
Acidente no sul do RS evidencia os riscos em silos e destaca a necessidade urgente de EPIs, ventilação adequada e capacitação técnica contínua
Na última sexta-feira (11), um incêndio de grandes proporções atingiu um silo de soja localizado próximo à BR-116, nos arredores de Arroio Grande (RS), a cerca de cinco quilômetros do centro da cidade. Mesmo com a gravidade do episódio, não houve vítimas. No dia seguinte, as chamas ainda persistiam, consumindo a estrutura, que apresentava risco iminente de colapso. Por precaução, toda a área foi isolada e classificada como de alto risco pelas equipes do Corpo de Bombeiros.
O controle do fogo só começou a avançar quando os brigadistas conseguiram redirecionar os equipamentos de combate para um segundo silo, permitindo acesso direto ao foco das chamas. A complexidade da operação exigiu a remoção completa da carga armazenada — um processo delicado e demorado, que pode se estender por vários dias.
Armazéns: estruturas vitais, mas perigosas
Incidentes como esse expõem vulnerabilidades muitas vezes negligenciadas no setor agroindustrial. Silos e armazéns são essenciais para a estocagem de grãos, mas escondem armadilhas silenciosas. Entre elas, o acúmulo de poeira de grãos — um material altamente inflamável. Em determinadas condições, essa poeira suspensa no ar, combinada com oxigênio, confinamento e uma fonte de ignição, pode gerar explosões devastadoras.

Mesmo uma fina camada de poeira depositada em superfícies já representa risco de incêndio. Quando em suspensão, os danos podem se multiplicar em cadeia: uma primeira explosão levanta ainda mais poeira, o que alimenta novas detonações. Isso explica por que um incêndio aparentemente controlado pode se transformar em uma catástrofe industrial em questão de segundos.
Além da poeira, outros fatores agravam o cenário de risco: instalações elétricas inadequadas, falta de ventilação, sobreaquecimento de rolamentos, má conservação de equipamentos e ausência de protocolos de segurança. A combinação desses elementos cria um ambiente propício para acidentes de grandes proporções.
Segurança começa pela prevenção
Medidas preventivas são a única forma eficaz de mitigar os perigos associados ao armazenamento de grãos. Boas práticas incluem:
- Ventilação forçada, para dispersar a poeira e reduzir a temperatura;
- Limpeza constante, evitando o acúmulo de resíduos inflamáveis;
- Monitoramento de calor, para detectar pontos de superaquecimento;
- Sistemas elétricos certificados, adequados a áreas classificadas;
- Aterramento eficaz e manutenção periódica.
Além da infraestrutura, a capacitação dos trabalhadores é um pilar essencial da prevenção.
Treinamento e cultura de segurança no agronegócio
No Brasil, instituições como o Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) têm atuado de forma decisiva na formação de profissionais capacitados para lidar com ambientes de alto risco, como os silos. A entidade oferece treinamentos específicos, com ênfase no uso correto de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e nas rotinas de segurança operacional.
De acordo com especialistas do setor, os EPIs mais indicados para atividades em silos incluem:
- Capacete com jugular;
- Óculos de proteção;
- Protetores auriculares;
- Luvas e botas antiderrapantes;
- Respiradores do tipo PFF2 ou PFF3.
Em casos de entrada em espaços confinados — ambientes onde a circulação de ar é restrita e o risco é elevado — são exigidos ainda:
- Cintos de segurança tipo paraquedista com talabarte;
- Dispositivos de ancoragem e linhas de vida;
- Detectores de gases;
- Equipamentos de resgate e iluminação à prova de explosão.
Porém, mesmo com acesso aos EPIs, a resistência ao seu uso ainda é comum. Desconforto, pressa e a falsa sensação de invulnerabilidade são barreiras recorrentes. Para mudar esse cenário, o Senar investe em treinamentos práticos e realistas, com simulações, vídeos de acidentes reais e até participação de familiares — estratégia que humaniza a segurança e fortalece a cultura da prevenção.
Estrutura adequada também salva vidas
Além dos EPIs, há exigências técnicas que não podem ser ignoradas, como o Sistema de Permissão de Entrada (PT) — documento que autoriza atividades em espaços confinados apenas após a checagem de uma série de requisitos, como análise de gases, plano de resgate e presença de socorristas treinados.
Todos os equipamentos utilizados devem possuir certificação do Inmetro e seguir rigorosamente as normas regulamentadoras, como a NR-31.13, que trata do trabalho em espaços confinados, e a NR-20, voltada para ambientes com presença de inflamáveis.
Os principais riscos enfrentados pelos trabalhadores em silos incluem:
- Engolfamento (soterramento por grãos);
- Deficiência de oxigênio ou presença de gases tóxicos;
- Explosões de poeira;
- Quedas de altura.
Cada um desses riscos exige protocolos específicos e investimento em infraestrutura, treinamento e fiscalização.
Um alerta que não pode ser ignorado
O incêndio registrado em Arroio Grande termina sem vítimas, mas não sem lições. O episódio é mais um lembrete de que, no agronegócio moderno, a produtividade precisa andar lado a lado com a segurança. Proteger vidas é, acima de tudo, proteger o futuro da produção.
Escrito por Compre Rural
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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