ILP, ILPF e IPF: o que são as siglas que revolucionaram a pecuária brasileira?

Essas tecnologias não são apenas modismos ou experimentações acadêmicas, elas representam modelos consolidados de produção sustentável, que conciliam ganhos econômicos, sociais e ambientais

Durante décadas, a pecuária brasileira foi sinônimo de extensividade. Grandes áreas, baixa produtividade e degradação do solo eram características recorrentes em muitas regiões do país. Paralelamente, a demanda global por alimentos aumentava, exigindo uma produção mais eficiente e, sobretudo, mais sustentável. Nesse contexto, emergiram três siglas que mudaram o rumo da agropecuária nacional: ILP, ILPF e IPF.

Essas tecnologias não são apenas modismos ou experimentações acadêmicas, elas representam modelos consolidados de produção sustentável, que conciliam ganhos econômicos, sociais e ambientais. Sua adoção em escala tem colocado o Brasil em posição de liderança global em sistemas integrados.

O que significam as siglas?

ILP – Integração Lavoura-Pecuária

A ILP é a integração planejada entre atividades agrícolas e pecuárias numa mesma área, em cultivo sucessivo ou consorciado. O objetivo é otimizar o uso do solo ao longo do ano, promovendo rotação de culturas, recuperação de pastagens e diversificação da produção. O gado se beneficia de pastagens renovadas e mais nutritivas, enquanto os grãos aproveitam a fertilidade residual.

ILPF – Integração Lavoura-Pecuária-Floresta

É a evolução da ILP, com a inserção do componente florestal no sistema. Árvores plantadas de forma estratégica fornecem sombra, abrigo e conforto térmico aos animais, melhorando o desempenho zootécnico. Além disso, a biomassa florestal contribui para o sequestro de carbono e diversifica a renda com a produção de madeira.

IPF – Integração Pecuária-Floresta

Aplicada especialmente em áreas onde a lavoura não é viável, a IPF integra a criação animal com espécies florestais, promovendo bem-estar animal, conservação do solo e maior eficiência no uso da terra. É ideal para regiões mais acidentadas ou com limitações edafoclimáticas à agricultura intensiva.

Como os sistemas integrados funcionam na prática

A base do sucesso dos sistemas integrados está no planejamento detalhado e na complementaridade das atividades. As principais práticas envolvem:

  • Rotação e consorciação de culturas, como milho com braquiária, que promovem equilíbrio no solo e controle de plantas daninhas.
  • Recuperação de pastagens degradadas, com correção da fertilidade, adubação equilibrada e espécies forrageiras adaptadas.
  • Manejo de pastejo intensivo e rotacionado, com ganho de peso superior por hectare.
  • Tecnologia de ponta, como plantio direto, mapeamento de solos, monitoramento climático e mecanização adaptada à realidade da propriedade.

O resultado é um sistema produtivo mais resiliente, lucrativo e ambientalmente eficiente.

Foto: Divulgação

Os benefícios são reais e mensuráveis

A adoção da ILP, ILPF e IPF promove uma verdadeira sinergia entre produção, conservação e rentabilidade. Estudos da Embrapa demonstram ganhos expressivos:

  • Aumento da produtividade animal em até 3 vezes por hectare, comparado a sistemas convencionais.
  • Redução de até 30% nas emissões de metano entérico por quilo de carne produzida.
  • Recuperação de mais de 45 milhões de hectares de pastagens degradadas no Brasil desde 2010 com base em sistemas integrados.
  • Propriedades que adotam ILPF registram incremento médio de 58% na renda bruta anual, segundo levantamento do Plano ABC+.

Além disso, os sistemas integrados promovem:

  • Melhor uso da água e redução da erosão.
  • Sequestro de carbono: até 15 toneladas de CO₂ equivalente por hectare ao ano, em áreas com componente florestal.
  • Diversificação da renda com agricultura, pecuária e floresta em uma mesma área.

A adoção em larga escala e os exemplos de sucesso

Regiões como o Cerrado brasileiro, especialmente em estados como Mato Grosso, Goiás e Tocantins, lideram a adoção dos sistemas integrados. Grandes grupos agropecuários e também pequenos e médios produtores estão transformando áreas de baixa produtividade em sistemas altamente rentáveis.

O Plano ABC+ (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono), que tem como meta expandir sistemas ILPF para mais de 15 milhões de hectares até 2030, é um dos motores dessa revolução. O crédito rural específico, a assistência técnica da Embrapa e os programas de capacitação têm facilitado o acesso às tecnologias, inclusive para agricultores familiares.

Barreiras e mitos ainda persistem na pecuária

Apesar dos avanços, ainda há desafios a enfrentar. Muitos produtores acreditam que os custos iniciais são proibitivos — embora estudos mostrem que o retorno sobre o investimento ocorre, em média, entre 2 e 4 anos. Outros têm receio de adotar um sistema mais complexo de manejo, exigindo mudanças culturais e treinamento técnico.

O futuro da pecuária passa pela integração

À medida que o mercado consumidor, tanto interno quanto externo, valoriza práticas sustentáveis e rastreáveis, os sistemas integrados se consolidam como a resposta ideal às exigências contemporâneas da agropecuária. Além disso, são fundamentais para o cumprimento de metas climáticas e fortalecimento da imagem do Brasil como potência agroambiental.

Tecnologias emergentes, como agricultura digital, sensores de pastagem e drones de monitoramento, tendem a aumentar a eficiência dos sistemas ILP, ILPF e IPF, tornando-os ainda mais acessíveis e produtivos.

Escrito por Compre Rural

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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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