Importação de trigo da Rússia é facilitada pelo governo do Brasil

Executivos da indústria de proteína animal acreditam que medida pode ajudar a liberar comércio bilateral de carne.

Brasil facilitou a importação do trigo da Rússia. O Ministério da Agricultura publicou, nesta quarta- feira (13/12), uma Instrução Normativa mudando um regulamento em vigor desde 2009. A partir de agora, fica permitida a entrada do cereal mesmo atingido por pragas, desde que a situação seja devidamente informada às autoridades brasileiras e sejam adotadas medidas que reduzam o risco de disseminação.

“A Convenção Internacional de Proteção dos Vegetais (CIPP na sigla em inglês) orienta os países que adotem medidas proporcionais para viabilizar o comércio. Fizemos análise de risco e de viabilidade do uso dessa estratégia de processamento das cargas para atender às normas da CIPP”, garante o secretário de Defesa Agropecuária, Luís Rangel, em nota.

Segundo Rangel, as pragas representariam perigo apenas se o trigo fosse ser utilizado como semente. A promessa é de vigilância ostensiva sobre as importações e coleta de amostras de todas as cargas do cereal proveniente do mercado russo. Se novos fatores de risco aparecerem, a norma será reavaliada, diz ele, de acordo com o divulgado pela pasta.

Ainda conforme o Ministério, as importações serão autorizadas apenas para moinhos do norte e nordeste do Brasil situados o mais próximo possível dos portos. A lista de indústrias e terminais portuários autorizados será divulgada no Diário Oficial da União. “O objetivo é preservar áreas de produção do cereal, localizadas no Sul do país, e evitar desvios das cargas”, diz a nota oficial.

A abertura do mercado brasileiro para o trigo era uma das principais reivindicações do governo da Rússia nas negociações bilaterais de comércio. A publicação da medida viabilizando esse comércio pode ter um efeito indireto sobre outro setor importante no comércio bilateral: o de carnes, em que o Brasil tem nos russos um dos principais clientes internacionais.

No final de novembro, a Rússia anunciou uma restrição temporária às carnes bovina e suína do Brasil. A mudança na norma de importação de trigo é vista por representantes da indústria de carnes como sinal positivo para destravar o comércio bilateral no setor.

“Tem tudo para voltar. O governo considera ajustado para a reabertura”, disse, nesta quarta-feira (13/12), Francisco Turra, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), da indústria de aves e suínos. Em encontro com jornalistas, em São Paulo (SP), Turra disse ter conversado com o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, sobre o assunto e recebido posicionamento favorável.

De janeiro a novembro deste ano, a Rússia foi o principal comprador de carne suína do Brasil. Respondeu por 39,5% das exportações nacionais do produto. As 250,9 mil toneladas adquiridas nesse período representaram um aumento de 8% em relação ao acumulado dos onze primeiros meses de 2016, quando o volume foi de 231,3 mil toneladas.

“Governo brasileiro garante que monitoramento de pragas do trigo russo será ostensivo e e feito com amostras de todos os carregamentos “

Para a ABPA, a liberação só depende de uma resposta das autoridades russas às informações prestadas pelo governo brasileiro. De qualquer forma, uma restrição neste momento deve ter pouco efeito prático sobre o desempenho da carne suína no mercado externo. As exportações para a Rússia, costuma ser menores nessa época, ao mesmo tempo em que o consumo interno é mais aquecido em função das festas de fim de ano.

O diretor de mercado da Associação, Ricardo Santin, lembrou que as cotas de importação do país europeu serão distribuídas em janeiro. Desta forma, havendo uma reversão das restrições ainda antes da virada do ano, a expectativa é de retomar os embarques em fevereiro, como ocorre normalmente.

Por RAPHAEL SALOMÃO, DE SÃO PAULO (SP)

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