NA QUALIDADE DA CARNE E DO MERCADO

Na cadeia de produção de carne e leite, estima-se que a IATF movimente o total de R$ 2,6 bilhões ao ano no Brasil (ver detalhes no quadro). Em especial, nos últimos dez anos, observou-se aumento de 100% no emprego da inseminação artificial, com impacto favorável no melhoramento genético dos rebanhos pela intensificação da utilização de sêmen de reprodutores com elevado mérito genético. Verificou-se, também, aumento da eficiência reprodutiva dos rebanhos, devido à concentração das gestações no início da Estação de Monta (EM) e ao aumento de 8% a 10% no número de fêmeas gestantes no fim da EM.

Esses incrementos foram verificados em estudos que compararam a IATF com o sistema tradicional de produção de bezerros por monta natural de touros, tanto em rebanhos de corte quanto de leite.

Gráfico: Revista do Conselho Federal de Medicina Veterinária

É PRECISO EXPANDIR AINDA MAIS

A baixa eficiência reprodutiva do rebanho nacional ainda é fator limitante para o crescimento sustentável da pecuária de corte. No corte, considerando o total de 78 milhões de fêmeas em idade reprodutiva, a produção de bezerros é de apenas 57,6 milhões ao ano (ANUALPEC, 2014). No leite, o país não é autossuficiente para abastecer o mercado interno. A baixa produtividade por vaca (menos de 2.000 L de leite por lactação) é indicativa de baixa seleção genética. Outro índice que reflete o baixo nível tecnológico do rebanho bovino brasileiro é a reduzida utilização da inseminação para seu melhoramento genético, sendo, do total de matrizes, apenas 12% inseminadas, seja de forma convencional, seja por tempo fixo.

Sendo assim, o sistema produtivo nacional exige o desenvolvimento de programas de inseminação artificial de fácil aplicação, que diminuam as dificuldades operacionais para sua execução, e de elevada eficiência reprodutiva e produtiva para bovinos de aptidão leiteira e para corte.

PIETRO SAMPAIO BARUSELLI
Médico veterinário CRMV-SP nº 5114
MSc, DSc, docente da Universidade de São Paulo.

Retirado da Revista do Conselho Federal de Medicina Veterinária

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