ICAP de julho de 2025: Margem no radar, custos em alta e ‘tarifaço’ no horizonte

“Mesmo com a safra recorde, os custos subiram em julho. A valorização da arroba deu fôlego ao pecuarista no ano de 2025, mas a cadeia respondeu pressionando preços de reposição e insumos.”

Em julho de 2025, o Índice de Custo Alimentar Ponta (ICAP) apresentou o mesmo comportamento nas duas principais regiões produtoras do país. No Centro-Oeste, o ICAP foi de R$ 14,58, representando um aumento de 2,17% em relação a junho, enquanto no Sudeste o índice alcançou R$ 12,68, com alta de 2,09% no mesmo comparativo. Mesmo diante de uma safra recorde em 2024/2025, o mercado reconhece que o pecuarista respira melhor neste ciclo, com margens mais robustas após um 2023 muito pressionado. O aumento no número de animais confinados em 2025 confirma o reaquecimento da engorda intensiva. Esse cenário cria um ambiente propício para a indústria de insumos e coprodutos segurar preços, mesmo com alta oferta.

Na outra ponta, o “tarifaço” de Trump — com tributos entre 50% e 76% sobre a carne brasileira — exerceu efeito imediato na cadeia: frigoríficos reduziram as escalas de abate, o que gerou uma leve queda na cotação da arroba do boi gordo. Um alerta importante para o pecuarista, que precisa seguir atento à sua margem de lucro.

A moratória da soja e o impacto ao produtor rural

Visão trimestral dos insumos por Região

Centro-Oeste

O aumento no valor do ICAP foi puxado pelo custo dos alimentos proteicos (+5,48%) e pelo aumento no consumo de MS pelos animais (+1,62%) em relação ao trimestre anterior (abril, maio e junho). Parte dessa alta foi contida pela queda nos custos dos alimentos energéticos (-11,06%) e volumosos (-16,36%) no mesmo comparativo. O custo por tonelada de matéria seca da dieta de terminação fechou em R$ 1.187,80. Os insumos com maior destaque foram o caroço de algodão, a casca de soja e a silagem de milho, que apresentaram aumentos de 14,37%, 12,67% e 10,37%, respectivamente.

Sudeste

No Sudeste, a alta nos custos dos insumos proteicos (+2,66%) e volumosos (+5,19%), somada ao aumento do consumo de MS pelos animais (+0,97%) em relação ao trimestre anterior, contribuiu para o crescimento do ICAP. O custo da dieta de terminação foi de R$ 1.202,19 por tonelada de matéria seca. Os insumos que mais impactaram as dietas na região, com aumentos significativos, foram: caroço de algodão (+9,08%) e DDG (+3,85%).

 Porteira pra Fora x Porteira pra Dentro

O comparativo com julho de 2024 revela um cenário ainda mais pressionado — especialmente no Sudeste. A alta acumulada foi de 13,72% na região e de 3,11% no Centro-Oeste. Mesmo em ano de safra recorde, as dietas na engorda intensiva estão mais caras que no ano anterior. A explicação vai além da oferta: está na dinâmica de mercado. A arroba valorizada deu fôlego ao pecuarista e, como resposta, a cadeia puxou seus preços para recompor margens. O mesmo aconteceu com a reposição, que subiu impulsionada pelo otimismo do confinador. Em vez de repassar ganhos para o produtor, o mercado absorveu parte da margem, reequilibrando as forças.

Julho foi um mês de muitas incertezas provocadas pelo tarifaço dos EUA sobre a carne brasileira que, no primeiro momento, diminuiu a demanda dos frigoríficos, reduziu a procura por reposição e pressionou a cotação da arroba para baixo. Apesar do período de tensão, o mercado já sinaliza recuperação da arroba, o encurtamento das escalas de abate em algumas praças e um mercado futuro mais otimista.

Enquanto o mercado se adapta à nova dinâmica internacional, o pecuarista precisa manter o foco na eficiência produtiva para preservar a lucratividade. Com base no ICAP de julho, é possível estimar o custo da arroba produzida e prever a margem do confinamento. A estimativa considera os valores médios observados nos clientes da Ponta Agro, públicos no Report de Confinamento: dias de cocho, arrobas produzidas e percentual da nutrição no custo total. Os custos estimados são de R$ 213,96 e R$ 201,28 por arroba produzida para Centro-Oeste e Sudeste, respectivamente — patamares que permitem lucros superiores a R$ 700,00 por cabeça* na região Sudeste e R$ 570,00 por cabeça* no Centro-Oeste, considerando apenas o preço de balcão.

Para ampliar as margens, além de melhorar a eficiência produtiva, o pecuarista deve buscar bonificações junto aos frigoríficos. Atualmente, o diferencial de preço do Boi China em relação à cotação balcão varia entre R$ 5,00 e R$ 7,50, dependendo da região produtora.

*Estimativa de lucratividade realizada com cotação de arroba balcão, sem a adição de bonificações por rastreabilidade, padrão de qualidade e protocolos de mercado.

VEJA TAMBÉM:

ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

Quer ficar por dentro do agronegócio brasileiro e receber as principais notícias do setor em primeira mão? Para isso é só entrar em nosso grupo do WhatsApp (clique aqui) ou Telegram (clique aqui). Você também pode assinar nosso feed pelo Google Notícias

Não é permitida a cópia integral do conteúdo acima. A reprodução parcial é autorizada apenas na forma de citação e com link para o conteúdo na íntegra. Plágio é crime de acordo com a Lei 9610/98.

Siga o Compre Rural no Google News e acompanhe nossos destaques.
LEIA TAMBÉM