Incêndios no Pantanal se antecipam e surpreendem brigadas ainda em contratação

O período de seca está resultando em um aumento significativo na quantidade de focos de incêndio.

Em 2024, os incêndios no Pantanal começaram antes do esperado, surpreendendo algumas equipes de combate ainda em fase de contratação. As brigadas temporárias do Ministério do Meio Ambiente iniciam suas atividades em junho, enfrentando o período mais crítico de incêndios entre agosto e outubro. No entanto, a estação seca já está causando um aumento significativo no número de focos de incêndio.

Gustavo Figueroa, diretor da SOS Pantanal, expressou à DW sua preocupação com o cenário atual, que pode ser ainda mais grave do que em 2020. Em resposta a essa situação, uma portaria do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) permitiu que o centro especializado Prevfogo contratasse brigadas federais. Até o momento, aproximadamente 100 brigadistas foram contratados, com a previsão de mais contratações ao longo do ano.

Atuação no Corredor de Biodiversidade Recentemente, Figueroa participou de um combate às chamas junto com seis membros da brigada permanente do Instituto Homem Pantaneiro (IHP). Eles atuam em um corredor de biodiversidade estratégico, equivalente a 300 mil campos de futebol, localizado na divisa entre Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e a fronteira com a Bolívia. Essa área é habitat de diversas espécies, como jacarés, onças-pintadas e antas.

Figueroa ressaltou a dificuldade da missão: “A rotina é extenuante, saímos de madrugada e enfrentamos duas horas de percurso até a linha de fogo. É muito desgastante.” O município de Corumbá, onde o IHP está sediado, registrou 32% dos focos de incêndio do país nas duas primeiras semanas de junho.

Após os incêndios devastadores de 2020, que consumiram 30% do Pantanal brasileiro e causaram a morte massiva de vida selvagem, o IHP criou uma brigada permanente. Atualmente, além de combater incêndios, essa brigada realiza ações educativas e de manutenção junto às comunidades, especialmente perto de escolas rurais.

Desafios Climáticos e Econômicos

Foto: Divulgação

O início antecipado da temporada de incêndios agrava a situação de um Pantanal ainda em processo de recuperação. O último período chuvoso trouxe apenas 60% da precipitação esperada, deixando a vegetação seca e vulnerável aos incêndios. Danilo Bandini, pesquisador da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), afirmou que a insuficiência de inundações do rio Paraguai resultou em uma grande quantidade de biomassa suscetível ao fogo.

Pesquisas indicam que 95% dos incêndios no Pantanal são causados por ações humanas, seja de forma acidental ou intencional. Além disso, a recuperação das espécies animais após os incêndios é lenta e complexa. Grasiela Porfírio, do Instituto Homem Pantaneiro (IHP), observou que seis de oito espécies de mamíferos estudadas modificaram seu uso do habitat após os incêndios.

Necessidade de Apoio e Prevenção

Gustavo Figueroa, da SOS Pantanal, enfatiza a importância do suporte aéreo para facilitar o deslocamento dos brigadistas em áreas de difícil acesso. Ele destaca que uma resposta rápida é fundamental para controlar os incêndios antes que se tornem incontroláveis.

Danilo Bandini sugere a criação de mais brigadas permanentes para um trabalho preventivo contínuo, incluindo o manejo integrado do fogo e a educação ambiental. A falta de dados históricos limita a análise da influência das mudanças climáticas, mas eventos como a seca estão se tornando mais intensos.

Colaboração Internacional

Mais de 30 organizações da sociedade civil sugeriram que os governos busquem apoio internacional para enfrentar os incêndios. Steve Trent, presidente da Environmental Justice Foundation (EJF), manifestou a disposição de colaborar com as autoridades brasileiras, ressaltando a importância de agir para evitar uma tragédia ainda maior.

Queimas Recorde em 2023

Foto: Divulgação

Com a seca extrema impulsionada pelo forte El Niño de 2023, os incêndios florestais bateram recordes no Pantanal. Nos primeiros 20 dias de novembro, o bioma registrou 3.957 focos de calor, cerca de nove vezes maior que a média para o mês nos últimos 25 anos, que era de 442 focos de calor. Os dados foram fornecidos pelo Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). O fogo foi controlado no início daquela semana.

Historicamente, os incêndios florestais no Pantanal se concentravam entre os meses de agosto e outubro, com um pico em setembro. No entanto, em 2023, o mês de novembro teve mais focos de calor do que qualquer outro mês, justamente no momento em que se esperava uma redução no número de incêndios.

Um aspecto que chamou a atenção é que, até setembro de 2023, quando foram registrados 373 focos, o número de incêndios florestais estava bem abaixo das médias históricas para todos os meses. Em outubro, com o início da estiagem extrema, houve um salto para 1.157 focos, um número muito próximo da média histórica para o mês (1.138 focos de calor).

Em novembro, os incêndios explodiram. Só na última sexta-feira, dia 17 de novembro, foram registrados 782 focos, número mais de três vezes maior que os focos registrados em todo o mês de novembro de 2022 (201 focos). Com cerca de 4 mil incêndios, os primeiros 20 dias de novembro já contabilizavam mais de dois terços dos 5.031 registrados em 2023 no bioma.

Até aquele momento, o fogo consumiu mais de 1,2 milhão de hectares do bioma em novembro, o triplo do registrado em 2022 inteiro, de acordo com dados do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Os três municípios mais atingidos pelo fogo entre 1 e 20 de novembro foram Poconé (MT), Corumbá (MS) e Barão de Melgaço (MT), somando mais de 80% de todos os focos. O fogo avançou pelo Parque Estadual do Pantanal do Rio Negro (MS), que teve 109 focos de incêndio nas duas primeiras semanas de novembro, e pelo Parque Estadual Encontro das Águas (MT), que teve 90 focos.

Porém, o pesquisador Walfrido Tomás, da Embrapa Pantanal, divulgou em redes sociais que os dois maiores incêndios de novembro não tiveram início nas áreas protegidas, mas em áreas privadas. Segundo ele, imagens da NASA mostraram que o fogo começou fora dos parques do Pantanal do Rio Negro e Encontro das Águas, nos dias 1 de outubro e 4 de novembro, respectivamente. A informação foi confirmada pelo Comitê do Fogo de MS.

Grandes incêndios foram registrados às margens da rodovia Transpantaneira, a principal via de acesso ao bioma em Mato Grosso, que liga Poconé, a 104 km de Cuiabá, a Porto Jofre, na divisa com Mato Grosso do Sul. Os incêndios no Pantanal fizeram os governos de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul decretarem situação de emergência ambiental. O presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Rodrigo Agostinho, foi ao Mato Grosso. Na quarta-feira, 15 de novembro, acompanhado do governador em exercício, Otaviano Pivetta, ele sobrevoou as áreas atingidas pelos incêndios e esteve em Poconé, uma das áreas mais atingidas.

Esses incêndios recordes de 2023 ressaltaram a importância das iniciativas de combate e prevenção, como as brigadas comunitárias estabelecidas pelo WWF-Brasil desde 2020, e indicaram a necessidade urgente de políticas ambientais robustas e colaboração internacional para enfrentar os desafios contínuos das mudanças climáticas e proteger o Pantanal.

Escrito por Compre Rural

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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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